A Polícia Civil acredita que as oito prisões realizadas na manhã desta quinta-feira (20), em cumprimento a mandados da segunda fase da Operação Extorsor — que mira um esquema de cobrança violenta por agiotas — tem conexão com pelo menos uma facção criminosa atuante em diversas cidades da Região Metropolitana e do Vale do Sinos. Segundo a investigação, o grupo criminoso autorizava a abordagem dos agiotas, que ameaçavam, intimidavam e usavam de violência para receber os pagamentos dos supostos devedores.
Foram quatro prisões em Canoas, duas em Porto Alegre e uma em Novo Hamburgo. Um preso recebeu a notícia da medida judicial quando já estava detido no Núcleo de Gestão Estratégica do Sistema Prisional (Nugesp), na Capital. Com cerca de cem agentes em campo, as ações começaram ainda na madrugada.
Conforme o delegado titular da 1ª Delegacia de Polícia de Canoas, Marco Guns, o esquema que envolve a oferta de empréstimos em dinheiro vivo para pessoas com restrição de crédito. De acordo com a investigação, o crime era articulado por "células extorsionárias" (pequenos grupos e até duplas), mas seria orquestrado por, pelo menos, uma facção criminosa com forte atuação no Estado.
— Um dos nossos objetivos para o prosseguimento das investigações é fortalecer e detalhar a conexão entre estas células com a facção que, em nosso entendimento, dava a autorização para o uso da violência que era praticada por estes agiotas na hora de cobrar as alegadas dívidas— aponta o delegado.
Guns afirma que tomará os primeiros depoimentos ainda nesta quinta-feira. Os presos permanecerão à disposição das autoridades durante o período de 30 dias. Além das informações decorrentes de interrogatórios, o delegado espera coletar provas através de perícias que serão realizadas, sob caráter de urgência, em celulares, computador e cadernos com anotações apreendidos nas buscas efetuadas.
Em abril, a polícia havia desencadeado a primeira fase da operação, prendendo cinco pessoas, das quais três foram indiciadas por extorsão. As demais prosseguem sendo investigadas. Nesta segunda fase, também foram apreendidos veículos, uma pistola 9mm e cerca de R$ 10 mil em dinheiro.
Agiotas aplicam táticas de máfia
As vítimas eram captadas no boca a boca, por entrega de panfletos e até em postagens fraudulentas em redes sociais. Os principais articuladores do esquema atuariam no bairro Mathias Velho, em Canoas, onde a maior parte dos mandados foi cumprida.
Após tomar o crédito emprestado, as vítimas começavam a receber abordagens ameaçadoras. Os juros iam sendo ampliados ao ponto de tornarem o débito impagável e fazendo com que os "devedores" jamais conseguissem encerrar o compromisso com os agiotas, ao estilo de máfia.
Em alguns casos, as ameaças haviam evoluído para agressão. A polícia teve acesso a imagens de câmeras de videomonitoramento que exibem um dos "cobradores" indo até a frente da casa de uma vítima e disparando diversos tiros contra a parede frontal do imóvel. Este indivíduo é um dos detidos na operação desta quinta.
— É fundamental que as vítimas destas células criminosas procurem a polícia, mesmo de forma anônima, para trazerem seus relatos e também para que possam desvincular-se deste tipo de situação. E fica o conselho para que pessoas, mesmo em necessidade, não acreditem na oferta facilitada de dinheiro, pois podem cair neste tipo de violência — alerta.
Informações podem ser obtidas com a 1ª Delegacia de Polícia de Canoas pelo telefone (51) 3462-7450.