Na manhã de 2 de março de 2017, dois homens passaram pela recepção do Hospital Municipal de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. Às 8h24min, abriram a porta do quarto 28 e dispararam repetidas vezes na direção de um paciente. Wellington Jean Britto Bandeira, 20 anos, que já tinha sido alvo de outra tentativa de homicídio e estava prestes a receber alta, morreu no local. O Tribunal de Justiça decidiu que somente um dos oito apontados como suspeito de envolvimento na execução deve ir a júri.
O réu que deve ir a júri é Renato Magaiver de Oliveira Alves, 25 anos, apontado como um dos criminosos que invadiu o quarto da vítima e desferiu os disparos. O preso, que está detido de forma provisória, nega que tenha cometido o crime. Outros sete investigados pela execução foram impronunciados. Ou seja, a Justiça entendeu que não havia indícios suficientes do envolvimento deles para que fossem encaminhados para julgamento. Desses, quatro tinham sido apontados como mandantes, dois como participantes direto do homicídio, indo até o hospital, e um como o responsável por passar informações sobre a localização da vítima.
Parte da execução de Wellington foi flagrada pelas câmeras de segurança do hospital. No vídeo, é possível ver dois homens de boné andando na direção do quarto da vítima, e depois deixando o local pela porta da frente. Testemunhas ouvidas durante o processo, relataram que eles abriram a porta do quarto e começaram a atirar na direção da vítima. Segundo a acusação, um dos atiradores seria Renato. Quando foi ouvido sobre o caso, ele negou ser a pessoa que aparece nas imagens.
Durante o período em que esteve internado, segundo relatos das testemunhas, a vítima afirmou que tinha medo de ser assassinada. Wellington havia sido alvo de disparos de arma de fogo no dia 27 de fevereiro, e, em razão disso, estava hospitalizado. O crime teve como motivação disputas entre facções criminosas. Conforme a acusação, e execução teria sido cometida porque os autores acreditavam que a vítima tinha envolvimento na morte de um homem apontado como uma das lideranças de uma facção com berço no bairro Bom Jesus, na zona norte de Porto Alegre.
André Luis Muniz Gonçalves, o Gordo André, foi assassinado a tiros em 1º de fevereiro de 2017 em São Leopoldo, no Vale do Sinos – cerca de um mês antes do crime no hospital. Ele foi executado no bairro Campina, com disparos de pistola. Essa morte, segundo a denúncia, teria levado à tentativa de homicídio sofrida por Wellington, e, dias depois, ao ataque a tiros que resultou em sua morte dentro hospital.
Decisões no Judiciário
Oito suspeitos de integrarem o mesmo grupo criminoso foram denunciados e se tornaram réus pelo homicídio. Em relação ao crime cometido no hospital, o homicídio foi considerado qualificado em razão da motivação, considerada motivo torpe. A acusação apontou ainda que o crime resultou em perigo comum, já que colocou em risco funcionários e outros pacientes ou familiares que estavam no local, e que houve recurso que dificultou a defesa da vítima, que estava desarmada e enferma.
No entanto, no fim de agosto do ano passado, a juíza Ângela Roberta Dumerque, da Vara do Júri de Novo Hamburgo, decidiu que cinco deles deveriam ir a julgamento popular. Em relação a outros três, dois apontados como mandantes e um como responsável por passar informações sobre a vítima, entendeu que não havia provas suficientes para levá-los a júri.
O Ministério Público recorreu da decisão, buscando que os três fossem a julgamento. As defesas dos outros cinco réus também ingressaram com recurso. No último dia 22 de maio, houve decisão da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça. A Justiça negou o pedido da acusação e entendeu que mais quatro réus não deveriam ir a júri, também por "insuficiência de provas". Em razão disso, restou somente o réu Renato, que teve a prisão mantida e responde pelo homicídio – ele não deve ir mais a júri pelo crime de organização criminosa.
Foragido preso
Na semana passada, um dos investigados por este crime foi preso em São Leopoldo, no Vale do Sinos. Segundo a Polícia Civil, o homem de 35 anos constava como foragido. O réu, atendido pela Defensoria Pública do Estado, é um dos cinco que foi despronunciado pela última decisão do Tribunal de Justiça. Ele foi preso, segundo o Judiciário, em razão do descumprimento de uma decisão de liberdade condicional, sem relação com o caso do hospital.
O que diz Renato Magaiver de Oliveira Alves
Em depoimento à Justiça, admitiu que conhecia Wellington, mas negou conhecer os réus. Afirmou que na data do crime estava em Porto Alegre, e negou ser a pessoa que aparece no vídeo da execução e disse que não tem envolvimento com a facção apontada no processo. A Defensoria Pública do Estado, que representa o réu, informou que só se manifestará nos autos do processo.
Até às 23h59min de hoje acusação e defesa ainda podem ingressar com outro recurso, segundo o Tribunal de Justiça. Apenas com o trânsito em julgado pode-se afirmar que somente o Renato será submetido a julgamento pelo plenário do júri.