Kendra Camboim Herrera, 36 anos, imagina como estaria hoje a filha Eduarda Herrera de Mello. A menina teria completado 14 anos no último dia 30 de janeiro, mas isso não chegou a acontecer. Na noite de 21 de outubro de 2018, a criança de nove anos brincava na frente de casa, no bairro Rubem Berta, na zona norte de Porto Alegre, quando desapareceu. Foi encontrada morta na manhã seguinte, no Rio Gravataí. Até hoje, a mãe espera por uma resposta sobre quem assassinou a garota. O inquérito, arquivado sem nenhum indiciado, depende de nova prova para ser reaberto.
No dia em que Duda teria completado 14 anos, Kendra fez uma postagem nas redes sociais. É ali que muitas vezes desabafa sobre a perda. Junto a uma série de fotos, recordou as últimas memórias de uma menina linda, de cachinhos dourados e sorriso meigo. Tenta imaginar do que a filha, arrancada da família de forma violenta, iria gostar, se isso não tivesse acontecido. Como seriam as festinhas de aniversário.
— Vejo minha sobrinha, que é da mesma idade dela, e fico pensando em como ela iria se vestir, como seria, o que ela ia pensar. Fui numa festa de 15 anos e fiquei o chorando a festa inteira. Não tem como não passar isso na cabeça. Podia ter uma pré-adolescente comigo e não sei. Arrancaram esses momentos da gente. Não conheci a vida da minha filha por completo — desabafa a mãe.
Kendra tatuou no braço esquerdo o rosto da filha, duas semanas após sepultá-la. Duda estudava a poucos minutos de casa, na Escola Estadual de Ensino Fundamental Lídia Moschetti. A menina estava na 4ª série do Ensino Fundamental e sonhava que um dia seria médica. No colégio, era uma aluna meiga, que se dava bem com todos. A casa da família naquele tempo vivia lotada de crianças. A perda afetou a todos. A mãe diz que o irmão de Duda, atualmente com 11 anos, ficou traumatizado e ainda tem receio de sair de casa.
— Se convidam ele para qualquer lugar, ele não vai. Tem medo. Se qualquer uma das tias convida, alguém. Só sai comigo e com o pai dele. Tem muito medo — diz a cozinheira, que também é mãe de uma menina, atualmente com quatro anos, que Duda não chegou a conhecer.
Sobre o desfecho do caso, após quatro anos e sete meses, a mãe não guarda mais esperanças. Na época, a família chegou a organizar protestos pedindo uma solução para o crime. Hoje, ela se vê diante de uma situação que temia já naquela período: conviver com a certeza de que essa resposta nunca virá.
— Não, não tenho mais esperança nenhuma. Todo esse tempo se passou, e eu não sei nada. Quem fez isso pode passar na nossa frente e a gente nem imagina. As únicas pessoas que vão falar para o resto da vida nela somos nós. Só quem viveu essa história sabe como é, e como isso pesa na nossa vida todos os dias. Algumas pessoas me perguntam, às vezes, por que estou sempre com essa cara (semblante triste). Não tenho mais motivo para ficar rindo, que nem eu tinha antes. O brilho da minha vida acabou — lamenta.
Inquérito arquivado
A investigação sobre o assassinato de Eduarda foi remetida ao Judiciário em 3 de maio do ano passado, sem indiciamento, segundo a Polícia Civil. Ou seja, ninguém foi apontado como autor do crime. Depois disso, o documento passou por análise do Ministério Público e do Judiciário. Desde fevereiro deste ano, consta como arquivado. Apesar disso, segundo a delegada Sabrina Dóris Teixeira, responsável por coordenar a investigação à frente da 2ª Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) da Divisão Especial da Criança e do Adolescente (Deca), o inquérito poderá ser reaberto, caso seja encontrada nova prova.
— Em virtude do tempo, o Ministério Público solicitou que fosse remetido o inquérito. Mas ainda temos expectativa de que possam surgir novos elementos no decorrer desse caso e o inquérito seja reaberto — afirma.
Os documentos reunidos neste período, com perícias, depoimentos e relatórios, somam cerca de 1,5 mil páginas. Segundo a delegada, o caso foi tratado como prioridade e uma equipe foi destacada para apurar o crime. Sobre a investigação realizada, afirma que prefere manter em sigilo. O caso está arquivado na 2ª Vara do Júri de Porto Alegre.
O caso
Na noite de 21 de outubro de 2018, Duda andava de roller na frente de casa, na Rua Inácio Kohler, com o irmão e uma amiga — ambos de seis anos, na época — quando foi raptada. A família estava à luz de velas naquela noite. Por isso, um eletricista foi até a residência e Kendra entrou para auxiliar. Quando voltou, minutos depois, não encontrou mais a filha. Descobriu que a menina havia embarcado num veículo vermelho que havia parado nas proximidades. A suspeita é de que o condutor tenha levado Duda até o rio naquela noite e assassinado a criança. Duda foi encontrada morta às margens da RS-118, em Alvorada, na manhã seguinte. A perícia apontou que ela morreu por afogamento.