Investigação de 11 meses do Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc) teve desdobramento nesta segunda-feira (29), quando foi realizada uma operação contra 41 suspeitos de aplicar o golpe dos nudes. Uma entre as cem ordens judiciais obtidas autoriza a Polícia Civil a usar uma Mercedes, avaliada em R$ 160 mil, apreendida com um suspeito, apontado como líder da quadrilha, em junho de 2022, no começo da apuração.
Na ocasião, o homem foi preso em flagrante, em Cachoeirinha, na Região Metropolitana, com uma pistola nove milímetros. Ele, que não teve o nome divulgado, segue detido no sistema prisional.
— Nosso objetivo é usar este carro de luxo não só em operações da 2ª delegacia, da qual sou titular, mas também em ações de outras delegacia do Denarc no combate a extorsões, lavagem de dinheiro e, claro, ao tráfico de armas e drogas — explica o delegado Rafael Liedtke, responsável pela apuração.
A Mercedes que pertencia ao grupo investigado não deve receber logotipo nem ser pintada de branco e preto, as cores da Polícia Civil, mas será usada como viatura discreta.
O grupo investigado pela polícia por envolvimento com golpe dos nudes teria migrado da venda de drogas para o estelionato. Eles teriam feito 80 vítimas que, segundo a apuração, perderam mais de R$ 450 mil em extorsões em mais de 10 Estados.
A polícia afirma que eles usaram imagens de uma adolescente de 17 anos de Sapiranga, no Vale do Sinos, que teria vendido um pacote com fotos e vídeos do seu corpo para a facção para ser enviado a homens que seriam vítimas do golpe.
O delegado diz que, mesmo de dentro da cadeia, o líder da quadrilha preso no ano passado conseguiu estruturar o grupo. A partir das zonas leste e sul de Capital, além de ramificações em Santa Catarina, os golpistas teriam aliciado adolescentes, como a de Sapiranga, e procurar vítimas em sites que permitem consultas cadastrais de pessoas.
Quando foi detido, o líder do esquema afirmou aos policiais que conseguiu juntar dinheiro para adquirir a Mercedes porque trabalhou como cantineiro nas outras vezes em que esteve detido em cadeias. Em razão disso o Denarc chamou a ofensiva desta segunda de Operação Cantina.
Lavagem de dinheiro
Segundo a investigação, o suspeito tinha contato com integrantes de facção criminosa, da qual passou a fazer parte posteriormente. Atuou no tráfico de drogas mas, com o tempo, teria decidido organizar e executar o golpe dos nudes porque considerou ser mais lucrativo. A polícia apurou que o investigado se aliou a outro homem, também apontado como líder da quadrilha, e juntaram cerca de 40 pessoas para praticar série de extorsões.
O próximo passo da investigação do Denarc é seguir o rastro do dinheiro para combater a lavagem de capitais.
— O grupo tinha os líderes, geralmente responsáveis por organizar tudo e aliciar adolescentes, por enquanto, confirmamos uma (adolescente) e apuramos se há outras, além de receber o dinheiro do golpe dos nudes e investir. Então, além dos integrantes que aplicavam o golpe, outros recolhiam valores e outros lavavam o dinheiro sujo. Esses, posteriormente, pulverizavam o dinheiro entre laranjas, remunerados pelo grupo criminoso — ressalta o delegado.
Liedtke diz que só saberá o quanto foi movimentado quando analisar as contas bancárias e não descarta obter mais provas com o material apreendido a partir dos mandados de busca sobre aquisição de outros bens pelos criminosos. Ele diz que muitos investigados gostavam de ostentar uma vida de luxo nas redes sociais ou em eventos. Eles ainda distribuíam valores para integrantes da quadrilha que estavam presos com o objetivo de obterem vantagens dentro do sistema prisional.
Operação policial
Na operação policial realizada nesta quarta, 150 agentes gaúchos e catarinenses cumpriram 41 mandados de prisão, 30 de busca, dois de sequestro judicial de veículos e 25 bloqueios de contas bancárias nas seguintes cidades: Porto Alegre, Viamão, Gravataí, Cachoeirinha, Canoas, Tramandaí e Imbé, no Rio Grande do Sul, além de Florianópolis, Joinville e São Cristovão do Sul, em Santa Catarina.
As 80 vítimas identificadas durante 11 meses de investigação são de Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Amazonas, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Paraná, Mato Grosso e principalmente de Santa Catarina.
Os suspeitos vão responder por corrupção de menores, extorsão, organização criminosa, tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e porte ilegal de arma e munição. Durante a investigação, também foram encontradas armas, como quatro fuzis. Também foram apreendidos dinheiro, munição e drogas.
Como não cair no golpe dos nudes:
- Evite começar conversas por meio de aplicativos de mensagens com perfis desconhecidos
- Não troque fotografias, que possam ter conotação íntima, por meio de aplicativos, como WhatsApp ou Messenger
- Evite conversas por meio de aplicativos com prefixo telefônico desconhecido
- Não faça depósitos, transferências ou pagamentos para desconhecidos
- Se for vítima de algum golpe ou de tentativa de abordagem desse tipo, procure a polícia e registre ocorrência.
- Lembre-se: pedofilia é crime
Fonte: Polícia Civil