Uma quadrilha, ligada a uma facção criminosa, começou a ser investigada pela Polícia Civil gaúcha por estar atuando em outra área além do tráfico de drogas: o golpe dos nudes. Nesta modalidade, criminosos se passam por jovens e propõem a troca de imagens íntimas com as vítimas, depois extorquindo dinheiro delas.
Este grupo investigado, no entanto, literalmente usa uma adolescente nos crimes, segundo apurou a polícia. Uma menina de 17 anos, natural de Sapiranga, no Vale do Sinos, teria sido aliciada pelos investigados para fornecer imagens do próprio corpo.
O Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc) investiga o caso há 11 meses. Uma parte do grupo já havia sido presa em outra ação policial, em 2022, mas dezenas de outros suspeitos foram identificados. Eles teriam dado continuidade às extorsões.
Além disso, a polícia obteve novas provas, como áudios e imagens. A partir disso, é realizada nesta segunda-feira (29) uma operação policial em oito cidades gaúchas e três catarinenses.
São cumpridos 41 mandados de prisão, 30 de busca, dois de sequestro judicial de veículos e 25 bloqueios de contas bancárias em Porto Alegre, Alvorada, Viamão, Gravataí, Cachoeirinha, Canoas, Tramandaí e Imbé, no Rio Grande do Sul, além de Florianópolis, Joinville e São Cristóvão do Sul, em Santa Catarina.
Até as 9h, 32 suspeitos foram presos.
Vítimas de outros Estados
Conforme inquérito, o grupo do Rio Grande do Sul prioriza vítimas de fora do Estado. Quase sempre são médicos, empresários e políticos acima de 40 anos de idade, de preferência casados. Foram identificadas 80 vítimas em 12 Estados: principalmente de Santa Catarina, mas também de Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Amazonas, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Paraná, Mato Grosso e Rio Grande do Sul.
Um dos alvos teria perdido mais de R$ 100 mil.
O caso é investigado pelo Denarc porque traficantes estariam usando os valores obtidos com as extorsões para capitalizar a facção envolvida no caso. Segundo o delegado Rafael Liedtke, são adquiridas armas, imóveis e veículos, além do depósito de valores nas contas bancárias de laranjas.
Liedtke explica que há uma hierarquia entre os investigados:
— Há os líderes, que assumiram depois que boa parte deles foi preso na segunda metade do ano passado, e depois os responsáveis por procurar vítimas, mandar mensagens, gravar imagens e arrecadar valores, além dos laranjas. Quase todos são da Região Metropolitana e Litoral. Alguns atuam de dentro das cadeias. Então, tem uns cinco que lideram todos. São eles responsáveis por elaborar todo o plano, cooptar a adolescente que identificamos e pedir as mídias para ela.
Adolescente mantinha contato com criminosos
Liedtke diz que, normalmente, os grupos que atuam com este tipo de golpe enviam para as vítimas fotos de jovens que encontram na internet. O líder desta quadrilha, no entanto, teria aliciado uma adolescente para fornecer as imagens. Esta jovem, de 17 anos, natural do Vale dos Sinos, pode ser responsabilizada ao final do inquérito. A polícia ainda investiga o aliciamento de outras meninas e também de mulheres de 18 ou 19 anos que se passavam por adolescentes.
De acordo com a investigação, a adolescente envolvida recebia pagamentos rotineiros, em média, entre R$ 100 e R$ 200 por bloco de imagens. Os agentes da 2ª Delegacia do Denarc apuraram que os investigados mantinham contato com a adolescente, para renovar as imagens periodicamente ou de acordo com a exigência de algum dos alvos do golpe.
Segundo Liedtke, o restante do golpe corria como nos demais casos, já conhecidos da polícia. Os golpistas, muitas vezes até de dentro de presídios, trocavam mensagens com as vítimas, se passando por mulheres, e enviavam as imagens íntimas. Em seguida, entram em cena supostos pais da jovem envolvida — muitas vezes interpretados pelos mesmos criminosos — dizendo que descobriram as trocas de mensagens da menina e procuraram a polícia.
Aí surgem novos personagens do golpe: o delegado, o advogado, entre outros. Estes passam a extorquir dinheiro da vítima para que a situação não se torne pública e a suposta investigação policial seja encerrada.
Segundo a polícia, a maioria dos alvos acaba pagando algum valor. Em muitos casos precisando, para isso, fazer empréstimos ou abrir mão de economias.
Crimes
O delegado Liedtke explica que o grupo investigado neste caso, além da extorsão, responde por corrupção de menores, por ter aliciado a adolescente. Este crime tem pena prevista de até quatro anos de prisão. A polícia também investiga os mesmos suspeitos pelos delitos de organização criminosa, tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e porte ilegal de arma. Somadas, as penas máximas chegam a mais de 50 anos de prisão, em caso de condenação.
Segundo o titular da 2ª delegacia do Denarc, o principal líder deste grupo, que seria responsável, principalmente, por cooptar garotas para o golpe, foi preso no ano passado em Cachoeirinha, mas segue dando ordens de dentro da cadeia. Os nomes dos presos não foram divulgados. Muitos deles, segundo a polícia, têm vários antecedentes criminais e são considerados de alta periculosidade. Os suspeitos já se envolveram em delitos como tráfico, homicídios, roubos, sequestros, entre outros.
A mesma quadrilha foi alvo de outras operações também. Além de outra em investigação sobre o golpe dos nudes, houve ações em 2022 contra o grupo com apreensão de drogas e armas.
— São ações efetivas como essa, que auxiliam na redução dos crimes violentos, principalmente os homicídios, crime que na maioria dos casos, está interligado ao tráfico de drogas — avalia o diretor do Denarc, delegado Carlos Wendt.
Como não cair no golpe dos nudes:
- Evite iniciar conversas por meio de aplicativos de mensagens com perfis desconhecidos
- Desconfie também de solicitações de amizades nas redes sociais
- Não troque fotografias, que possam ter conotação íntima, por meio de aplicativos, como WhatsApp ou Messenger.
- Evite conversas por meio de aplicativos com prefixo telefônico desconhecido.
- Não faça depósitos, transferências ou pagamentos para desconhecidos.
- Se for vítima de algum golpe ou de tentativa de abordagem desse tipo, procure a polícia e registre ocorrência.
- Lembre-se: pedofilia é crime!
Fonte: Polícia Civil