![Mateus Bruxel / Agencia RBS Mateus Bruxel / Agencia RBS](https://www.rbsdirect.com.br/filestore/2/7/2/5/7/5/4_969a4c61dfb8a1e/4575272_adbfa0c1ef53b28.jpg?w=700)
Um terço das mulheres brasileiras (33,4%) com mais de 16 anos já sofreu violência física e/ou sexual de parceiros ou ex-companheiros ao longo da vida, segundo estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública encomendado ao Instituto Datafolha. O número equivale a 21,5 milhões de vítimas e é maior que a média global de casos — de 27%, segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Ainda segundo a pesquisa, divulgada nesta quinta-feira (2), houve crescimento de todas as formas de violência contra mulher no último ano no país, como espancamento (5,4% dos casos) e ameaça com faca ou arma de fogo (5,1%).
— Foram mais de 18 milhões de mulheres vítimas de violência no último ano. São mais de 50 mil vítimas por dia, um estádio de futebol lotado — afirma Samira Bueno, diretora executiva do fórum.
Conforme o levantamento, 28,9% das mulheres — ou 18,6 milhões — sofreram algum tipo de violência ou agressão no último ano, a maior prevalência já verificada na série histórica — a pesquisa sobre vitimização de mulheres no Brasil é realizada desde 2017, de dois em dois anos. Na edição de 2021, 24,4% das entrevistadas afirmaram ter sofrido violência no ano anterior, o primeiro da pandemia de covid-19.
— Existia uma aposta muito grande que violência contra a mulher ia aumentar durante a pandemia - porque era algo que estava sendo observado em vários países -, mas que, passada a fase mais grave da pandemia, esses números recuariam. Na verdade, os números cresceram após a pandemia. A gente está diante, de fato, de um agravamento. É um país que ficou mais inseguro para a mulher — acrescenta Samira.
Do total de casos do último ano, 11,6% (ou 7,6 milhões) das vítimas foram agredidas com batida, empurrão ou chutes — o que corresponde a 14 ocorrências por minuto. Em 13,5% dos episódios, houve perseguição a mulheres.
— Quando a gente vê tudo isso começando a crescer, infelizmente daqui a alguns meses os números da violência letal também começam a andar na mesma direção — reforça a pesquisadora.
De acordo com a pesquisa, em quase metade dos casos do último ano (45%), as vítimas não tomaram nenhuma atitude após as agressões, seja por medo de represália ou por achar que não era algo tão grave. Ao mesmo tempo, 17,3% delas procuraram ajuda da família e 15,6%, de amigos. A parcela de vítimas que foram até Delegacias de Defesa da Mulher relatar o ocorrido subiu: foi de 11,8%, há dois anos, para 14%, no estudo de agora.
— É positivo que as mulheres estejam buscando mais ajuda, que estejam reportando essa violência que ficou oculta. Mas é preciso também pensar que as delegacias não são a única forma de se buscar ajuda — destaca a promotora Silvia Chakian, coordenadora da Ouvidoria da Mulher do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP).
A promotora também afirma que, culturalmente, as pessoas acham que a saída para violência contra a mulher está exclusivamente em procurar delegacias, mas é preciso ir além.
— A gente tem um desafio de tornar conhecidas as outras formas de busca por ajuda, como os centros de referência da mulher, de cidadania da mulher, e equipamentos, em geral, que compõem a rede de atendimento — enfatiza.
Segundo Silvia, enquanto a violência contra homens normalmente acontece em espaços públicos, as agressões contra a mulher se dão dentro de casa. No ano passado, foram 53,8% dos casos, de acordo com a pesquisa.
— Elas têm um caráter de habitualidade, se repetem no tempo. São vários episódios, geralmente, e por parte de conhecidos — complementa.
A promotora afirma ainda que há um desequilíbrio de forças nos papéis historicamente atribuídos a homens e mulheres na sociedade, o que faz os agressores se sentirem no direito de agredir. Com o avanço da Lei Maria da Penha, isso perdeu força, mas ainda continua em muitos lares.
Perfil das vítimas
— Nenhuma mulher está imune à violência. Porém, é importante ressaltar que a intersecção de marcadores sociais, como raça e classe, vão reservar a determinadas mulheres uma situação ainda mais desfavorável — enfatiza a promotora.
A pesquisa aponta que as maiores vítimas de violência no último ano foram as mulheres pretas e pardas, alvos de 45% dos casos de agressão. As mulheres brancas correspondem a 36,9% dos episódios.
No total, 73,7% das agressões contra mulheres no último ano foram praticadas por pessoas conhecidas. Em 31,3% dos casos, eram ex-parceiros das vítimas, ante 18,1% na pesquisa de 2021. Em 26,7% dos episódios, os agressores eram companheiros atuais dos alvos, ante 25,4% na edição passada.
As entrevistas foram realizadas em 126 municípios de pequeno, médio e grande porte, de 9 a 13 de janeiro deste ano. A amostra total nacional foi de 2.017 entrevistas, permitindo a leitura dos resultados pelas regiões Sudeste, Sul, Nordeste e Norte/Centro-Oeste. A margem de erro para o total da amostra é de 2 pontos, para mais ou para menos.