A colega Letícia Mendes revirou as estatísticas e delas extraiu um número impactante: uma mulher é agredida a cada 22 minutos no Rio Grande do Sul. Impressionante, ainda mais que é um crime em crescimento. Em janeiro foram registrados 5,8% de casos desse tipo a mais do que no mesmo período de 2022.
Pior ainda é saber que, além das agressões, estão em alta os assassinatos de mulheres, conhecidos como feminicídios. Foram 106 homicídios deste tipo em 2022 em território gaúcho, 10,4% a mais do que no ano anterior, conforme recente reportagem do colega Luiz Dibe.
É um crime de dificílima prevenção. Isso porque ocorre dentro do lar, quase sempre. Até por formação ou questões morais, de foro íntimo, mulheres relutam em denunciar seus companheiros. Como diz a delegada Cristiane Ramos, diretora da
Divisão de Proteção e Atendimento à Mulher (Dipam) da Polícia Civil, a violência não começa na lesão, mas muito antes, de forma verbal. Por vezes, silenciosa até, com controle da vida da mulher, do seu celular, da sua liberdade.
As estatísticas ensinam que ocorrem dezenas de discussões e até agressões antes de uma mulher chamar a polícia para denunciar o companheiro. A mística de que casamento é para sempre faz com que reconciliações sejam tentadas inúmeras vezes. Poucos conseguem entender e admitir que a relação já não é saudável.
E o feminicídio, ponto máximo da violência, acontece porque na maioria das vezes um homem não consegue superar a separação, a sensação de que foi rejeitado. Tudo isso torna hercúlea a tarefa das polícias. Diferentemente dos homicídios protagonizados por facções criminosas, que são maioria e cujas inimizades são conhecidas e até divulgadas em redes sociais, a violência doméstica é pouco visível. Ainda viceja nos costumes brasileiros a máxima de que "em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher". Errado. Interferir, muitas vezes, é salvar vidas. Pensem nisso.