As defesas dos três réus por ataque a judeus em Porto Alegre deram início às argumentações na tarde desta sexta-feira (31). Os advogados sustentam que os réus não tiveram envolvimento nas agressões contra três estudantes, no bairro Cidade Baixa, em 8 de maio de 2005. Por esse crime, Valmir Dias da Silva Machado Júnior, Israel Andriotti da Silva e Leandro Maurício Patino Braun respondem por uma tentativa de homicídio, contra uma das vítimas - em relação aos outros dois o crime de lesão corporal prescreveu.
Às 13h40min, iniciou o advogado Manoel Pedro Castanheira, responsável pela defesa do réu Valmir. O advogado argumentou que no depoimento na fase policial Valmir afirmou que estava trabalhando naquela madrugada como segurança num bar no centro de Porto Alegre. No interrogatório durante o júri, o réu voltou a afirmar isso.
— Trabalhava das sete da noite às sete da manhã — sustentou o advogado.
O criminalista apresentou depoimento dado em 4 de outubro de 2005 pelo ex-patrão de Valmir e mais tarde por um gerente do bar, ambos afirmando que ele estava trabalhando naquela madrugada. Nos depoimentos, há relato de que Valmir teria chego às 19h no bar e saído pouco antes das 7h, e que em nenhum momento o segurança teria deixado o local de trabalho. Leu um depoimento de uma frequentadora do bar, afirmando que na noite de 7 de maio daquele ano viu o segurança trabalhando no estabelecimento, e de um DJ, relatando o mesmo.
— Como a pessoa vai estar em dois lugares ao mesmo tempo? Não pode — disse Castanheira.
O advogado ressaltou ainda que algumas testemunhas admitiram que inicialmente reconheceram Valmir ao confundi-lo com outro réu, um adolescente que acabou cumprindo medida socioeducativa. Castanheira argumentou ainda que nenhum dos materiais apreendidos com ideologia nazista foi apreendido com Valmir.
— Nenhuma camiseta sequer encontraram — destacou.
O advogado encerrou a fala pedindo que o cliente seja absolvido, alegando que a pessoa de óculos envolvida nas agressões era o adolescente e não Valmir.
Na sequência, Rodrigo de Lima Noble, que representa Leandro, iniciou a fala, e ressaltou que em caso de dúvida não deve haver condenação.
— Então se absolva — disse.
Noble falou que o réu não está presente no júri porque se sente ameaçado, já tendo sido agredido e esfaqueado. Dos três, ele é o único que não participa do julgamento, e, portanto, não chegou a ser interrogado. Admitiu que entre os materiais de apologia nazista apreendidos durante a investigação há itens apreendidos com Braun, mas negou que ele teria envolvimento no crime.
— O Leandro Patino Braun não estava lá. Foi sim repugnante, repulsivo, foi um crime bárbaro, foi, mas não foi meu cliente que promoveu. Meu cliente não estava — afirmou, alegando que o réu estava em Caxias do Sul naquela data.
José Paulo Schneider dos Santos, responsável pela defesa de Israel, foi o último a se manifestar nos debates. Defendeu que o cliente, apesar de ter integrado grupo de skinheads, não participou das agressões.
— Meu cliente está cumprindo pena moral há 18 anos, sem ter cometido esse crime. As vítimas têm direito de errar, porque foram vítimas de um crime bárbaro. Eu concordo que isso não pode se repetir. As vítimas quando sofrem aquilo que é de pior na humanidade querem sim responsabilização. As testemunhas que viram os amigos quase à morte podem errar. Os senhores não podem errar — disse aos jurados.
O criminalista trouxe ao centro do plenário o carrinho com os itens apreendidos durante a investigação e afirmou que aquelas são "cicatrizes" carregadas pelo cliente. Buscou sustentar que Israel vêm tentando apagar o passado "nojento, vil, repugnante", no qual defendeu esse tipo de ideologia.
— Poucos nesse processo bateram no peito e disseram "eu fui nazista". E por ser assim foi tratado pelo Ministério Público como nazista 18 anos depois. Sendo uma pessoa boa, que reconstruiu sua vida, é acusado de ser nazista. Se queremos dizer que isso aqui não pode se repetir, temos que respeitar quem quer mudar, quer se reconstruir — disse, aos berros.
Durante a fase de interrogatório, o réu admitiu ter feito parte dos grupos durante o interrogatório, ter adquirido livros nazistas, e tirado fotos fazendo saudações, mas afirmou ter mudado.
— Foi um erro. Era um adolescente, inconsequente. Peço perdão pros meus amigos, para a comunidade judaica. Hoje sou uma pessoa diferente — alegou.
O criminalista buscou comprovar que os réus foram reconhecidos no lugar de outros agressores. Schneider leu reportagens de 2005 sobre a data na qual os quatro réus presos inicialmente no caso – incluindo os três julgados nesta sessão – foram soltos, após a polícia entender que eles poderiam ter sido reconhecidos de forma equivocada no lugar de outros suspeitos. Mais tarde, segundo depoimento de um policial civil ouvido no júri, as testemunhas voltaram a reconhecer parte dos réus e, por isso, eles foram mantidos no processo.
— As vítimas continuaram dizendo que eram eles porque são as memórias — alegou o advogado, que sustenta que seu cliente foi apontado por ter envolvimento com grupo de skinheads.
O caso
Os três réus são os últimos a serem julgados neste processo. Outros seis já foram submetidos a julgamentos anteriores - além de um adolescente, que foi submetido à medida socioeducativa. Cinco deles foram condenados por tentativa de homicídio e um deles por lesão corporal, mas deste último foi extinta a punibilidade, pelo fato de o crime já ter prescrito.