Suspeito da morte de uma idosa nesta semana, em Porto Alegre, Adriano Cristiano da Silva, 50 anos, encontrava-se na condição de foragido. Em 24 de janeiro, o apenado – que já possui condenação por roubo e estupro – havia recebido direito à saída temporária do sistema prisional pelo período de três dias para visitar familiares. No entanto, não retornou à cadeia.
Menos de um mês depois, na manhã de terça-feira (21), foi preso na Capital após atacar Tatiana Topala, 63 anos, com uma faca. Atingida no abdômen e no peito, a mulher chegou a ser hospitalizada, mas não resistiu. A suspeita da polícia é de que ele estivesse tentando assaltá-la.
O crime aconteceu por volta das 8h30min, na Avenida São Pedro, no bairro São Geraldo, na zona norte de Porto Alegre. Após ser ferida por pelo menos três facadas, Tatiana ainda chegou a relatar à equipe médica que estava seguindo para a rodoviária, onde pretendia embarcar num ônibus para o Litoral Norte. Familiares dela já estariam aguardando na praia. A idosa foi internada no Hospital Cristo Redentor, onde passou por cirurgia, e faleceu no início da tarde de terça.
Após ser detido por uma guarnição da Brigada Militar, na esquina das avenidas Farrapos com Berlim, o suspeito admitiu informalmente aos policiais ter matado a vítima. Negou, no entanto, que se tratasse de um roubo e afirmou que havia cometido o crime sob orientação de um segundo indivíduo, que não foi localizado.
— Ele confessou (informalmente) para os policiais que teria sido contratado para praticar um homicídio. Mas ele não esclareceu quem seria o contratante, nem nome, nem características — explica o delegado Leandro Bodoia, plantonista do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Como havia essa suspeita inicial de homicídio, o caso foi encaminhado ao DHPP. No entanto, conforme o policial, após ouvir testemunhas e coletar imagens de câmeras de segurança, a polícia passou a suspeitar de que ele estivesse mentindo e de que se tratava de um latrocínio, que é o roubo com morte. A principal hipótese é de o homem tenha escapado sem levar nada em razão da aproximação de um veículo, com quatro pessoas, que acudiram a vítima.
Ao perceberem que a mulher estava sendo atacada, os trabalhadores de uma obra, que estavam no automóvel, pararam e interviram. Neste momento, o criminoso saiu correndo em direção à Farrapos e foi perseguido.
— Desse veículo, descem quatro homens, em socorro a essa senhora, e ele corre. Eles param, uma parte dos homens fica para fazer auxílio da vítima e outra parte dos indivíduos entra no carro e tenta seguir ele — explica Bodoia.
Na sequência, a Brigada Militar foi acionada e conseguiu localizar o suspeito do crime. Aos policiais, Silva afirmou que o suposto mandante do crime teria lhe entregue a faca usada para atacar a vítima e depois ficado com a arma. O homem também narrou que havia entregue a camiseta que estava usando a esse mesmo comparsa. No entanto, a vestimenta foi localizada pelos policiais durante buscas numa praça. A faca empregada no crime não foi encontrada.
Câmeras
O local onde aconteceu o ataque na São Pedro estava ermo na manhã de terça-feira, em razão do feriado de Carnaval. A polícia conseguiu obter imagens de câmeras de segurança das proximidades que flagraram parte da movimentação da vítima e do suspeito. Numa das imagens, é possível perceber que eles andam pela calçada em sentidos opostos. Logo depois, o homem retorna caminhando na mesma direção da vítima. Instantes depois, a idosa é atacada com golpes de faca na calçada.
— Os dois cruzam em sentidos opostos, depois ele muda de direção. Ela percebe, tenta acelerar o passo, ele a alcança e pratica o crime. Parece ser algo bem aleatório. Ele viu a senhora passando, surgiu a oportunidade e tentou praticar o roubo — detalha Bodoia.
Em razão da suspeita de latrocínio, o caso foi remetido, nesta quarta-feira (22), da 2ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) para a 4ª Delegacia de Polícia, na Zona Norte.
Tatiana teve o corpo velado durante a manhã, na paróquia da Igreja Ortodoxa de São Sérgio de Radonej, no bairro Santa Maria Goretti. Logo depois, às 11h30min, foi realizado sepultamento no Cemitério São João, no Higienópolis.
Histórico
Sobre a saída temporária, o Judiciário informou que Silva esteve recolhido anteriormente na Penitenciária Modulada de Ijuí, mas havia progredido para o regime semiaberto em janeiro. Foi liberado em 24 de janeiro para visitar familiares, após informar o endereço, por preencher os requisitos exigidos pela lei — como estar no regime semiaberto, ter cumprido um quarto da pena e apresentar bom comportamento. Como não retornou ao término dos três dias da saída temporária, foi considerado foragido e teve o mandado de prisão expedido em 15 de fevereiro.
Natural de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, Silva ainda tem 39 anos, dois meses e 26 dias de pena a cumprir, por roubo e estupro, segundo informações repassadas pelo Judiciário. Em outubro de 2011, o preso já havia escapado do albergue de Ijuí. No mesmo dia em que progrediu para o regime semiaberto, ele serrou as grades do local e escapou.
O que diz a defesa
A Defensoria Pública do Estado informou que acompanhou o preso durante a audiência de custódia realizada no Núcleo de Gestão Estratégica do Sistema Prisional (Nugesp) nesta quarta-feira (22), na qual foi mantida a prisão do suspeito. Segundo a instituição, Silva precisará ainda definir se seguirá assistido pela DPE ou se irá constituir advogado particular. Caso siga atuando no caso, a Defensoria pretende se manifestar somente nos autos do processo. Embora tenha admitido informalmente a autoria, em depoimento à Polícia Civil o preso optou por permanecer em silêncio sobre o caso.
Casos de latrocínio
Nos últimos dias, pelo menos outros três casos de assaltos com morte foram registrados no Estado. No dia 6 de fevereiro, Jonas Furtado da Silva, 29 anos, dono de uma lan house, foi morto a tiros durante um roubo ao seu estabelecimento. Um dos autores do crime, utilizando boné e óculos escuro, pegou R$ 500 que estavam em uma gaveta.
Outro caso aconteceu nesta semana em Tio Hugo, no norte do Estado. Ana Kelen de Oliveira Ortiz, 39 anos, foi morta a tiros dentro da própria residência. Vizinhos acionaram a Brigada Militar, que chegou no local e trocou tiros com os criminosos. Dois suspeitos foram presos em flagrante, um deles ferido. Os outros três conseguiram fugir para um matagal, mas dois deles foram encontrados por volta das 15h de terça-feira (21) — as buscas seguem.
Já em Taquara, no Vale do Paranhana, um adolescente de 17 anos foi vítima de latrocínio. Kauã Taylon Fontana Frasan ajudava os pais numa tenda, nas margens da RS-239. O estabelecimento foi atacado no fim da tarde de segunda-feira (20) por três criminosos armados. O jovem reagiu, acertando um dos assaltantes, e foi alvejado por outro na sequência. Ambos não resistiram aos ferimentos.
O mês de janeiro havia registrado somente um caso de latrocínio no Estado, em Porto Alegre. O soldado Lucas de Jesus Lima, 27 anos, que atuava no 20º Batalhão de Polícia Militar desde 2018, foi morto ao trocar tiros com ladrões que tentavam roubar seu carro em 11 de janeiro. Um dos envolvidos, que também acabou morrendo após ser baleado durante a troca de tiros, possuía antecedentes por roubo a pedestre. Ainda em janeiro, a polícia identificou e prendeu outros quatro suspeitos desse latrocínio.