Os crimes de feminicídio e latrocínio tiveram queda no Rio Grande do Sul no primeiro mês do ano na comparação com o mesmo período de 2022. Em relação aos homicídios foram dois casos a mais no período. Os dados foram divulgados na tarde desta sexta-feira (10) pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Estado.
Crime que desafia as forças de segurança, o feminicídio caiu 18,2% no primeiro mês de 2023. Foram nove mulheres mortas neste ano, frente a 11 vítimas no mesmo período de 2022. O número foi o mais baixo registrado em janeiro desde 2019, quando três mulheres foram assassinadas.
De acordo com informações do governo do Estado, nenhuma das nove vítimas deste ano possuía medida protetiva vigente. Algumas delas também não tinham nenhum registro na polícia contra os agressores, segundo a titular da delegada Cristiane Ramos, que comanda a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Porto Alegre. A delegada explica um dos fatores que levam muitas vítimas a resistirem à ideia de procurar a polícia:
— É uma questão cultural, de machismo mesmo. Muitas vezes não recebem o apoio e respeito nem das famílias e amigos para fazer o registro. Muitas mulheres conseguem perceber que estão em uma situação de abuso e terminam o relacionamento, mas acabam voltando por pressão do ex, por verem que amigos já se afastaram. O fator emocional é muito forte. Enquanto sociedade, precisamos fortalecer essa mulher, estender a mão, orientar que denuncie o agressor logo no começo, porque sabemos que o feminicídio é o resultado de todo um ciclo de violência doméstica, e precisamos impedi-la desde o início.
A delegada estima que cerca de 25 mil medidas protetivas estejam em vigor atualmente no Estado. Cristiane ressalta a importância de as mulheres pedirem ajuda aos órgãos de segurança:
— Não há como a polícia acessar a casa de uma mulher que sofre violência se não formos procurados, se não soubermos o que ocorre ali. É fundamental que elas façam contato conosco, mas a iniciativa também pode partir de um vizinho, um amigo, em uma denúncia anônima. Existem mecanismos criados para que essa mulher possa pedir ajuda de alguma forma, o que não se pode é aceitar, naturalizar essa violência.
Entre as medidas que podem ter contribuído para a queda no crime, Cristiane cita a Delegacia Online da Mulher, inaugurada em dezembro do ano passado, com o objetivo de oferecer uma plataforma digital em que a mulher possa buscar ajuda em qualquer hora e local. Por meio da página, é possível registrar casos de violência e o descumprimento de medidas protetivas, por exemplo.
Além disso, Cristiane também cita o Programa de Monitoramento do Agressor, que está em fase de implantação — treinamento da equipe da Polícia Civil e Brigada Militar começou no fim de janeiro. A iniciativa consiste em disponibilizar 2 mil tornozeleiras eletrônicas que serão utilizadas em agressores que cumprem medidas protetivas da Lei Maria da Penha e mostram potencial de risco para a mulher. A colocação do equipamento será avaliada individualmente, por juízes. Inicialmente o programa será executado em Porto Alegre e Canoas, conforme a demanda.
O Estado também monitora outros indicadores de violência contra a mulher. Os crimes de estupro reduziram em 13,2% na comparação com o mesmo mês de 2022, indo de 220 para 191. As ameaças contra mulheres ficaram em estabilidade, passando de 3.081 para 3.072.
Casos de feminicídio tentado tiveram alta de 9,1%, passando de 22, em janeiro do ano passado, para 24 no mesmo mês de 2023. Já as lesões corporais foram de 1.879, em janeiro de 2022, para 1.989 no mês passado, alta de 5,9%.
Em caso de emergências, o canal é o 190 da Brigada Militar. Suspeitas sobre agressões e abusos também podem ser comunicadas 24 horas por dia pelo Disque Denúncia 181, pelo Denúncia Digital no site da SSP e pelo WhatsApp da Polícia Civil: (51) 98444-0606. Em todos os casos, o anonimato é garantido.
Dois homicídios a mais
Os homicídios, por sua vez, aumentaram em dois casos. O número de vítimas passou de 151 em janeiro de 2022 no Estado para 153 neste ano.
Em Porto Alegre, houve queda. O último mês contabilizou 21 mortes, contra 26 no mesmo período do ano passado, redução de 19,2%. Segundo o governo, após conflitos entre grupos criminosos que resultaram em aumento de mortes violentas na Capital no ano passado, "as ações de combate realizadas pelas forças de segurança do Estado foram visíveis neste primeiro mês do ano".
"A desaceleração nos conflitos e a queda nos indicadores são resultados das ações desenvolvidas pelas forças de segurança do Estado. Enquanto a Brigada Militar reforçou o policiamento ostensivo, a Polícia Civil intensificou as investigações e operações para prender suspeitos e apreender armas, sufocando os grupos criminosos", disse o governo em material divulgado.
O comandante-geral da Brigada Militar, coronel Cláudio dos Santos Feoli, destacou o trabalho "integrado e dinâmino" entre as equipes, que evitaram aumento de mortes, diz.
— Esses resultados, que são quase uma estabilidade, são fruto de interações diária, a toda hora, entre as instituições de segurança, além de reuniões semanais. Sempre que observamos alguma anomalia ocorrendo, imediatamente nos reunimos para definir medidas, já não mais de prevenção, mas de repressão. Um dos encontros ocorreu em um domingo de manhã, pois entendemos que era preciso agir. É um trabalho intergrado em que há troca de informações a todo momento — avalia o comandante.
Entre as ofensivas que contribuiem para a baixa no número de homicídios, Feoli destaca ações como a Operação Pulso Forte, que, no fim de janeiro, prendeu 364 pessoas em três dias no RS.
Latrocínios têm menor taxa desde 2002
O crime de latrocínio (roubo com morte) registrou um caso em janeiro de 2023, frente aos quatro contabilizados no período do ano passado. O índice de 2023 chegou ao menor patamar da série histórica, em 2002, quando o levantamento passou a ser feito.
As polícias destacam que o latrocínio é um crime que depende de uma série de fatores para ocorrer, como uma possível reação da vítima, roubo surpreendido por testemunhas, consciência do assaltante alterada por uso de entorpecentes, entre outros.
Por isso, o secretário da SSP, Sandro Caron, entende que o combate aos crimes patrimoniais, como roubos e roubos de veículos, é uma das prioridades da gestão.
— Esta integração das forças policiais, que marca o RS Seguro, reforça justamente o combate aos crimes violentos contra o patrimônio impactando diretamente na redução dos latrocínios. Assim como o trabalho investigativo da Polícia Civil para elucidação de crimes, o policiamento preventivo e ostensivo da Brigada Militar também reflete na diminuição de roubos a pedestres e de veículos — destaca Caron.
Roubo de veículos mantém queda
Em janeiro, o crime de roubo de veículos teve 30 casos a menos na comparação com o ano passado. Naquele mês de 2022 foram 390 ocorrências ante 360 casos neste ano, redução de 7,7%.
Na Capital, a tendência de queda nos roubos de veículos acompanhou o resultado no Estado. Em janeiro deste ano foram 125 veículos levados por assaltantes em Porto Alegre, o que representa queda de 22,4% em comparação aos 161 automóveis roubados em 2022.
Demais crimes
O primeiro mês de 2023 também fechou com queda nos ataques no transporte coletivo. Foram 35 casos em janeiro, o menor número desde 2012, quando este crime passou a ser contabilizado. Em 2022, haviam sido 82 casos.
Os abigeatos também terminaram janeiro com queda. Os 221 casos registrados em 2023 representam o menor número da série histórica. O total é 37,7% menor que os 355 registrados em janeiro de 2022.
Além disso, o RS registrou apenas um caso de ataque a banco em 2023, menor indicador da série histórica, que iguala o resultado de 2022.