O registro de casos de estelionatos teve queda no Rio Grande do Sul pelo sétimo mês seguido. Na comparação entre o mês de janeiro deste ano com o mesmo período em 2022, a redução é significativa, de 24%. Enquanto janeiro do ano passado registrou 7.862 ocorrências no Estado, o último mês contabilizou 5.974 casos, o que representa uma média de 192 estelionatos por dia. Os dados são divulgados mensalmente pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) do RS.
Apesar de comemorar a queda, a Polícia Civil ressalta que o crime costuma ter subnotificação, quando as vítimas deixam de denunciar os golpes às autoridades. As equipes também ressaltam que crimes como o "golpe do aluguel", em que criminosos anunciam casas de outras pessoas para o veraneio, se intensificam no verão.
Um desses casos registrados no Estado em janeiro é o de uma família que mora em Santa Cruz do Sul, e buscava uma casa para curtir uns dias de praia no Litoral Norte. Um anúncio na internet chamou atenção da vítima, uma mulher de 42 anos, que prefere não se identificar. Na postagem, um homem que se identificava como Maicon oferecia uma casa em Capão da Canoa.
Nos comentários, algumas pessoas diziam já ter fechado negócio com o homem e indicavam a locação da residência com ele.
— Mesmo assim, a gente sempre desconfia. Fizemos vários testes. Meu sogro, minha sogra e até uma colega de trabalho entraram em contato com ele, em momentos diferentes, pedindo a casa nos mesmos dias que eu, e ele afirmava que já tinha reservado o período para uma família. Então pareceu ser algo sério. Aí fiz o pix, foi metade do valor, R$ 750. Nesse mesmo dia, depois que eu paguei, ele mandou mensagem para minha colega e dizendo que a casa estava livre, que podia locar para ela porque a família anterior tinha desistido.
A vítima também havia cobrado um contrato de locação pelos dias que ficariam na casa, o que não foi feito.
Após o caso, a mulher registrou um boletim de ocorrência junto a polícia de Santa Cruz do Sul. Ela afirma que ainda viu o homem utilizar uma foto dela com o marido em redes sociais, oferecendo aluguel de casas a outras pessoas.
— Na delegacia me disseram que aqueles comentários indicando alugar com ele podiam ser perfis falsos, criados por ele mesmo. E também me falaram que o Pix que ele forneceu para a transferência estava no nome de uma pessoas que está presa. Só não sei se é esse mesmo homem ou se estão usando o nome dele — lembra a mulher.
A viagem só não acabou totalmente frustrada porque a família conseguiu locar outra casa, em Arroio do Sal.
— Meu marido falou com ele no WhatsApp, disse que não se faz isso com família, que ele tinha estragado a praia de duas crianças. Mas esse Maicon só debocha, chegou a dizer que fez isso por vingança, porque também tinham feito com a família dele. Falou que esse é o trabalho dele. Nesses primeiros dias foi estressante, a gente num clima ruim, ainda bem que conseguimos alugar outro local.
Procurada pela reportagem de GZH, a Polícia Civil de Santa Cruz afirmou que o caso está em investigação e que aguarda o retorno de questionamentos feitos ao banco do homem que aplicou o golpe.
Características em comum
Conforme o delegado Thiago Albeche, prestar atenção em alguns detalhes podem ajudar a identificar possíveis golpes, sejam os aplicados na internet quanto nas ruas. Segundo ele, criminosos que aplicam esses golpes costumam narrar situação de urgência, seja para garantir um valor mais baixo na compra de um produto ou para ajudar um parente que esteja em risco. A vítima acaba sendo apressada, justamente para que não tenha tempo de pensar sobre a situação nem de pedir uma segunda opinião de pessoas próximas, e acabe agindo no impulso.
Outra recomendação do delegado é que, ao encontrar uma promoção em um site, por exemplo, o consumidor faça contato com alguma loja física da mesma rede, para verificar se o desconto oferecido procede. Albeche ressalta que é preciso estar atento a "vantagens ou facilidades extraordinárias", e também de ganhos financeiros "fora da normalidade", que costumam ser tentativa de golpes.
— As pessoas acabam caindo nesses golpes porque eles de fato são bem elaborados, parecem oportunidades verdadeiras. Há muitos casos em que o golpista entra em contato com a vítima e repassa dados reais dela, que estão corretos, se utiliza da boa fé da pessoa, que acaba acreditando. É nesta hora que é preciso ter calma, desligar o telefone ou cessar o contato e ir verificar a situação, ver se ela procede. Ligue para o gerente da conta, para o parente que supostamente está em perigo, para a loja que diz estar oferecendo determinado produto. Esses golpes se tratam de psicologia pura, pedem pressa, atitudes rápidas. por isso, o ideal é pensar melhor antes de tomar qualquer atitude — indica Albeche, responsável pela Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos e Defraudações do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
O delegado ressalta a subnotificação desse tipo de crime, já que muitas vítimas deixam de procurar a polícia e registrar o caso por vergonha ou descrença de uma resolução.
— Há ainda aquelas pessoas que recebem uma mensagem, uma tentativa de golpe, mas ignoram e também não registram. Mas é importante que a polícia saiba onde estão essas tentativas, mesmo quando não se consumam, para que possamos trabalhar em cima da prevenção, planejar ações. O registro junto a polícia deve ser feito sempre — orienta Albeche.
Mesmo com a subnotificação, o delegado celebra a queda dos crimes no Estado. Para ele, a diminuição é resultado de diferentes fatores, como ações de prevenção e repressão feitas pelas autoridades:
— As pessoas estão mais atentas, tomam mais cuidado. Já viram acontecer com pessoas próximas ou tomaram conhecimento por meio de campanhas de conscientização. Tivemos também uma intensificação de investigações por parte dos órgãos e ações de repressão. São vários fatores que resultam nesta queda, que é muito positiva.
Dicas para não cair em golpes
- Golpistas, em geral, oferecem vantagens para atrair a vítima e têm pressa para obter lucro. Fique atento;
- Não envie dados pessoais ou cópias de documentos para desconhecidos;
- Se estiver acertando qualquer tipo de aluguel, seja por temporada ou permanente, visite o imóvel antes de fechar o negócio;
- Na hora de comprar algo pela internet, desconfie se o site só aceitar pagamento por boleto ou transferência, se tiver falhas ou erros na página e se o único contato for por WhatsApp;
- Desconfie de publicações na internet que ofereçam serviços e bens por valor abaixo do preço de mercado;
- Não adquira produtos pela internet sem antes se certificar de quem está vendendo. Mesmo que seja um perfil conhecido, só efetue o pagamento após conversar diretamente com a pessoa;
- No momento do pagamento, seja por Pix ou transferência, confira se o nome do destinatário é o mesmo de quem se está adquirindo o produto;
- Não repasse códigos recebidos no celular. Essa é uma das principais estratégias usadas para hackear contas no WhatsApp e no Instagram;
- Certifique-se de que a pessoa com quem você está conversando por WhatsApp, por exemplo, é ela mesma. É possível conferir isso telefonando para o contato;
- Desconfie de ligações de desconhecidos e nunca repasse informações pessoais;
- Durante a venda de algum item, só entregue o produto após o dinheiro entrar na conta ou receber o valor. Não confie em comprovantes de transferência porque eles podem ser falsificados;
- Se tiver um familiar idoso, oriente a pessoa sobre os golpes mais comuns e como se prevenir deles;
- Caso seja vítima, registre a ocorrência. É possível utilizar a Delegacia Online. Reúna todas as informações que podem servir como provas, como dados bancários, conversas por mensagens e fotografias.
Fonte: Polícia Civil do RS