Uma professora de 86 anos viu parte da aposentadoria batalhada ao longo da vida desaparecer em poucos minutos, em um estelionato sofrido em Porto Alegre. Ela foi mais uma das vítimas do conto do bilhete premiado, e diz ter perdido uma quantia de R$ 100 mil após confiar na promessa de uma dupla, de que receberia, em troca da transferência, um valor milionário. O crime ocorreu em julho do ano passado e foi registrado junto a Polícia Civil. Sete meses depois, ela afirma que não recebeu nenhum retorno sobre o caso.
A mulher, que prefere não se identificar, é uma professora de Educação Física aposentada, moradora do bairro Bom Fim, na Capital. Ela conta que em uma manhã de julho saiu do apartamento onde vive para fazer atividades físicas em uma associação. Perto de casa, em uma parada de ônibus, foi abordada por um mulher que se apresentou como Ana Cristina e dizia ter um bilhete que daria direito a um prêmio de R$ 5 milhões.
— Ela me parou e perguntou se eu tinha indicação de um advogado. Disse que tinha um bilhete premiado da Loteria, que achou no bolso do casaco do falecido pai, e queria informações do que fazer. Falou que o pastor da igreja dela não queria que ela pegasse o dinheiro, porque era de jogo.
Após alguns minutos de conversa, um homem que se identificou como Adriano se aproximou das mulheres. Ele cumprimentou a suposta Ana Cristina, como se fossem velhos conhecidos. Em seguida, ao saber da história, ofereceu auxílio: disse que ajudaria a sacar o dinheiro do prêmio se cada uma delas lhe desse R$ 100 mil. Ana, que afirmava não poder receber a quantia milionária sozinha, propôs então dividí-la com a vítima.
Assim, em troca de metade da premiação, a professora topou fazer a transferência.
— Eles me convidaram para ir junto ao banco, fomos do carro desse Adriano. Era muito educado, solicito. Ele me dizia: "A senhora vai botar fora a sua sorte?". Fiquei pensando que talvez fosse algo novo, algum benefício que eu não conhecia. A mulher me mostrou o bilhete e tudo. Fui na conversa deles.
Após algumas voltas de carro, os criminosos deixaram a vítima em casa. Adriano manteve contato com a professora por cerca de dois dias, até que, em 5 de julho, ela foi ao banco e fez a transferência de R$ 100 mil em nome de um terceiro.
— Lembro que minha gerente perguntou se eu tinha mesmo certeza daquilo. Eu disse que sim, que ia investir em terras que me dariam retorno — lamenta a aposentada.
Depois, a vítima recebeu o suposto bilhete premiado, que não tinha valor algum. Foi quando a professora percebeu que havia caído em um golpe. Ela disse que chegou a ligar para Adriano e cobrar o valor de volta. O homem desligou o telefone e nunca mais a atendeu, segundo o relato.
Cerca de sete meses depois, a vítima relata que não teve nenhum retorno da polícia, nem de bancos, onde também pediu ajuda. Nos locais em que buscou auxílio, ouviu que é difícil obter de volta o dinheiro levado.
— Nunca achei que algo assim fosse acontecer. Estava estava feliz com aquela oportunidade, acabei acreditando. Eles falam tão bem. Só depois você vê que aquilo não faz sentido. Não tem como explicar, eu caí. Mas é algo que pode acontecer, principalmente com as pessoas de mais idade, que são o foco dessa gente. Já faz tantos meses e simplesmente ninguém fez nada, nem bancos, nem polícia. Ficou morta essa história — resume.
Em investigação
O caso foi registrado, como estelionato, pela idosa junto a Polícia Civil. De acordo com o delegado Thiago Bennemann, responsável pela 17ª DP, uma investigação foi aberta logo após o boletim ser feito e segue em andamento.
O delegado afirmou que as equipes ouviram a vítima, realizaram diligências e juntaram documentação. Sem entrar em detalhes, ele afirma que há "suspeitos identificados", mas que não há prazo para conclusão do inquérito.