O homem investigado por usar as redes sociais para seduzir mulheres e aplicar golpes contra elas teria feito novas vítimas no Rio Grande do Sul. Em um dos casos, uma moradora de Caxias do Sul, na serra gaúcha, procurou GZH para relatar que teria sofrido um golpe de R$ 100 mil de Guilherme Selister, 27 anos — que já responde a três processos criminais e que foi indiciado em dois inquéritos policiais.
Recentemente, a Justiça de Caxias do Sul recebeu a terceira denúncia do Ministério Público (MP) contra Selister, que virou réu por estelionato e ameaça. Nesse caso, uma mulher afirma ter perdido R$ 15 mil e ter sido ameaçada para que não fizesse uma denúncia à polícia.
Conforme mostrou GZH, Guilherme Selister já teria se passado por nutricionista, veterinário, engenheiro, cardiologista e militar do Exército e da Marinha nas redes sociais. Desde que as primeiras denúncias foram reveladas, em março do ano passado, 12 supostas vítimas procuraram a reportagem para relatar seus casos — parte delas ainda não registrou ocorrência policial, outras não representaram criminalmente contra ele por temor de represália.
Dinheiro para suposto tratamento
A moradora de Caxias do Sul diz que conheceu Selister em um aplicativo de relacionamento, no fim de 2020, e que eles mantiveram uma relação de cerca de dois anos, com algumas interrupções. A mulher afirma nunca ter desconfiado do companheiro.
Ela registrou ocorrência na 1ª Delegacia de Polícia do município da Serra, alegando ter perdido R$ 100 mil. Um inquérito já foi instaurado.
— Primeiramente faremos a apuração completa do caso e, então, ele (Selister) será intimado para interrogatório — diz o delegado Rodrigo Kegler Duarte.
Segundo a mulher, após se conhecerem no aplicativo de relacionamento, os dois seguiram conversando em outras redes sociais. Selister, conforme o relato, contou que era médico e que trabalhava em hospitais de Caxias e de Porto Alegre.
As conversas eram frequentes, por mensagens, mas o contato pessoal ocorria a cada 15 dias. Em dezembro de 2020, ele teria terminado o relacionamento por meio de mensagem. Em abril de 2021, contudo, ambos voltaram a sair. Neste momento, ele teria dito que estava com câncer, que precisava de tratamento e que faria quimioterapia em São Paulo.
— E ele dizia que a quimioterapia custava R$ 16 mil. E ele não tinha dinheiro, porque tinha que gastar com passagem, com exames e com médico. E ele não tinha muitas condições. Eu fiz um empréstimo de R$ 16 mil. Foi o primeiro que fiz no banco — conta a suposta vítima.
Passados alguns dias, Selister teria dito que precisava de mais dinheiro para pagar um cirurgião. Foi aí que a mulher fez um novo empréstimo de R$ 16 mil. Logo depois, ainda conforme o relato, teria aparecido um suposto amigo, dizendo que Selister estava mal de saúde, precisando de mais dinheiro. A mulher, então, fez o terceiro empréstimo de R$ 16 mil.
— Dava a entender que ele iria pagar esses empréstimos. Em outubro (de 2021), eu fiz o último empréstimo de R$ 16 mil. Depois, ele terminou comigo por WhatsApp, mas disse que iria pagar os empréstimos. Ele pagou três parcelas e nunca mais pagou nada — diz.
A mulher conta que entrou em contato com Selister para mostrar as reportagens com as denúncias contra ele, que negou as acusações. Apesar disso, os dois ficaram juntos novamente, até dezembro de 2022, quando mais uma vez terminaram. Nesse meio tempo, ela diz que pagava praticamente tudo para Selister, inclusive o advogado que ele contratou para defendê-lo nos processos criminais e inquéritos sobre os supostos golpes.
— Paguei aluguel, paguei viagem, paguei janta, paguei cinema, paguei rancho. Ou seja, paguei tudo. Em dezembro, descobri umas traições e aí eu terminei com ele — relata.
Alvo de investigações
Até o momento, são dois boletins de ocorrência (nesses casos as vítimas decidiram não representar contra ele, temendo represália), um inquérito em andamento, dois que resultaram em indiciamento pela Polícia Civil, além dos três processos movidos pelo Ministério Público contra Selister, que estão em andamento.
O que há contra Guilherme Selister:
Farroupilha
Selister é réu em ação movida pelo MP por estelionato, acusado de aplicar golpe de R$ 70 mil em uma mulher. Processo aguarda realização de audiência de instrução, designada para 15 de junho de 2023, às 14h.
Caxias do Sul
Foi denunciado por aplicar um golpe de R$ 15 mil numa mulher com quem teve relacionamento. A denúncia foi recebida pela Justiça. Foi determinada a citação do réu pelo oficial de Justiça. O mandado foi recebido pelo oficial em 31 de agosto de 2022, mas ainda não há resposta no processo se a citação foi efetivada.
Selister foi indiciado por estelionato por suspeita de aplicar golpe de R$ 70 mil em uma mulher com quem teve relacionamento. O inquérito foi remetido ao Judiciário.
Foi indiciado por estelionato por suspeita de aplicar golpe de R$ 85 mil num casal sócio de uma academia. O MP não pôde dar andamento, porque as vítimas decidiram não representar criminalmente contra ele.
Suspeito de aplicar golpe de R$ 100 mil numa vítima. Inquérito policial instaurado e ele será chamado para depor.
Guaporé
Selister é réu em ação movida pelo MP por estelionato, acusado de aplicar golpe de mais de R$ 50 mil em uma mulher. Processo aguarda citação do réu.
Interior
Um boletim de ocorrência foi registrado por uma mulher que diz ter sido vítima de um golpe de R$ 48 mil de Selister. A Polícia Civil não informa a cidade, por ser pequena e por risco de identificar a vítima. Conforme o relato, ele pediu o dinheiro para abrir uma clínica de nutrição, o que nunca aconteceu, e o relacionamento terminou sem que ele pagasse o que havia pedido emprestado. Eles se conheceram por meio de um aplicativo de relacionamento. Neste caso, a vítima decidiu não representar criminalmente contra ele, o que impede a Polícia Civil de seguir com a investigação.
São Paulo
É investigado pela Polícia Civil paulista por aplicar golpe de R$ 5 mil em uma mulher com quem teve uma rápido relacionamento.
Contraponto
O que diz a defesa de Guilherme Selister
GZH entrou em contato com o advogado Marcos Peroto, que ainda não deu retorno.