A Polícia Civil de Santa Maria, na Região Central, investiga cerca de uma dezena de tentativas de golpes contra sobreviventes e familiares de vítima do incêndio na boate Kiss. Para isso, os estelionatários se passam por um advogado e cobram valores para que suposta indenização seja liberada.
Desde 27 de janeiro, quando a tragédia completou 10 anos, o advogado Luiz Fernando Smaniotto começou a receber ligações de clientes que representa em processos cíveis de pedidos de indenizações por conta de sequelas do incêndio. Nos telefonemas, eles afirmaram ter sido contatados por representantes do escritório que teriam dito que venceram as ações e que teriam valores a receber.
Para que o valor da suposta indenização fosse depositado em uma conta bancária, os estelionatários afirmavam que seria preciso pagar uma quantia em dinheiro para regularizar uma falsa pendência fiscal.
— Os golpistas faziam contato com número de prefixo 51, e o meu é 55. Pediam confirmação de dados que eles já tinham os dados, como CPF, estado civil, filiação, data de nascimento. A partir da confirmação da pessoa, eles diziam que a pessoa tinha valores a receber. Mandavam um alvará falso com valores de R$ 70 mil, R$ 100 mil, R$ 500 mil e aí pediam uma conta para depositar o dinheiro. Após isso, retornavam o contato dizendo que o pagamento não havia sido feito porque havia pendências fiscais no nome da pessoa, mas que eles resolveriam a partir do pagamento de um valor, geralmente entre R$ 3 mil e R$ 4 mil. Mas não há nenhuma ação, pelo menos das patrocinadas por mim, com decisão, seja favorável ou não — relata o advogado.
Conforme Smaniotto , boletins de ocorrência foram registrados na Polícia Civil. Duas pessoas procuradas pelos golpistas são sobreviventes da tragédia, outras são familiares de vítimas e há ainda casos de outros processos, que não têm relação com a tragédia na Kiss. Nenhuma das vítimas chegou a depositar valores aos criminosos, porque primeiro ligaram a Smaniotto.
O delegado Marcelo Arigony, que responde pela Delegacia Regional da Polícia Civil, afirma que os casos já estão em investigação. Ele explica que se trata de uma espécie de novo golpe do bilhete, já que é pedido dinheiro para receber um valor maior.
— O criminoso cria uma situação fazendo que a vítima acredite e entregue valores. Com relação especificamente a essas ocorrências, elas estão em investigação e esperamos dar uma resposta. Isso retrata o quanto a criminalidade é oportunista e não tem nenhum pudor em extrair valores especialmente em uma situação de fragilidade das pessoas — afirma.
A Polícia Civil orienta que nenhuma informação com dados pessoais ou valores sejam repassadas sem que a pessoa fale pessoalmente com o seu advogado em um caso como esse.