Acusada de ter pago R$ 300 para encomendar a morte do companheiro, Evandra Palmira de Oliveira será ouvida neste mês pela Justiça. O caso aconteceu em dezembro de 2019, em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. O sargento da reserva da Brigada Militar Ezequiel Freire dos Santos, 50 anos, foi morto a tiros dentro da reciclagem que mantinha às margens da BR-116, no bairro Primavera.
No início da noite de 10 de dezembro de 2019, o atirador entrou no local fingindo vender cobre. Ele aproveitou o momento em que o sargento estava distraído para disparar cinco tiros contra a cabeça e o peito dele. A investigação acabaria identificando cinco suspeitos de envolvimento com o crime. Entre eles, está a companheira da vítima, apontada como mandante do assassinato.
Evandra, 43 anos, está presa de forma preventiva no Presídio Feminino Madre Pelletier, na Capital. Ela dará sua versão à Justiça em breve. Foi agendada para 16 de janeiro, às 14h30min, audiência para ouvir a última testemunha de acusação e oito de defesa. Nesta mesma data, devem ser interrogados os réus.
Além de Evandra, respondem ao processo Ricardo de Melo, 38, que confessou ter sido o autor dos disparos, Alex Sebenello de Oliveira, 34, que teria levado o atirador até a reciclagem, e Veronilda Velsi de Oliveira, 82, dona de outra reciclagem próxima. O marido dela chegou a ser réu, mas morreu durante o processo. Segundo a acusação, os mandantes do crime seriam a companheira do sargento e este casal de recicladores, que estaria descontente com os negócios.
No último dia 16 de dezembro, a Justiça negou o pedido da defesa de Alex que solicitou que ele respondesse em liberdade pelo crime, alegando excesso de prazo, já que ele está preso há mais de oito meses. Após essa audiência de janeiro, a Justiça espera encerrar a fase de instrução. Depois disso, o Judiciário deverá definir se os réus devem ser submetidos a júri ou não pelo homicídio.
À polícia, o homem identificado como o criminoso que atirou no sargento confessou ser o autor da execução. Na época, segundo a investigação, Ricardo apontou Evandra, que mantinha relacionamento com o policial havia um ano e 10 meses, como uma das pessoas que teria arquitetado e ordenado a morte.
A mulher, conforme o depoimento do autor confesso, teria alegado que era agredida pelo marido e, por isso, queria que ele fosse morto. Pelo crime, teriam sido pagos R$ 300.
Ricardo relatou que no dia do crime esteve três vezes na reciclagem da vítima: na primeira para saber quem era o policial, na segunda na tentativa de cometer o crime, mas Ezequiel estava saindo em um veículo, e na terceira quando concluiu o plano. Nas três vezes, levou objetos para serem comercializados na reciclagem.
A intenção com o crime, segundo a polícia, seria forjar um assalto, para não levantar suspeitas. Mas pelas imagens, os policiais perceberam que a vítima e o autor não chegaram nem a conversar, o que levantou a hipótese de que se tratasse de uma execução.
A investigação acabou chegando aos outros três suspeitos de envolvimento no crime. Todos foram denunciados pelo Ministério Público como coautores do assassinato. Eles respondem por homicídio triplamente qualificado, por motivo torpe, pagamento e promessa de recompensa e recurso que impossibilitou defesa da vítima.
Os réus
- Evandra Palmira de Oliveira, 43 anos: companheira da vítima por um ano e 10 meses. Foi apontada como mandante do homicídio. Em depoimento à polícia, alegou que era agredida por Ezequiel, mas nega envolvimento no crime. Está presa de forma preventiva.
- Alex Sebenello de Oliveira, 34 anos: segundo a investigação, fez o primeiro contato com Ricardo, levou o autor até o local do crime e auxiliou na fuga. É filho de criação do casal Veronilda e João Carlos. Na casa dele, foi apreendida bermuda idêntica à que aparece nas imagens de câmeras, que mostram um homem acompanhando Ricardo em frente à reciclagem. Está preso de forma preventiva.
- Ricardo de Melo, 38 anos: confessou à polícia ter sido o autor do crime. Disse ter recebido R$ 300 pela execução. Foi identificado a partir das imagens de câmeras de segurança. Está preso de forma preventiva.
- Veronilda Velsi de Oliveira, 82 anos: apontada como uma das mandantes do crime. Residia próximo ao estabelecimento da vítima e tinha uma reciclagem com o marido. O casal decidiu permanecer em silêncio. Está em liberdade, mas com medidas cautelares.
- João Carlos Ribeiro: marido de Veronilda. Segundo a investigação, teria entregue a arma ao autor dos disparos e ordenou que executasse o policial da reserva. Ele e a esposa teriam, segundo o depoimento de Ricardo, feito ainda a entrega do pagamento. O casal ficou em silêncio na fase de investigação. O réu faleceu durante o processo e, por isso, foi extinta a punibilidade.
Contrapontos
O que diz a defesa de Evandra Palmira de Oliveira
A defesa de Evandra, por meio do advogado Nemias Sanches, informou que pretende provar ao longo da instrução processual a inocência da cliente. O criminalista encaminhou nota na qual afirma que espera "sua impronúncia ou absolvição", pois, em seu entendimento, a cliente "está presa somente por um relato equivocado do assassino confesso, sendo o processo judicial o meio adequado para isso, através do contraditório e ampla defesa constitucional".
O que diz a defesa de Ricardo de Melo e Veronilda Velsi de Oliveira
A Defensoria Pública do Estado confirmou que atua na defesa dos réus, mas informou que só se manifesta nos autos do processo.
O que diz a defesa de Alex Sebenello de Oliveira
A advogada Ester Venites enviou nota na qual afirma que está trabalhando "para provar a inocência do cliente, e entende não haver motivos para a prisão do acusado", que já ficou segregado provisoriamente por um ano e quatro meses, e, após a revogação da decisão que concedeu a liberdade, está segregado por mais de oito meses, preventivamente, sem que tenha se encerrado a instrução. "Esclarece que não restou encerrada a instrução do processo, por motivos alheios à vontade do acusado, motivo pelo qual entende a defesa estar mais do que caracterizado o excesso de prazo, motivo pelo qual, continua pleiteando a liberdade provisória do acusado." A advogada afirmou ainda que o réu é primário e que "está preso por um crime que não cometeu".