As imagens captadas pelas câmeras de segurança de uma reciclagem em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, levaram a polícia a suspeitar desde o início que Ezequiel Freire dos Santos, 50 anos, havia sido vítima de um crime encomendado. No início da noite de 10 de dezembro, o atirador ingressou no local, fingindo vender cobre, e aproveitou o momento em que o sargento da reserva estava distraído para disparar cinco tiros contra a cabeça e o peito dele. A investigação acabaria identificando cinco suspeitos, quatro presos de forma temporária e um foragido, como autores do crime. Entre eles, está a companheira da vítima, apontada como mandante. Os detalhes foram revelados pela polícia nesta segunda-feira (23).
À polícia, Ricardo de Melo, 35 anos, identificado como o criminoso que atirou no sargento, confessou ser o autor da execução. Ele apontou Evandra Palmira de Oliveira, 40 anos, que mantinha relacionamento com o policial há um ano e 10 meses, como uma das pessoas que teria arquitetado e ordenado a morte. A mulher, conforme o depoimento do autor confesso, teria alegado que era agredida pelo marido e, por isso, queria que ele fosse morto. Pelo crime, segundo Ricardo, foram pagos R$ 300.
— A intenção seria que parecesse um assalto, para não levantar suspeitas. Mas pelas imagens percebemos que a vítima e o autor não conversam, não demonstravam se conhecer. Desde o início suspeitamos que era um crime encomendado — explica o delegado Márcio Niederauer, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Além deles, também está preso um casal que mantinha uma reciclagem e um centro de umbanda próximo ao estabelecimento de Freire. Veronilda Velsi de Oliveira, 79 anos, e João Carlos Ribeiro, 59 anos, teriam ajudado a a orquestrar o plano da morte e entregue o revólver de calibre 38 ao atirador. Um quinto suspeito, Alex Sebenello de Oliveira, 34 anos, filho de criação deste casal, está foragido.
Atirador
Enquanto ouvia testemunhas, a polícia tentava identificar quem era o atirador que aparecia nas imagens captadas pelas câmeras da reciclagem. Na sexta-feira, dia 13, a companheira da vítima foi ouvida na delegacia. Ela apresentou algumas contradições, que fizeram a polícia passar a suspeitar dela.
Naquele momento, questionada se era agredida pelo marido, Evandra negou. Neste mesmo dia, o atirador foi identificado como um morador de Viamão, usuário de drogas. Ele acabou capturado pela Brigada Militar. Foi levado para depor e acabou confessando o crime.
Ricardo contou que foi procurado por Alex, também morador de Viamão, para fazer uma ligação clandestina de água na casa dos pais dele em Novo Hamburgo. Em uma motocicleta, os dois teriam seguido até lá, onde Ricardo teria sido informado que o serviço era outro. Ele receberia R$ 300 para matar um policial aposentado, vizinho deste casal. Para isso, na residência de Veronilda e João Carlos recebeu um revólver de calibre 38, usado no crime.
— Em depoimento, ele conta que eles alegaram que este homem batia na mulher. E que o crime teria sido encomendado pela esposa — diz o delegado.
O pagamento pela execução teria sido feito por Evandra, mas Veronilda teria exigido ficar com R$ 100. Ricardo contou que no dia do crime esteve três vezes na reciclagem da vítima. Na primeira para saber quem era o policial, na segunda na tentativa de cometer o crime, mas Freire estava saindo em um veículo e na terceira quando concluiu o plano. Nas três vezes, levou objetos para serem comercializados na reciclagem. Na primeira, chegou a vender cobre por R$ 44 ao sargento.
Segundo Niederauer, a versão foi confirmada por imagens de câmeras de segurança. Além disso, na segunda vez em que esteve no local, foi visto por uma testemunha, que reconheceu o autor confesso. Segundo o depoimento de Ricardo, Evandra garantiu que as câmeras estariam desligadas no momento do crime.
— Não sabemos se ela mentiu ou se não conseguiu desligar — afirma Niederauer.
Mandado de prisão temporária
Ricardo de Melo, 35 anos: confessou ter sido o autor do crime. Disse ter recebido R$ 300 pela execução. Foi identificado a partir das imagens de câmeras de segurança. Possui antecedentes por furto e tráfico.
Evandra Palmira de Oliveira, 40 anos: companheira da vítima há um ano e 10 meses. Inicialmente, os policiais não localizaram a mulher, porque ela se mudou após o crime. Ela acabou se apresentando com advogado. Em depoimento, alegou que era agredida por Freire, mas nega ter envolvimento no crime. Em depoimento, o enteado da vítima, filho de Evandra, confirmou que a mãe era agredida.
Veronilda Velsi de Oliveira, 79 anos: apontada como uma das mandantes do crime. Residia próximo à reciclagem da vítima. Mantinha com o marido outra reciclagem e um centro de umbanda. O casal decidiu permanecer em silêncio. No entanto, na quinta-feira (19), durante acareação, Veronilda confirmou que Ricardo esteve na casa dela no dia do crime, acompanhado de Alex, e que Evandra foi até o portão da casa.
João Carlos Ribeiro, 59 anos: marido de Veronilda. Segundo a investigação, entregou a arma ao autor dos disparos e ordenou que executasse o policial da reserva. Ele e a esposa teriam, segundo o depoimento de Ricardo, feito a entrega do pagamento.
Foragido
Alex Sebenello de Oliveira, 34 anos: segundo a investigação, fez o primeiro contato com Ricardo, levou o autor até o local do crime e auxiliou na fuga. É filho de criação do casal preso (Veronilda e João Carlos). Foi cumprido mandado de busca na casa dele, onde foi apreendida uma bermuda idêntica à que aparece nas imagens de câmeras, que mostram um homem acompanhando Ricardo em frente à reciclagem.
O indiciamento
O inquérito ainda está em curso, mas os cinco suspeitos devem ser indiciados por homicídio qualificado por promessa de recompensa, emboscada e recurso que dificultou a defesa da vítima. Ricardo e Alex também por porte ilegal de arma de fogo. Veronilda e João Carlos também por posse irregular de arma de fogo (uma espingarda foi apreendida na casa deles).