A principal suspeita da polícia é de que a cabeça humana encontrada na manhã desta terça-feira (13) no bairro Santa Tereza, na zona sul de Porto Alegre, seja de um homem de 27 anos, morador da Zona Norte, que desapareceu na última sexta-feira (9). O coração da vítima também foi localizado na mochila descartada na Rua Cruzeiro do Sul. No mesmo dia do sumiço, na semana passada, o veículo do desaparecido foi encontrado incendiado com um corpo carbonizado e esquartejado dentro do porta-malas.
Segundo o delegado Newton Martins de Souza Filho, da 6ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), foi realizada coleta de material genético de familiares do desaparecido e do cadáver localizado para verificar se é compatível. O mesmo deve ser feito com a cabeça encontrada nesta terça-feira, que estava dentro de uma mochila de rodinhas.
Por volta das 16h de sexta, um Uno foi encontrado incendiado na Rua Monsenhor Rubens Neis, na Vila Cai Cai, no bairro Cavalhada. Depois que as chamadas foram controladas pelos bombeiros, foi localizado no porta-malas um corpo esquartejado e sem a cabeça.
— Muito provavelmente a cabeça pertence a esse corpo que foi encontrado na sexta dentro do carro incendiado — afirma o delegado.
O veículo onde estava o cadáver pertence à vítima, que desapareceu no mesmo dia. Embora haja forte suspeita de que se trate da mesma pessoa, a polícia preferiu não divulgar a identidade neste momento. Com antecedente criminal por roubo, o homem estava morando atualmente na Zona Norte, para onde havia se mudado havia alguns meses. Antes disso, ele residia na Vila Cruzeiro. As áreas são dominadas por grupos criminosos rivais.
Nas redes sociais do desaparecido, a polícia identificou algumas fotos que indicam envolvimento com a facção que atua na Cruzeiro. Uma das suspeitas é de que o grupo com domínio na Zona Norte, que possui berço no bairro Bom Jesus, possa ter descoberto que o homem estava residindo ali e decidido executá-lo por estar em seu território. A área onde a cabeça foi encontrada pertence ao grupo da Vila Cruzeiro.
Mochila
Conforme o policial, ainda não há certeza sobre o momento no qual a mochila foi deixada na Rua Cruzeiro do Sul, nas proximidades da Avenida Divisa, onde foi localizada no fim da manhã desta terça. Inicialmente, havia uma informação de que ela poderia ter sido arremessada de dentro de um veículo, mas a polícia não localizou nenhuma testemunha que tenha presenciado esta ação.
Uma das possibilidades averiguadas pela polícia é de que essa cabeça tenha sido deixada na Rua Cruzeiro do Sul ainda na sexta-feira, mas só tenha sido localizada nesta terça-feira. A suspeita é de que a mochila pudesse, por exemplo, estar dentro de uma lixeira próxima de onde foi localizada. Um morador relatou que estava brincando com a filha e sentiu forte odor vindo da lixeira.
— Seria difícil imaginar que uma pessoa descartou um corpo na sexta-feira e ficou quase cinco dias mantendo a cabeça na sua posse, indo somente hoje descartar — diz o delegado.
A polícia acredita que algum catador possa ter revirado a lixeira e descartado a mochila. A cabeça, o coração e a mochila foram recolhidos pela perícia para serem analisados.
Crime gravado
Além da cabeça da vítima, a polícia também localizou dentro da mochila o coração. A polícia havia recebido recentemente um vídeo no qual um homem é esquartejado e depois tem o coração arrancado do corpo.
— Agora sabemos que esse vídeo é verdadeiro. Mataram, cortaram a cabeça e retiraram o coração — diz o delegado.
Caso anterior
Em 24 de agosto deste ano, outra cabeça também foi arremessada na calçada da Rua Cruzeiro do Sul, no bairro Santa Tereza. Daquela vez, os criminosos passaram pelo local em um veículo e jogaram um saco de lixo na rua. Dentro dele, estava a cabeça da vítima, que mais tarde foi identificada como Zambi Rodrigues Barros, 29 anos.
Naquela ocasião, a investigação concluiu que o crime estava vinculado à guerra pelo tráfico de drogas em Porto Alegre. Conforme a Polícia Civil, o homem tinha envolvimento com o comércio de narcóticos na região e ligação com o grupo criminoso que nasceu na Vila Cruzeiro e atua na zona sul da Capital. Zambi havia sido raptado de dentro de casa, no bairro Cavalhada, horas antes do crime.
No entanto, a polícia acredita que a execução investigada agora possui um contexto um pouco diferente. Embora a cabeça tenha sido deixada numa área de domínio da facção, a polícia acredita que o homicídio tenha ocorrido pelo fato de a vítima estar residindo no bairro onde atuam os rivais. Ainda assim, reconhece a brutalidade empregada no crime.
— Até agora, não se estabelece um contexto de guerra entre as facções, mas de identificação de uma pessoa dos contra, que eles decidiram matar — diz o delegado.
A polícia buscou imagens de câmeras de segurança, para tentar descobrir quem deixou a cabeça no local, mas ainda não foi possível identificar.