Uma das maiores operações de telentrega de drogas da região metropolitana de Porto Alegre, segundo a Polícia Civil, foi desarticulada na manhã desta quinta-feira (24) em uma operação realizada no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Integrantes de uma facção que tem base na zona leste da Capital vendiam drogas sintéticas, como ecstasy, MDMA e LSD, além de maconha contrabandeada do Uruguai.
Segundo a investigação, os criminosos lavaram mais de R$ 1 milhão em dinheiro obtido com o tráfico em apenas sete meses de 2022, por meio depósitos bancários em nome de laranjas, mas também da aquisição de empresas de fachada, motos aquáticas e carros de luxo, sendo alguns para revender. O grupo ainda comprou imóveis em construção, para revender depois de concluídos e lucrar mais.
Cerca de cem agentes, coordenados pelo titular da 2ª Delegacia do Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc), delegado Wagner Dalcin, cumpriram 23 mandados de prisão, sendo três deles de suspeitos já no sistema prisional, e outros 23 de busca e apreensão. A chamada Operação The Office foi realizada em cinco cidades gaúchas: Porto Alegre, Viamão, Canoas, São Leopoldo e Cachoeira do Sul. Os três municípios catarinenses onde houve ação policial são Florianópolis, Palhoça e Passo de Torres.
Ao total, foram 20 presos, incluindo uma gerente de uma agência bancária e um jogador de futebol, com atuação remunerada em competições amadoras do Estado. Houve apreensão de cinco carros.
Dalcin diz que esta operação de telentrega de drogas é considerada uma das maiores da Região Metropolitana. Um dos investigados é considerado o líder do esquema e está associado a uma facção criminosa. O suspeito tinha um público específico e só atuava na modalidade de entrega à domicílio para milhares de consumidores. O delegado ainda ressalta que a maioria dos compradores era de classe alta ou classe média.
— E, por meio de uma lista com nomes e telefones de milhares de clientes assíduos durante o ano inteiro, vimos nomes de centenas de universitários e vários professores, além de profissionais da área da saúde —ressalta Dalcin.
As compras eram negociados por meio de redes sociais e WhatsApp e os pagamentos sempre feitos por Pix. Os traficantes vendiam todo o tipo de droga sintética, mas, conforme os anúncios feitos por eles na internet, ecstasy, LSD e MDMA eram os principais. A polícia encontrou até uma tabela de preços por unidade e por grama. A droga era encomendada basicamente de Santa Catarina.
Em relação à maconha, Dalcin destaca que eles vendiam apenas a "flor" ou "camarão" do Uruguai. O entorpecente tem um maior poder alucinógeno e cada grama custa mais de R$ 50.
Investigação
A investigação que levou à Operação The Office começou em outubro de 2021, quando agentes da 2ª Delegacia do Denarc prenderam, na Região Metropolitana, um suspeito que transportava drogas sintéticas em um carro. Após denúncia, os policiais passaram a monitorar uma rota utilizada pela facção entre Santa Catarina e o Rio Grande do Sul. Com a identificação de suspeito, veículo e trajeto, a Justiça foi acionada.
De posse de mandado de busca e apreensão, os policiais civis abordaram o criminoso na chegada a Porto Alegre. No interior do automóvel havia 120 comprimidos de ecstasy, avaliados em R$ 40 mil. Também foi apreendida uma pistola calibre 9 milímetros. O suspeito, preso em flagrante, ainda teve celular apreendido e prestou depoimento. Esta prisão foi a base para que a polícia desarticulasse o que o delegado Dalcin classifica com um dos maiores e mais lucrativos esquemas de telentrega de drogas e lavagem de dinheiro.
Lavagem de dinheiro
A investigação continuou até ser deflagrada nesta quinta-feira a operação policial. Os agentes também realizaram o bloqueio de 27 contas bancárias — em nome de supostos laranjas — e 10 apreensões judiciais de veículos e imóveis. Além de um suspeito de comandar o esquema, foram identificados vendedores das drogas e operadores financeiros. Os alvos são dos dois Estados.
O delegado Dalcin informa que o responsável por coordenar os investigados lucrou, apenas com a telentrega, um valor superior a R$ 1 milhão nos primeiros sete meses do ano. Ele comprava a droga de Santa Catarina e do Uruguai para revender para compradores individuais, mas, em alguns casos, também fornecia para festas realizadas na Região Metropolitana. O lucro era dividido em várias partes.
Uma delas para a logística do tráfico, pagamento dos traficantes e compra de mais drogas. Outra parte era para a lavagem de dinheiro. Laranjas de Porto Alegre eram cooptados para emprestarem seus nomes com o objetivo de abrir contas bancárias. São 27 pessoas, algumas delas foram alvo da ação realizada nesta quinta-feira e outras serão investigadas posteriormente.
O Denarc ainda conseguiu comprovar a aquisição de pelo menos uma empresa de fachada. O grupo comprou duas motos aquáticas e veículos de luxo, incluindo blindados.
A polícia ainda apura operações do grupo para revender veículos na fronteira com o Paraguai. Entre os bens adquiridos pela facção para lavar dinheiro, estão um terreno em Gravataí e três imóveis na Capital, sendo dois ainda na planta.
— Este era outro ramo da lavagem de dinheiro deles. A ideia era injetar dinheiro na compra de vários imóveis na planta para ter um lucro ainda maior com a venda dos empreendimentos. Esta foi uma foi uma investigação policial técnica, minuciosa e complexa, visando a identificação dos membros organizados e com grande poderio financeiro, constituindo um verdadeiro "empreendimento" criminoso voltado ao narcotráfico, atendendo clientes de classe alta e média, principalmente de Porto Alegre — destaca o diretor de investigações do Denarc, delegado Alencar Carraro.
Os nomes dos presos não foram divulgados pelo Denarc. Os delitos apurados são associação criminosa, tráfico de drogas e lavagem de capitais. O trabalho de investigação segue, com objetivo de identificar fornecedores das drogas e responsáveis pela lavagem de dinheiro.