Mais um ataque a tiros, que deixou três mortos há uma semana na zona norte de Porto Alegre, foi motivado pela disputa entre facções criminosas na Capital. Dois homens e uma mulher morreram após serem baleados na ação. Uma das vítimas, segundo a polícia, não seria o alvo dos atiradores. O caso é investigado pela 5ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
O crime aconteceu no início da noite da última segunda-feira (14), na véspera do feriado da Proclamação da República. Por volta das 19h30min, dois homens estavam em frente a uma residência, na Avenida Arroio Feijó, no bairro Mario Quintana, quando foram atacados. Os autores dos disparos teriam saltado de dentro de um veículo.
Em frente a essa casa, foram baleados Lucas Fagundes Bessa, 24 anos, e Richard Escouto Borba, 28. Além dos dois, que seriam os alvos dos criminosos, uma mulher foi atingida. Cleia da Silva Lopes, 37 anos, teria ido até um mercado próximo dali e acabou sendo baleada durante o ataque. Segundo o que foi apurado pela polícia até o momento, ela foi alvejada somente porque estava nas proximidades, sendo vítima de bala perdida.
— A princípio, ela não tinha relação, somente os demais — afirma o delegado Gabriel Lourenço, da 5ª DHPP.
Dos três baleados, Cleia e Borba morreram no local. Já o outro jovem chegou a ser socorrido, mas não resistiu e morreu durante o atendimento.
A área onde aconteceram os disparos é de domínio de uma facção, nascida no bairro Santa Tereza, na Zona Sul, e formada a partir da fusão de várias quadrilhas, rivais de outro grupo, com berço no bairro Bom Jesus, na Zona Leste. Esse grupo tem se envolvido em série de episódios violentos registrados na Capital nos últimos meses. Mas o que motivou o ataque da última segunda-feira (14) ainda é investigado.
— Esse crime se deu num contexto de disputa entre facções criminosas rivais. É basicamente isso — afirmou o delegado Lourenço, sem detalhar quais grupos estão ligados diretamente a esse ataque.
Troca de tiros
Logo depois de atirarem contra as vítimas, os criminosos teriam embarcado novamente no mesmo veículo e seguido em fuga. Neste momento, no entanto, depararam com uma guarnição da Brigada Militar, que trocou tiros com os bandidos. Logo depois, o carro, um Linea, foi abandonado nas proximidades e apreendido para ser periciado. Segundo o delegado, a polícia está trabalhando para identificar e prender os envolvidos no ataque.
— O caso está bem encaminhado. Está andando muito bem a investigação. Espero concluir o inquérito nas próximas semanas, dando resposta para as famílias e para a sociedade — disse.
O policial preferiu não informar, no momento, se já há algum suspeito identificado pelo crime e se o fato está vinculado a outros episódios violentos que ocorreram naquele mesmo período e na região. Perto dali, na mesma noite, por volta das 22h, na Rua Corrêa de Mello, no bairro Sarandi, outro homem foi morto, com quatro disparos.
Ainda nesta semana, na mesma região onde aconteceu o triplo homicídio, na Vila Timbaúva, a Brigada Militar prendeu cinco homens, numa apreensão de armas e drogas. Foram encontradas três pistolas calibre 9 milímetros, um fuzil calibre 556, além de munições para diversos calibres, carregadores para as armas e porções de crack em uma casa. Um dos presos, de 24 anos, usava tornozeleira eletrônica.
Aumento de homicídios
Em outubro, Porto Alegre teve aumento de 23,8% nos homicídios, em meio a essa disputa entre grupos criminosos. Foram registrados 26 assassinatos no período, o que levou a Capital a ter o outubro mais violento dos últimos quatros — em 2018, tinham sido 27 vítimas.
A disputa entre facções criminosas é apontada pelas forças de segurança como o principal fator por trás desse aumento. No fim de junho, a Capital passou a viver a segunda onda de violência no ano, que tem como fundo os atritos entre grupos vinculados ao tráfico. Os números registrados em outubro, segundo a polícia, ainda são resquícios dos conflitos.
Segundo a Brigada Militar, 73% das vítimas assassinadas em outubro em Porto Alegre possuíam antecedentes policiais. Conforme o Comando de Policiamento da Capital, neste ano foram realizadas pelo menos 1,8 mil prisões, apreendidas cerca de 230 armas, 4 mil munições e 1,7 mil veículos.