Em agosto deste ano, três vacas holandesas desapareceram de uma escola agrícola na área rural de Viamão, na Região Metropolitana. Os animais, que integravam rebanho selecionado para competir na Expointer, em Esteio, foram furtados por criminosos. O caso foi parar na Polícia Civil, que acabou descobrindo um esquema que envolvia mais do que abigeato. Na última sexta-feira (30), ao cumprir mandados numa hotelaria de cavalos no município, os policiais encontraram duas toneladas de maconha armazenadas.
Quando ingressaram na propriedade, na localidade de Passo do Vigário, os agentes avistaram pela janela de um dos galpões da propriedade fardos embalados. As pilhas de drogas eram tão altas que era possível visualizar da rua. Os policiais seguiram até o local e subiram em uma escada de madeira improvisada. No topo, depararam com os tijolos de maconha empilhados.
— Era um local pequeno e tinha muita droga. Quem estava ali tinha conhecimento, não tinha como não ver, mesmo da rua — detalha a delegada Jeiselaure de Souza, titular da 1ª Delegacia de Polícia de Viamão.
Materiais encontrados no local revelaram que a quantidade era ainda maior e que estava armazenada ali havia 10 dias. Num caderno de anotações apreendido na hotelaria, constava espécie de controle dos entorpecentes. As anotações indicam que o carregamento chegou ao local no feriado de 20 de setembro e que, naquela data, havia 2.491 quilos da droga. Quando a polícia chegou à hotelaria, havia 2.133 quilos — ou seja, mais de 300 quilos já haviam sido retirados dali.
Três homens e uma mulher foram presos em flagrante pelo crime de tráfico de drogas. Os três, que moravam ou trabalhavam na propriedade, tiveram prisão preventiva decretada pela Justiça e a mulher recebeu o direito de permanecer em prisão domiciliar. Os quatro foram ouvidos pela polícia no dia da prisão, mas a delegada optou por não revelar o teor dos depoimentos, para não atrapalhar o andamento da investigação.
Do abigeato ao tráfico
Foi a apuração do furto das três vacas holandesas que levou a polícia a identificar a hotelaria como um possível ponto utilizado para atividades criminosas. Inicialmente, o delito investigado era o abigeato (furto de animais), mas a investigação começou a encontrar indícios de que outros crimes poderiam estar sendo praticados pelo mesmo grupo, como o tráfico de drogas. Por isso, quando os policiais chegaram à propriedade já esperavam encontrar entorpecentes e armas, só não suspeitavam de que seria nesse volume.
— É uma quantidade impressionante de drogas, com fardos pesados, uma apreensão muito significativa. Não há dúvida do envolvimento de todos os presos na organização criminosa. Com atividades bem distribuídas, mas as investigações seguem em andamento — afirma Jeiselaure.
Segundo a delegada, devido à extensão territorial de Viamão e a existência de propriedades rurais, não é incomum deparar com esse cruzamento de crimes rurais com outros delitos. Como neste caso em que a polícia apurava um furto de animais e acabou descobrindo parte de um esquema envolvendo o tráfico de drogas.
— Estamos com nosso olhar voltado também para esses crimes rurais que, sim, acabam sendo rota de passagem para a prática de outros tipos, como tráfico ou delitos patrimoniais — diz a delegada.
A polícia segue apurando a procedência da droga encontrada no local e para onde estava sendo distribuída. A delegada não afirma, já que a apuração está em andamento, mas a quantidade de entorpecentes indica o envolvimento de grupo criminoso organizado. As facções costumam adquirir as drogas em grandes quantidades e depois fazer a distribuição.
Os policiais também investigam a vinculação desse grupo com abigeatos ocorridos no município. Durante a apreensão na sexta-feira, foram encontrados no local veículos, suspeitos de terem sido usados em furtos de animais, um reboque, um caminhão e cinco motocicletas com numeração raspada e adulteração de sinal. Também foram encontradas duas espingardas e munição para as armas.
As vacas furtadas da escola agrícola não foram encontradas na hotelaria, e a polícia segue investigando o paradeiro dos animais.
Últimas apreensões
O Rio Grande do Sul registrou série de apreensões de maconha em quantidades expressivas. Confira as mais recentes:
Lajeado
Duas toneladas de maconha foram apreendidas em 24 de setembro pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) durante uma operação de combate ao tráfico de drogas na BR-386, em Lajeado, no Vale do Taquari. A droga estava escondida em uma carga de 30 toneladas de milho que era transportada por uma carreta.
O condutor do veículo e a esposa, ambos de 46 anos, foram presos em flagrante. Os dois são naturais do Paraná, onde também estava registrado o veículo. De acordo com a PRF, ao abordarem a carreta, o condutor apresentou as notas fiscais referentes à carga de milho. Os policiais realizaram buscas no veículo e encontraram diversos pacotes de maconha.
Passo Fundo
Agentes da PRF fizeram em Passo Fundo, no norte do Estado, a maior apreensão de drogas em rodovias gaúchas neste ano. Na manhã de 14 de setembro, os policiais encontraram 2,9 toneladas de maconha em carga de milho transportada por uma carreta.
O motorista, de 49 anos e sem antecedentes criminais, era morador de Imbituba, no litoral sul catarinense. O caminhão carregado de milho e maconha havia partido do oeste do Paraná. O caminhoneiro, que não teve a identidade divulgada, informou que o veículo tinha como destino a cidade de Estrela, no Vale do Taquari.
Tabaí
Em 26 de julho, a PRF havia realizado outra apreensão expressiva de maconha no Estado. Daquela vez, a abordagem se deu no Vale do Taquari, em Tabaí. Os policiais pararam um caminhão, com placas do Paraná, que seguia em direção a Porto Alegre. O motorista desobedeceu, acelerou o veículo e entrou num matagal, onde fugiu correndo.
O caminhão estava abarrotado de sacos de terra fertilizada – numa estratégia muito semelhante à usada desta vez. Sob a carga, os policiais retiraram pacotes de maconha, que pesaram duas toneladas da droga. Foi a segunda maior apreensão de narcóticos realizada pela PRF neste ano no Estado.