Quando foi abordado em Passo Fundo, no norte do Estado, na manhã da última quarta-feira (14), o motorista de uma carreta alegou que transportava apenas milho. Realmente, sob a lona do veículo havia 37 toneladas dos grãos. Mas bastou os agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) vasculharem mais a fundo na carga para descobrirem centenas de pacotes escondidos. De dentro deles, foram retiradas 2,9 toneladas de maconha, que representam a maior apreensão de drogas realizada em rodovias do Rio Grande do Sul neste ano.
A PRF não dá detalhes de como conseguiu rastrear o caminhão – uma forma de não alertar outros criminosos e atrapalhar novas empreitadas. Mas, em geral, esse tipo de abordagem conta com informações de inteligência para filtrar quais veículos serão parados numa blitz. O norte do RS é um dos principais caminhos usados por grupos criminosos para transportar cargas ilegais que chegam ao Brasil vindas do Paraguai, e tem como destino a Região Metropolitana e o Uruguai. Ali também é rota de passagem de carregamentos vindos da Argentina, como vinhos e agrotóxicos.
Naquela manhã, os agentes já percorriam a região tentando localizar a carreta, pela suspeita de que pudesse estar transportando ilícitos para uma organização criminosa. O caminhão carregado de milho e maconha havia partido do oeste do Paraná. Dali, seguiu adiante passando por Santa Catarina, até ingressar no Estado pelo Norte. Quando cruzava pela BR-285, no trecho de Passo Fundo, por volta das 9h, foi abordado por duas equipes da PRF.
Morador de Imbituba, em Santa Catarina, e sem antecedentes, o motorista de 49 anos entregou aos agentes as notas fiscais da carga de milho. Alegou que seguiria até Estrela, a cerca de 180 quilômetros dali. A nota fiscal indicava que a carga deveria realmente ser entregue no município do Vale do Taquari.
– Como havia suspeita, foi feita a fiscalização minuciosa na carga – detalha o chefe de comunicação da PRF no RS, Felipe Barth.
Quando ergueram as lonas do caminhão, os policiais encontraram a carga solta de grãos, mas um pouco mais ao fundo localizaram os fardos embalados. Dentro deles, estavam escondidos os tijolos de maconha. Foi preciso remover a carga de milho para fazer a retirada completa dos pacotes de drogas. Estima-se que a apreensão tenha acarretado prejuízo de pelo menos R$ 6 milhões ao grupo criminoso, segundo a PRF.
Preso em flagrante por tráfico de drogas, o condutor foi levado até a Polícia Federal de Passo Fundo, de onde foi encaminhado para um presídio da região. O destino da droga, quem seriam os responsáveis pela aquisição e pela contratação condutor serão pontos apurados pela investigação federal. Aliciar condutores que transportam carga para esconder os entorpecentes entre os produtos não é uma estratégia nova usada pelo crime. As apreensões realizadas rotineiramente pelos policiais demonstram isso.
– Já tivemos várias apreensões do tipo, em meio às mais variadas cargas. Muitas de milho, outras de mudança, eletrônicos, madeira, vegetais. Normalmente quando em grande quantidade, (a droga) vêm misturada a cargas legais. Em menor quantidade costuma vir em fundos falsos – explica Barth.
Segunda maior do ano
Há menos de dois meses, em 26 de julho, a PRF havia realizado outra apreensão expressiva de maconha no Estado. Daquela vez, a abordagem se deu no Vale do Taquari, em Tabaí. Os policiais pararam um caminhão, com placas do Paraná, que seguia em direção a Porto Alegre. O motorista desobedeceu, acelerou o veículo e entrou num matagal, onde fugiu correndo.
O caminhão estava abarrotado de sacos de terra fertilizada – numa estratégia muito semelhante à usada desta vez. Sob a carga, os policiais retiraram pacotes de maconha, que pesaram duas toneladas da droga. Foi a segunda maior apreensão de narcóticos realizada pela PRF neste ano no Estado.
Maconha é a droga mais apreendida
Ao longo deste ano, a PRF já apreendeu 18 toneladas de entorpecentes no Estado. Desse total, 91,6% é de maconha, com 16,5 toneladas da droga localizadas pelos agentes nas rodovias do RS. O total, no entanto, é inferior ao que foi apreendido no mesmo período do ano passado. Num ano de recorde de apreensões, de janeiro a setembro de 2021, a PRF localizou 26 toneladas de drogas. Daquela vez, a maior parte também era de maconha, com 24,5 toneladas.