O governador Ranolfo Vieira Júnior falou pela primeira vez nesta segunda-feira (22), em entrevista à Rádio Gaúcha, sobre a morte do jovem Gabriel Marques Cavalheiro, 18 anos, após abordagem da Brigada Militar em São Gabriel, na Fronteira Oeste. Segundo Ranolfo, que foi delegado de polícia e secretário de Segurança Pública do Estado, a ação dos policiais envolvidos — que estão presos desde a última sexta-feira (19) — contraria "qualquer procedimento normal".
— Como governador do Estado, tenho que ter todo o cuidado para que esse fato seja apurado, e não tenho dúvida de que será apurado à exaustão. Mas não posso fazer juízo antecipado sobre qualquer questão referente a essa abordagem. Claro, não tenho como dizer que uma abordagem dessa natureza seja correta: algemar alguém, colocar dentro de uma viatura e largar num local ermo. Isso tá fugindo totalmente à normalidade.
Ranolfo falou ainda sobre o debate envolvendo o uso de câmeras nos uniformes dos policiais no RS. De acordo com ele, o planejamento é ter, ao final deste ano, mil equipamentos do tipo em uso pela BM, inicialmente em Porto Alegre.
O governador voltou a dizer que é favorável à implementação das câmeras nas polícias gaúchas:
— É uma tecnologia importante para segurança, e nós somos totalmente favoráveis à utilização de câmeras corporais. Todo o mundo moderno já vem usando essa tecnologia.
Também em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, o comandante-geral da BM, Cláudio dos Santos Feoli, comentou o uso das câmeras pelos integrantes da corporação. Para ele, a novidade deve dar "maior transparência" e "facilitar a produção de provas contra criminosos".
— É importante deixar claro que a Brigada Militar é uma instituição de Estado, portanto, não entra em qualquer questão política. Como instituição de Estado, nós buscamos sempre a transparência e excelência na prestação de serviços. As câmeras corporais são uma realidade que está prestes a ser implementada na instituição e, com certeza, trará maior transparência para todas as ações policiais.
Governador diz que vai conversar com pai de Gabriel
Também em entrevista à Rádio Gaúcha nesta manhã, o avô de Gabriel, Nilton Trindade da Costa, afirmou que a família não recebeu, ainda, qualquer contato do governo do Estado a respeito do ocorrido e que tem acompanhado os andamentos da investigação pelos meios de comunicação.
— Não falamos com o governo, eles não se apresentaram para nada. Não falaram nada para nós, o que foi, como aconteceu, a gente não sabe. Só esperando a perícia, para ver o que aconteceu com ele (Gabriel).
Questionado a respeito, o governador Ranolfo Vieira Júnior confirmou que não fez contato com familiares, mas disse que pretende ligar, ainda nesta segunda-feira, para o pai de Gabriel, Anderson da Silva Cavalheiro.
— Nós não fizemos contato. Estou, inclusive, com o telefone celular do Anderson, pai do Gabriel. Não quis fazer esse contato ontem, domingo, dia do sepultamento do jovem. Não quis fazer esse contato, achei que não era o momento mais adequado.
— Quero ver se faço ainda hoje este contato com o pai do Gabriel, com os seus familiares, me solidarizando como governador, mais uma vez, diretamente a eles, e colocando à disposição todo esse auxílio, assistência psicológica e tudo o mais que for necessário — acrescentou o governador.
Quanto ao andamento do processo, Ranolfo, que foi delegado de polícia, destacou que não é possível divulgar todos os avanços de uma investigação corrente, porque há risco de o trabalho ser prejudicado, mas afirmou que vai reavaliar o procedimento de atualização da família.
— Vou verificar com os presidentes dos inquéritos que estão em andamento, com o próprio Ministério Público, a possibilidade de ir informando a família passo a passo. Acho difícil. O importante é que o empenho nosso, do Estado, é absoluto no sentido de que, efetivamente, isso venha a ser elucidado na sua forma integral.
Ouça a entrevista do governador do RS ao "Atualidade":
Morte em São Gabriel
Gabriel Marques Cavalheiro era natural de Guaíba, na Região Metropolitana, e havia se mudado para São Gabriel para cumprir serviço militar obrigatório. Ele foi dado como desaparecido no último dia 12, após ser alvo de uma abordagem da Brigada Militar em frente a uma residência.
Segundo a proprietária da casa, já era tarde da noite quando Gabriel surgiu alterado no portão, dizendo que estava perdido. Como ela não o conhecia, acionou a polícia. Depois, disse ter visto Gabriel ser agredido pelos PMs, algemado e colocado na viatura.
O corpo do jovem foi encontrado na sexta-feira, dentro de um açude na localidade de Lava Pé. No mesmo dia, três policiais militares foram presos preventivamente. Eles admitem que levaram Gabriel ao local, o que teria ocorrido a pedido do jovem, que queria procurar por familiares. Os nomes deles não foram divulgados.
O laudo do Instituto-Geral de Perícias (IGP) que apontará a causa da morte de Gabriel deve ficar pronto em 30 dias.