O desaparecimento de Gabriel Marques Cavalheiro, 18 anos, é o principal assunto em São Gabriel, na Fronteira Oeste, e seu paradeiro continua um mistério. Por onde se anda na área central e nos bairros mais afastados, as conversas são sobre o caso. Familiares que moram em Guaíba estão no município para acompanhar as buscas ao jovem, que sumiu após abordagem feita pela Brigada Militar (BM) em frente a uma residência na Rua Sete de Setembro, no bairro Independência, na sexta-feira (12).
A ida dos PMs ao local ocorreu após um chamado para o telefone 190. GZH conversou com a vizinha que fez essa ligação. Paula Lima da Silva, 38 anos, disse que passava das 23h quando sua filha e afilhada, de 11 e 14 anos, respectivamente, correram do pátio da frente para dentro da residência assustadas.
Conforme a dona de casa, elas disseram que um jovem estava tentando entrar na residência, forçando o portão. Imediatamente, ela foi até o local para ver o que estava acontecendo e conversar com o jovem e viu que os cachorros estavam atacando o rapaz pelas grades. Paula disse que não sabia que se tratava do sobrinho de um vizinho próximo.
Segundo ela, Gabriel estava alterado, com aparência de estar embriagado, e pedia para entrar, sob o argumento de que queria falar com uma prima chamada Paula. A dona de casa, que tem esse nome, disse a ele que a única Paula que tinha naquela residência era ela e que não o conhecia.
— Eu tentei falar com ele, mas ele não me deu muita explicação. Os cachorros avançaram muito nele. Eu, assustada, fui para dentro de casa e chamei por quem? Pela nossa segurança da cidade, né. A Brigada — conta.
Segundo Paula, os policiais militares chegaram em no máximo 10 minutos e fizeram a abordagem do jovem. Ela conta que ele teria resistido e sido agredido.
— Revistaram ele, viram a documentação dele. Ele falou que não era daqui, que estava perdido. Aí a Brigada ficou um pouco com ele ali. Ele tomou um tapa no rosto. Ficou sentado no chão, como mostram as fotos que estão circulando. Aí depois eles levantaram ele e colocaram na viatura algemado e levaram. Mas ele saiu daqui bem — sustenta a dona de casa.
Paula reclama que está se sentindo intimidada nas redes sociais por ter sido uma espécie de responsável pelo desaparecimento de Gabriel, na medida que os policiais só o levaram porque foram chamados por ela.
— Eu chamei a Brigada Militar para a minha segurança, porque eu não sabia quem ele era. Não sou responsável pelo que faz a Brigada Militar — argumenta, ao dizer que nem mandou a filha para a escola nesta quinta com temor de represália na rua.
A residência de Paula fica próxima de onde estava morando Gabriel. São cerca de 50 metros de distância.
O bar
Antes de ir até a casa de Paula, pouco depois das 23h, Gabriel passou em um bar que fica na mesma rua. GZH teve acesso às câmeras de segurança do local. Por volta das 20h30min, ele aparece entrando e rapidamente saindo com algo nas mãos. O dono do estabelecimento, que não quis se identificar, disse que ele comprou uma garrafa de Corote, de 500ml, bebida cujo teor alcoólico é de 13,5%.
A família
GZH esteve na residência de tios de Gabriel que moram em São Gabriel. No local, estavam os proprietários da casa, Luiz Carlos Lassen e Sandra Terezinha da Costa Machado, a irmã Soila Inês Marques e os avós maternos Soilamar e Nilton Trindade. Parte dos parentes estava naquele momento acompanhando as buscas em um açude, na localidade de Lava-Pé, a cerca de três quilômetros dali.
Eles contaram que Gabriel estava havia 15 dias na cidade para se apresentar para o serviço militar obrigatório em um quartel. Morador de Guaíba, ele queria servir em São Gabriel por gostar do campo, de cavalos e por ter um quartel com essas características, além de poder contar com parte da família.
— É um guri tranquilo. Morou 10 dias conosco — conta Lassen, ao dizer que depois o jovem foi morar na residência de outro tio.
Enquanto estivemos na sala conversando com a família, os celulares não paravam de tocar. Eram amigos querendo saber novidades sobre Gabriel. A cada ligação, uma lamentação por não ter notícias sobre o jovem.
— Nós esperamos encontrá-lo. Espero que ele esteja bem, mas seis dias hoje, né... — lamentava Soila, ao se mostrar indignada com o que considera falta de melhores explicações por parte da BM.
O avô Nilton chorava a cada ligação. Ao conversar com a reportagem, era só elogios ao neto.
— Era um guri ótimo demais, respeitador. Ele sempre quis vir pro Exército e seguir carreira. Ele gostava muito de tradicionalismo. Gostava de fazenda que era uma coisa de louco. Onde estivesse um cavalo, lá ele gostaria de estar — destaca o avô.
O que diz a Brigada Militar
GZH tentou ao longo da tarde falar com o comandante da BM em São Gabriel, major Aníbal Silveira, mas as ligações não foram atendidas e as mensagens não foram respondidas. A corporação enviou uma nota à reportagem:
“A Brigada Militar vem a público esclarecer que, referente aos fatos ocorridos na cidade de São Gabriel, RS, o Comando Regional de Polícia Ostensiva da Fronteira Oeste abriu IPM (Inquérito Policial Militar) com a finalidade de apurar os fatos. Gabriel Marques Cavalheiro está desaparecido desde sexta-feira, 12/08”, diz um trecho da nota.
As buscas
Bombeiros fizeram buscas ao longo desta quinta-feira (18) em um açude na localidade de Lava-Pé, mas não encontraram o jovem. Uma embarcação foi utilizada. Na quarta-feira (17), um casaco de Gabriel havia sido encontrado próximo à água. A roupa foi levada para perícia. A viatura usada pelos PMs também será periciada.
As investigações
Os policiais militares envolvidos na abordagem foram afastados do policiamento de rua e respondem ao Inquérito Policial Militar. Um inquérito também foi instaurado pela Polícia Civil. O delegado José Soares Bastos já ouviu uma série de testemunhas. Nesta quinta-feira, ele esteve no local das buscas, acompanhado de outros investigadores.