Os policiais militares envolvidos na morte de Gabriel Marques Cavalheiro, em São Gabriel, já haviam sido alvos de Inquérito Policial Militar no passado. A informação foi revelada pelo comandante-geral da Brigada Militar, coronel Claudio dos Santos Feoli, em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha nesta segunda-feira (22).
— Eles já responderam inquéritos e isso tudo está sendo analisado agora, na realização do Inquérito Policial Militar, e pode ser circunstância de majorante ou minorante do que vai ser mais adiante determinado. Existe uma passagem por abuso de autoridade e o restante são questões da caserna — afirmou o coronel Feoli, destacando, ainda, que os investigados seguem presos. Ele não forneceu mais detalhes sobre as ocorrências. Os três policiais envolvidos eram experientes, com tempos de carreira na corporação entre cinco e 16 anos.
O comandante-geral da BM também disse que, já em um primeiro momento, antes mesmo da confirmação da morte de Gabriel, havia provas concretas para enquadrar os policiais no crime de fraude processual, o que já motivou o afastamento das atividades, o pedido de prisão preventiva e a apreensão dos celulares deles.
— Num primeiro momento, as provas concretas são a não observância de um procedimento operacional padrão. A partir deste momento, nós já temos um registro inicial que não coadunou com a verdade. Este registro mencionava que o Gabriel havia sido liberado no local da abordagem, após o despacho da ocorrência pelo 190, o que, de fato, não se deu. Aqui já verificamos, no mínimo, um crime, que é o de fraude processual — explicou.
Ele também explicou o porquê dos nomes do policiais não terem sido divulgados até o momento.
— Nós temos uma lei de abuso de autoridade que serve para todos os cidadãos brasileiros e nós nos restringimos de fazer divulgação do nome de todos os presos que temos durante o cotidiano no Estado. Não seria diferente para os policiais militares neste caso — esclareceu.
Em relação ao andamento da investigação, o coronel Feoli destacou que há previsão de que seja feita uma reprodução simulada dos fatos para auxiliar nas investigações, mas que ainda não há data marcada para este procedimento. Ele afirmou que os celulares dos policiais, que foram apreendidos, serão periciados e também são coletados mais dados para embasar o inquérito.
— É importante que se diga que a própria Brigada Militar tem interesse que isso seja feito (a investigação) da forma mais rápida e mais técnica possível, porque nós não coadunamos com esse tipo de erro — disse o comandante-geral da BM.
Ouça a entrevista na íntegra:
Relembre o caso
Gabriel Marques Cavalheiro era natural de Guaíba, na Região Metropolitana, e havia se mudado para São Gabriel para cumprir serviço militar obrigatório. Ele foi dado como desaparecido no último dia 12, após ser alvo de uma abordagem da Brigada Militar em frente a uma residência.
Segundo a proprietária da casa, já era tarde da noite quando Gabriel surgiu alterado no portão, dizendo que estava perdido. Como ela não o conhecia, acionou a polícia. Depois, disse ter visto Gabriel ser agredido pelos PMs, algemado e colocado na viatura.
O corpo do jovem foi encontrado na sexta-feira, dentro de um açude na localidade de Lava Pé. No mesmo dia, três policiais militares foram presos preventivamente. Eles admitem que levaram Gabriel ao local, o que teria ocorrido a pedido do jovem, que queria procurar por familiares. Os nomes deles não foram divulgados.
O laudo do Instituto-Geral de Perícias (IGP) que apontará a causa da morte de Gabriel deve ficar pronto em 30 dias.