Mesmo tendo sido a última pessoa da família a falar com Elizete Vieira da Silva, 31 anos, o irmão dela, Pedro Joceli Vieira da Silveira, 50, não pôde nem se despedir. Ela queria saber quanto cobraria por uma corrida de Santa Maria até o município de Dilermando de Aguiar, na Região Central. Após o irmão sugerir o valor, Elizete desligou antes de ele perguntar quem era o passageiro.
Em 6 de janeiro de 2012, a mototaxista sumiu após essa ligação para o irmão. Mesmo tendo passado mais de uma década, Silveira, que ainda trabalha com transporte de pessoas, não perde a esperança de que Elizete apareça.
— Às vezes a gente vê na televisão que uma pessoa aparece depois de 20 anos. Enquanto não souber a coisa certa que aconteceu, vai ter sempre aquela esperança — afirma.
Ele conta que, apesar da esperança, convive com a dor de não saber o que aconteceu com a irmã e de nem mesmo poder enterrar a familiar. Após anos de investigação, o caso foi arquivado pela Justiça em 1º de novembro de 2021.
— Todos nós vamos morrer um dia, mas quando é algo assim, que a gente não sabe nada, não tem como levar uma flor, nada. Tu não sabe se está viva, se não está. Não é fácil. A nossa mãe nunca mais voltou a ser a mesma — conta.
Elizete deixou três filhos: duas meninas, hoje com 15 e 25 anos, um menino, de 20. Ela também tem um neto, de seis anos, que nem chegou a conhecer.
" Parece que estou esperando ela chegar em casa"
Embora já tenham se passado 10 anos do desaparecimento da filha, a mãe de Daniela Ferreira, Celi Fuchs, 59 anos, tem o sentimento de que o tempo não passou. Coube a ela, no dia seguinte ao 29 de julho de 2012, quando a filha estaria completando 19 anos, comunicar à polícia que a filha não havia voltado para casa. A jovem desapareceu em Agudo, na Região Central, onde morava.
— Dez anos e parece que o tempo não passou. Parece que foi ontem ainda. Parece que estou esperando ela chegar em casa — afirma Celi.
Na ocasião, Daniela havia ido com amigas ao baile, mas foi embora sozinha porque as amigas saíram antes. Daniela trabalhava como babá, tinha muitas amizades e nunca manifestou a intenção de deixar a cidade. Rogério de Oliveira, que tinha 42 anos à época, foi condenado a 36 anos e 10 meses de reclusão em regime fechado, por homicídio, estupro e ocultação de cadáver da jovem — ele segue preso.
Celi conta que chegou a pensar em se mudar de Agudo, para que as memórias se apagassem, mas mudou de ideia. Sempre que a data se aproxima — o crime completa 10 anos nesta sexta-feira (29) —, diz que o peito fica mais apertado. Ela lamenta não ter nem sequer um lugar para levar uma flor para a filha, já que o corpo dela nunca foi encontrado. Ao mesmo tempo, nutre a esperança de que a filha ainda esteja viva.
— Isso (saber onde ela está) que está me fazendo falta. Tu acorda, tu vai dormir com aquilo: onde é que ela está? Pode ser que ela tenha sido levada para outro lugar. Não sei, a gente pensa em tudo. Tudo indica que ela não está mais viva, mas no meu interior eu não consigo aceitar isso.