Agentes da Polícia Civil e da Brigada Militar de Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo, têm intensificado nos últimos dias o combate a uma facção criminosa que atua na cidade.
O grupo vinha sendo responsável por diversos crimes, principalmente furtos a estabelecimentos comerciais. O estopim para que a ação dos policiais fosse reforçada ocorreu no último dia 24, quando a loja da esposa de um policial militar foi incendiada. O caso foi encarado pelas forças de segurança do município como uma retaliação após diversas apreensões de drogas, que teriam atingido o grupo.
Segundo o titular da Delegacia de Polícia de Venâncio Aires, delegado Paulo Schirmann, dos seis suspeitos de envolvimento no crime, cinco já estão presos. Um deles, que seria o responsável por articular o esquema, já estava recolhido na Penitenciária de Alta Segurança em Charqueadas (Pasc). Os demais foram detidos preventivamente. A prisão mais recente ocorreu na última quinta-feira (7), na casa de um dos suspeitos, no bairro Santa Tecla. Segundo a Polícia Civil, ele seria um dos dois responsáveis por comprar o combustível utilizado para iniciar o incêndio na loja. O segundo encontra-se foragido.
No dia anterior (6) um outro indivíduo, responsável por colocar fogo no estabelecimento, foi detido em Torres, no Litoral Norte, em uma ação da Polícia Civil de Capão da Canoa. Com ele foi recolhida quantidade significativa de cocaína.
— Desde que fizemos essa mobilização, não registramos mais crimes ligados a essa facção. Por quanto tempo isso vai permanecer é difícil dizer, mas pretendemos seguir trabalhando com ações de prevenção — afirma Schirmann.
Outra grande ação que ilustra a ofensiva policial no município de 70 mil habitantes foi a apreensão feita pela Brigada Militar de um arsenal em uma residência, também no bairro Santa Tecla, no último dia 30. Um jovem de 23 anos foi preso em frente à casa, após ser flagrado consumindo drogas.
Na sequência, os agentes entraram no local e encontraram cinco espingardas calibre 12, três fuzis, duas submetralhadoras, cinco pistolas, dois revólveres, uma arma artesanal e mais de 800 cartuchos de munições dos mais diversos calibres. Todos os materiais estavam escondidos em malas e em uma capa de violão.
Segundo o delegado Vinícius Lourenço de Assunção, responsável pelo caso, ainda não é possível confirmar qual a origem do armamento, já que a maioria dos itens têm a identificação raspada ou modificada, o que dificulta o rastreamento. Ainda assim, a principal hipótese é que o arsenal pertença ao mesmo grupo criminoso.
— Pela quantidade expressiva de armas, sendo muitas delas de grande porte, é muito difícil que não seja de um grupo organizado — afirma.
Segundo a investigação, a casa onde foi feita a apreensão pertence à mãe do rapaz, que estaria de mudança para uma outra propriedade. Em depoimento à polícia, o jovem decidiu ficar em silêncio. Ele está preso na Penitenciária Estadual de Venâncio Aires (Peva). A mãe dele não deve ser ouvida em um primeiro momento.
Uma vez confirmada a relação do arsenal com a facção, a investigação vai tentar compreender de que forma o detido participava das ações do grupo criminoso.
— Queremos entender se esse indivíduo era um agente ativo dessa facção, ou se estabelecia uma espécie de acordo com seus membros para guardar as armas — explica o delegado Assunção.
Acredita-se, ainda, que as armas eram utilizadas como demonstração de poder contra grupos rivais e a própria polícia. Das 18 armas, apenas uma deverá ser reaproveitada pela Polícia Civil. As demais serão levadas ao quartel do Exército para serem destruídas.
Facção é combatida há anos na cidade
Autoridades de segurança locais ouvidas pela reportagem acreditam que a facção criminosa é dominante no crime organizado da cidade há aproximadamente uma década. A organização possui diversas células espalhadas pelo Rio Grande do Sul, atuando principalmente nos vales do Rio Pardo, Sinos, Taquari e Região Metropolitana, protagonizando diversas disputas com grupos rivais.
No ano passado, a Brigada Militar passou a identificar uma maior movimentação de crimes ligados ao tráfico de drogas. A partir de então, o policiamento na cidade passou a ser reforçado pelo 2° Batalhão de Polícia de Choque, de Santa Maria.
Apesar disso, a maioria das ações preventivas seguem sendo capitaneadas pela Brigada Militar local.
— O reforço é sempre importante, mas o trabalho que importa é o dia a dia, de quem conhece a cidade e os locais com maior incidência de crimes, e é assim que temos buscado atuar — afirma o comandante do 23º Batalhão de Polícia Militar (BPM), que abrange Venâncio Aires, major Fábio Azevedo.