A Polícia Civil realizou nesta terça-feira (19) a maior operação de sua história para descapitalizar uma facção criminosa que tem base no Vale do Sinos. Foram cumpridos mais de 1,3 mil mandados judiciais por 1,3 mil agentes em 34 cidades do Rio Grande do Sul e em outras quatro em Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul.
O objetivo da ação foi sequestrar judicialmente R$ 50 milhões em bens como veículos e imóveis e ainda bloquear contas bancárias e ativos financeiros. Foram cumpridos até o fim da manhã 58 mandados de prisão, alguns deles em 14 presídios, e 273 de busca. Havia dinheiro escondido até dentro de urso de pelúcia. Entre os veículos, foram apreendidos uma moto e três carros de luxo. Áudios revelam como a facção mantinha o esquema criminoso, com alguns processos que lembram o funcionamento de uma empresa.
Em uma das gravações da chamada Operação Kraken, integrantes da facção — são mais de 200 investigados — destacam o roubo de carros como forma de capitalizar o tráfico e alertam sobre rastreadores veiculares:
Em outro áudio, os criminosos relatam a troca de carros por armas através de lojas virtuais.
As gravações mostram que a facção também clona veículos e falsifica documentos.
A investigação apurou que, para roubar veículos, a facção faz mapeamento da área de atuação. Nas gravações, integrantes reclamam para os líderes quando espaço é invadido por outros.
Grupo chega a consultar a tabela Fipe para revender os veículos de luxo roubados.
Outra frente de atuação do grupo revelada pelos áudios é a entrega de celulares e drogas por meio de drones em presídios. Os apenados pegam materiais nas janelas das unidades.
Outro áudio revela tráfico semanal de pelo menos 50 quilos de drogas por avião para o Estado.
Investigação
A investigação se concentrou inicialmente nas cinco lideranças do grupo, depois nos gerentes e operadores financeiros. Ao longo da apuração de um ano e meio da 1ª Delegacia de Sapucaia do Sul, 102 pessoas foram presas e mais de 200 investigadas, de simples vendedores de drogas, passando por ladrões, até gerentes e líderes do grupo que estão em presídios — um deles em penitenciária federal.
A facção atua em todo Estado e no Sul do Brasil, mantendo conexões com grupos de São Paulo, Colômbia e México. Esta organização criminosa gaúcha, segundo o delegado Gabriel Borges, responsável pela operação, também atua recrutando principalmente jovens para substituir rapidamente integrantes que são presos.
— A atuação é sempre do tipo empresarial, ao buscar o máximo de lucro. Eles buscam jovens para começar como "vapor" ou "puxador de carro", até postos mais altos dentro da organização. Eles atuam de forma regrada e discreta - diz Borges.
A investigação apurou que a lavagem de bens e valores também é decorrente do comércio ilegal de pedras preciosas e de camisetas e símbolos de órgãos e instituições públicas, bem como de extorsões e estelionato em geral. Além dos 102 veículos, duas aeronaves e 38 imóveis, a facção adquiriu empresas dos ramos imobiliário, automotivo e de metais preciosos.
Atuante no tráfico de armas, o grupo negociava até fuzis e metralhadoras. Inclusive, o delegado Gabriel Borges diz que chamou atenção os sorteios e rifas de armamentos entre integrantes da facção, até mesmo em casas prisionais. Sobre drogas, a investigação comprovou que os suspeitos possuíam pilotos de aeronaves que traziam diariamente dezenas de quilos de entorpecentes do exterior.
Locais onde foram cumpridos mandados judiciais
Rio Grande do Sul
- Canoas
- Sapucaia do Sul
- Porto Alegre
- Esteio
- Eldorado do Sul
- Nova Santa Rita
- Guaíba
- Gravataí
- São Leopoldo
- Novo Hamburgo
- Alvorada
- Sapiranga
- Parobé
- Campo Bom
- Igrejinha
- Três Coroas
- Rio Grande
- Caxias do Sul
- Passo Fundo
- Ijuí
- Santa Cruz do Sul
- Charqueadas
- Arroio dos Ratos
- Venâncio Aires
- Montenegro
- Lajeado
- Vera Cruz
- Candelária
- Cruz Alta
- Capão da Canoa
- Imbé
- Xangri-lá
- Frederico Wesphalen
- São Gabriel
Santa Catarina:
- Balneário Camboriú
- Tubarão
Paraná
- Maringá
Mato Grosso do Sul
- Campo Grande
São cumpridas 1.368 ordens judiciais, dentre as quais destacam-se:
- 273 mandados de busca e apreensão;
- 66 ordens judiciais de prisão;
- 13 casas prisionais serão objeto de busca e apreensão;
- 1 casa prisional federal será objeto de busca e apreensão;
- 38 sequestros de imóveis do crime;
- 102 veículos com decretação de perdimento (incluindo carros de luxo: Maserati, Audi, Cadillac e Camaro);
- 190 contas bancárias bloqueadas;
- 812 quebras de sigilo fiscal, bancário, tributário e bursátil.