O delegado Fábio Motta Lopes, 46 anos, tomou posse nesta segunda-feira (18) como novo chefe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul. Em cerimônia no Palácio da Polícia, no bairro Azenha, em Porto Alegre, que contou com a presença de diversas autoridades dos três poderes, houve a troca de comando da instituição. Motta Lopes substitui a delegada Nadine Anflor no cargo — ela deve concorrer nas eleições de outubro.
Junto a Motta Lopes, tomou posse nesta segunda o novo subchefe de polícia, cargo que até então era dele. Quem assume a função é o delegado Vladimir Urach, que era diretor do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc). Motta Lopes utilizou mais de uma vez a palavra continuidade ao se referir a sua gestão. O policial era bastante alinhado com Nadine. Há 23 anos na instituição, é delegado da mais alta classe da Polícia Civil (4ª classe).
- Nem nos meus maiores sonhos eu imaginava que iria comandar uma das mais respeitadas e importantes instituições policiais brasileiras – disse Motta Lopes logo no início de seu discurso, de pouco mais de 10 minutos.
Segundo ele, é perceptível que a Polícia Civil está em constante evolução, “sempre buscando a utilização das melhores tecnologias e técnicas de investigação criminal, bem como um aprimoramento das grandes operações policiais”. Ressaltou, porém, que nenhuma polícia judiciária evolui sem continuar dando atenção especial para as investigações dos homicídios, dos latrocínios e dos demais crimes tradicionais cometidos com violência.
Destacou ainda que, quando se está diante de crimes praticados por organizações criminosas, é fundamental que haja a descapitalização desses bandidos.
- O que se pretende é continuar incentivando e fomentando o constante progresso dessas investigações que visam o ataque patrimonial dessas organizações criminosas, com aumento de inquéritos policiais destinados à apuração dos crimes de lavagem de dinheiro e a consequente constrição dos bens e dos valores do crime organizado – ressaltou.
Para Motta Lopes, a mesma atenção dada a membros de organizações criminosas também deve ser dedicada a proteção das vítimas de violência doméstica e a responsabilização criminal de quem comete violência de gênero. O delegado também falou sobre a necessidade de se manter a melhoria do atendimento ao público nas unidades policiais. A integração com as demais forças de segurança também foi destacada por Motta Lopes.
Apesar de falar sobre a necessidade de se combater cada vez mais os crimes contra a vida durante seu discurso, Motta Lopes não falou especificamente sobre a guerra de facções em Porto Alegre. Nem ele nem a delegada Nadine, a primeira a falar no seu discurso de despedida do cargo. Coube ao secretário estadual da Segurança Pública, Vanius Cesar Santarosa, tratar do tema.
- Massivamente foi divulgado na imprensa: guerra do tráfico na zona sul de Porto Alegre. E nós, como Estado do Rio Grande do Sul, demos a resposta a isso, onde o esforço concentrado de todas as vinculadas fizeram extinguir aquele conflito que acontecia na Zona Sul – disse o coronel.
Em um mês, 25 pessoas morreram na guerra de facções criminosas em Porto Alegre. Depois da cerimônia, o delegado Fábio Motta Lopes respondeu como a Polícia Civil trabalharia na sua gestão para conter essas mortes resultantes de atentados entre grupos rivais:
- Aqui tem toda uma atenção não só da Polícia Civil, mas das forças de segurança para que um trabalho integrado seja feito não só com a ostensividade, com a saturação dessas áreas, mas especialmente, em nome da Polícia Civil, que é o que me compete, com a identificação desses criminosos para que haja a responsabilização desses indivíduos.
No seu discurso de despedida, a delegada Nadine Anflor relembrou que foi a primeira mulher a assumir o cargo de chefe de polícia do Rio Grande do Sul.
- O meu sentimento é de uma tarde de festa. Festa pela continuidade de uma gestão – disse Nadine que, ao final, foi aplaudida de pé, assim como Motta Lopes.
O governador Ranolfo Vieira Júnior esteve presente. Em seu discurso, disse que não falaria sobre segurança pública, já que os demais que o antecederam já haviam falado. Ele trouxe alguns números do governo sobre as finanças públicas, enaltecendo o fato de os salários dos servidores públicos estarem sendo pagos em dia, por exemplo.
A carreira do novo chefe de polícia
O delegado Fábio Motta Lopes ingressou na Polícia Civil aos 23 anos. Começou sua carreira como titular da 2ª Delegacia de Polícia de Uruguaiana. No Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), foi titular da Delegacia de Polícia de Furto e Roubo de Veículos e da Delegacia de Capturas. Também foi titular da 1ª Delegacia de Polícia de Viamão, diretor do Departamento de Polícia Metropolitana e, por último, subchefe de polícia.
Motta Lopes é mestre em Direitos Fundamentais e especialista em Direito Penal e Processo Penal. O policial é professor de Direito Penal e Direito Processual Penal na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e professor da Academia de Polícia Civil do Rio Grande do Sul.