Às vésperas do aniversário de 90 anos, o ex-vereador José Wilson da Silva, 89 anos, foi assassinado a tiros na noite de 10 de dezembro de 2021. Encerrou-se ali a trajetória do ex-exilado, presidente da Associação dos Ex-Presos e Perseguidos Políticos do Rio Grande do Sul. O crime completa três meses na noite desta quinta-feira (10), com série de indagações a serem respondidas.
O cenário do homicídio foi a residência onde Wilson vivia, na Rua Paissandu, no bairro Partenon, na zona leste de Porto Alegre. Ali, três criminosos conseguiram acessar a casa, cercada por portões de ferro. No pátio da moradia, o Tenente Vermelho, como era chamado, foi atingido por dois disparos de arma de fogo, um na cabeça e outro no abdômen. Aposentado, embora ainda politicamente ativo, residia somente com a companheira. A mulher foi contratada inicialmente como sua cuidadora, mas os dois passaram a manter relacionamento afetivo. Segundo a família, ela ainda recebia salário pelo serviço.
Uma das primeiras pessoas a serem ouvidas na investigação, foi a mulher quem descreveu à polícia como o crime teria acontecido. Ela relatou que estava dormindo no quarto quando ouviu barulho de chave em uma porta próxima, de acesso ao quintal da casa. Depois disso, teria acordado o companheiro para que ele fosse verificar do que se tratava.
Na sequência, o militar reformado teria pego um facão debaixo da cama e ido em direção a essa porta. À polícia, ela disse que Wilson bateu numa mesa com o facão e perguntou: “Quem está aí?”. Logo depois, teria acontecido os disparos.
Nos últimos três meses, a polícia ouviu cerca de 15 testemunhas, entre eles os filhos do idoso, um chaveiro, um guarda da rua e vizinhos. À frente da investigação, a titular da 1ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegada Isadora Galian, evita fornecer detalhes sobre o andamento da apuração, mas garante estar perto de concluir o caso.
— Conseguimos avançar bastante nas investigações e pretendemos fechar em breve o inquérito policial. Assim que finalizarmos, divulgaremos toda a conclusão do trabalho — afirma.
Até o momento, conforme a policial, não há ninguém preso pelo crime, que segue tratado como homicídio. Desde o início, a polícia considerava pouco provável a hipótese de latrocínio, que é o roubo com morte, já que a princípio nada teria sido levado da residência. Além dos três executores, que ingressaram na casa para assassinar o ex-vereador, a investigação apura o possível envolvimento de mais pessoas.
Em relação à motivação do crime, no início da apuração a polícia chegou a informar que suspeitava de possível envolvimento de alguma pessoa próxima de Wilson, como mandante ou facilitadora do crime. Nenhum dos ouvidos pela polícia relatou que Wilson tivesse recebido ameaças ou cultivasse inimizades. Atualmente, a delegada evita dar detalhes sobre o que a investigação apurou, mas responde um dos questionamentos feitos por companheiros políticos do ex-exilado.
— Não há indícios de envolvimento político no crime — diz a delegada.
A forma como os criminosos ingressaram na moradia é outro ponto que ainda não foi detalhado pela polícia. A casa tinha portões de ferro e não havia sinais de arrombamento em nenhum deles. A fechadura de uma das portas havia sido trocada semanas antes. Segundo a delegada, a investigação ainda aguarda o recebimento de perícias do caso.
Histórico
Capitão reformado do Exército quando jovem, Wilson ganhou o apelido de Tenente Vermelho por suas tendências de esquerda. Em abril de 1964, após o golpe militar, teve seus direitos políticos cassados. Só voltou ao Brasil com a anistia aos presos políticos, em 1979. Era também presidente da Associação de Defesa dos Direitos e Pró-Anistia dos Atingidos por Atos Institucionais, e liderança reconhecida nacionalmente, sempre presente nas atividades em defesa da Anistia.
Em agosto, havia viajado a Brasília para debater assuntos relacionados ao tema. Para comemorar o aniversário de 90 anos, Wilson pretendia reunir os amigos em uma churrascaria no bairro Santana. No convite enviado, escreveu que só festejava aniversário de 10 em 10 anos, e, que, portanto, estaria completando seu nono ano, na segunda-feira, dia 13. No entanto, acabou morto três dias antes.
O PCdoB emitiu nota onde lamenta a perda, e afirma que “o seu exemplo frutificará nas nossas lutas e vitórias contra toda forma de opressão e exploração”. A mesma manifestação diz que o partido cobrará das autoridades policiais e judiciárias o mais rápido esclarecimento do crime.