Há quase dois meses, mãe e filha tiveram o mesmo desfecho trágico em Passo Fundo, no norte do Estado. Thairine de Oliveira, 30 anos, e Isabel Cristina Muniz de Oliveira, 63, foram assassinadas a tiros. O ex-companheiro de Thai, como era conhecida, Leandro Santos de Lima, 35, com quem ela tinha três filhos, é apontado como o autor do duplo feminicídio. O investigado, que deve ser indiciado ainda nesta semana pelo crime, continua foragido.
Quando foi morta, em 17 de janeiro, Thairine estava separada havia cerca de seis meses de Leandro, com quem manteve relacionamento por 12 anos. Buscava por emprego para ajudar no sustento dos filhos, enquanto vivia com a mãe. Isabel, que trabalhava como faxineira em um clube de Passo Fundo, era quem cuidava dos netos e da filha. Por anos, tentou convencer a jovem a deixar o relacionamento violento. Prestes a conseguir a aposentadoria, planejava fazer melhorias na casa onde vivia com Thairine e as crianças.
Desde que perderam a mãe e a avó, as duas meninas e um menino foram encaminhados para um abrigo, onde permanecem sob a proteção do Conselho Tutelar e recebem suporte psicológico. Além do assassinato das duas, outra mulher também foi ferida no ataque. Cunhada de Thairine, a jovem é mãe de um bebê, foi baleada, chegou a ficar hospitalizada, mas conseguiu se recuperar. A mulher e o marido, que residiam no mesmo pátio onde aconteceu o crime, deixaram a moradia. GZH tentou contato com a família, mas os parentes preferiram não se manifestar.
– Destruiu a família. Estão todos assustados, com medo, até porque ele segue solto. As crianças são as que sofrem mais, pela falta da mãe e da avó. As duas eram as referências delas, com quem conviviam. A Isabel fazia de tudo pelos netos, queria o melhor para eles. Lutou muito por eles. E terminou assim. É muito triste – descreve uma amiga da família, que preferiu não ser identificada.
Investigação
Segundo a delegada Rafaela Bier, titular da Delegacia da Mulher de Passo Fundo, a polícia pretende concluir nesta semana a investigação sobre o duplo feminicídio. Ao longo da apuração, testemunhas foram ouvidas e confirmaram o histórico de uma relação violenta, com idas e vindas. Thairine chegou a obter mais de uma vez medida protetiva contra o ex-companheiro. Da última vez, estava decidida a não retomar a relação.
– Ele queria reatar o relacionamento e a vítima não queria mais. Além disso, ele reclamava de não poder ter acesso aos filhos e estava na iminência do processo civil, de pensão alimentícia – detalha a delegada sobre os fatos que teriam motivado o crime.
Devido ao controle exercido pelo ex, Thairine chegou a criar um perfil falso para poder conversar com amigas. Em uma das mensagens enviada a uma delas, escreveu: “Ele acha que tenho que ficar com ele. Não quero viver a vida inteira com um homem que me bate”. Em outra troca de mensagens, escreveu: “Não quero mais voltar para ele. Quero ser livre, para buscar a Deus, e ter as pessoas que eu amo perto de mim”. Thairine relatava aos amigos que queria seguir sua vida e cuidar dos filhos.
Órfãos
Nesta semana, o mapa dos feminicídios, estudo realizado pela Polícia Civil, mostrou que 129 filhos ficaram órfãos de mãe em 2021 no Estado em razão de casos de feminicídio. Das 96 mulheres assassinadas em contexto de gênero, 63 eram mães e 22 tinham filhos com os autores do crime. Dos filhos, 15 ficaram sem pai e mãe - nos casos em que o autor tirou a própria vida. O levantamento aponta a idade dos órfãos: 56 eram menores de 18 anos, sendo 23 de até 12 anos.
– Infelizmente, neste caso as crianças ficaram sem a mãe, sem a avó e ele também não vai mais ter direito ao acesso aos filhos. É muito triste. Foram vidas ceifadas e crianças que ficaram desamparadas – lamenta a delegada.
Quando foi assassinada, Thairine tinha medidas protetivas contra o ex vigentes. Apesar do relato de amigos de que ele vinha tentando contato com ela, não havia novo registro disso na polícia. O mapa dos feminicídios no Estado mostrou que a medida protetiva é realidade da minoria das vítimas. Das 96 mulheres assassinadas nesse contexto, a maioria (89,6%) não tinha medida protetiva e 67% não havia feito qualquer registro contra o agressor. Em 81% dos crimes, o autor foi o companheiro ou o ex.
– Fizemos inúmeras buscas ao longo da investigação na tentativa de localizar o paradeiro dele. Nosso objetivo maior é a prisão dele. Infelizmente, ainda não conseguimos – afirma a delegada.
Colabore
Quem tiver informações que possam ajudar na localização do foragido, deve entrar em contato com a Polícia Civil pelos telefones 197, (51)984440606 (WhatsApp), (54)3318-1430 ou pelo 190, da Brigada Militar.
Onde pedir ajuda
Brigada Militar
- Telefone - 190
- Horário - 24 horas
- Serviço - atende emergências envolvendo violência doméstica em todos os municípios. Para as vítimas que já possuem medida protetiva, há a Patrulha Maria da Penha da BM, que fiscaliza o cumprimento. Patrulheiros fazem visitas periódicas à mulher e mantêm contato por telefone
Polícia Civil
- Endereço - Delegacia da Mulher de Porto Alegre (Rua Professor Freitas e Castro, junto ao Palácio da Polícia), bairro Azenha. As ocorrências também podem ser registradas em outras delegacias. Há DPs especializadas no Estado
- Telefone - (51) 3288-2173 ou 3288-2327 ou 3288-2172 ou 197 (emergências)
- Horário - 24 horas
- Serviço - registra ocorrências envolvendo violência contra mulheres, investiga os casos, pode solicitar a prisão do agressor, solicita medida protetiva para a vítima e encaminha para a rede de atendimento