Ao longo dos últimos anos, Thairine de Oliveira, 30 anos, moradora de Passo Fundo, no norte do Rio Grande do Sul, detalhava para amigas próximas uma relação de idas e vindas, marcada por episódios de violência. Há seis meses, conseguiu dar fim ao relacionamento que já durava 12 anos. Obteve mais uma vez medidas protetivas contra o ex-companheiro, com quem tinha três filhos.
No entanto, na noite de segunda-feira (17), tornou-se mais uma vítima de feminicídio — a mãe dela, Isabel Cristina Muniz de Oliveira, 63, também foi assassinada a tiros. O ex é o principal suspeito do crime — apesar das buscas realizadas pela polícia, ele ainda não foi localizado.
Ao longo da relação, por mais de uma vez, Thairine chegou a buscar ajuda e se manteve separada do companheiro. No entanto, acabavam reatando o relacionamento. Amigas próximas relatam que ela vivia uma relação cercada de medo e ameaças. Em trocas de mensagens pelas redes sociais, ela contava, por exemplo, que o companheiro tinha quebrado seu celular e, por isso, estava sem WhatsApp.
Em uma das vezes, ela teria sido agredida novamente, quando estava com o companheiro em Tapejara, cidade a cerca de 50 quilômetros de Passo Fundo. Precisou contar com a ajuda de outra moradora para conseguir pagar um táxi e voltar para a casa da mãe, em Passo Fundo. No último meio ano, Thairine teria conseguido se manter longe do ex. No entanto, há cerca de quatro meses, o ex-companheiro teria feito contato pela internet, fingindo ser outra pessoa, para obter detalhes sobre a vida dela.
Ele começou a ameaçar ela que se não voltasse, ele ia matar. Mandava mensagem dizendo “desgraçada, tu vais me pagar”. Ele já tinha batido muito nela. Ela tinha muito medo
AMIGA DA VÍTIMA
Ela não podia viver em paz. Ele mentiu que era uma amiga nossa. E ela acabou falando que estava conhecendo uma pessoa de Passo Fundo. Ele começou a ameaçar ela que se não voltasse, ele ia matar. Mandava mensagem dizendo “desgraçada, tu vais me pagar”. Ele já tinha batido muito nela. Ela tinha muito medo — diz uma amiga, que prefere não ser identificada, por medo de represálias.
"Quero ser livre"
Thairine chegou a criar um perfil falso para poder conversar com outras pessoas. Em uma das mensagens enviada a uma amiga, escreveu: “Ele acha que tenho que ficar com ele. Não quero viver a vida inteira com um homem que me bate”. Em outra troca de mensagens, escreveu: “Não quero mais voltar para ele. Quero ser livre, para buscar a Deus, e ter as pessoas que eu amo perto de mim”.
Confidente dela, outra jovem diz que as duas conversaram poucas horas antes do crime. Thairine garantiu que estava feliz e que as crianças estavam se adaptando bem. O que a mais a preocupava no momento era conseguir um emprego para ajudar no sustento dos filhos —duas meninas e um garoto.
— Ela corria muito atrás de emprego, para dar o melhor para os meninos. A mãe dela trabalhava muito também. Era muito carinhosa com as crianças. Muito mesmo. No começo, eles choravam muito porque estavam longe do pai, mas agora estavam mais tranquilos. Ela sempre foi boa mãe, protetora. Agora nem sei como vai ficar a situação deles, sem a mãe, sem a avó — lamenta a amiga.
Onde pedir ajuda
Brigada Militar
- Telefone - 190
- Horário - 24 horas
- Serviço - atende emergências envolvendo violência doméstica em todos os municípios. Para as vítimas que já possuem medida protetiva, há a Patrulha Maria da Penha da BM, que fiscaliza o cumprimento. Patrulheiros fazem visitas periódicas à mulher e mantêm contato por telefone
Polícia Civil
- Endereço - Delegacia da Mulher de Porto Alegre (Rua Professor Freitas e Castro, junto ao Palácio da Polícia), bairro Azenha. As ocorrências também podem ser registradas em outras delegacias. Há DPs especializadas no Estado
- Telefone - (51) 3288-2173 ou 3288-2327 ou 3288-2172 ou 197 (emergências)
- Horário - 24 horas
- Serviço - registra ocorrências envolvendo violência contra mulheres, investiga os casos, pode solicitar a prisão do agressor, solicita medida protetiva para a vítima e encaminha para a rede de atendimento