Um ano após ser presa pela morte do companheiro, Leda Natalina Alves Pinheiro, 60 anos, teve novo pedido de liberdade negado pela Justiça. Por quatro anos, a mulher manteve o corpo de Jonathan Martins de Almeida, 33, enterrado no pátio de casa em Arroio do Sal, no Litoral Norte. Até a ossada ser descoberta, em novembro de 2020, ela alegava que ele havia ido embora.
Leda continua presa de forma preventiva e responde pelo assassinato, além da ocultação do cadáver e por ter registrado falsa ocorrência de desaparecimento. O atual marido dela, Antonio Leri da Silva, 46, conseguiu o direito de responder em liberdade — ele é acusado de ter ajudado a ocultar o corpo.
O processo está na fase de instrução, na qual são ouvidas testemunhas e interrogados os réus. A primeira audiência foi realizada em julho, quando falaram as testemunhas de acusação. Uma nova sessão está agendada para 13 de janeiro de 2022, quando devem ser encerrados os depoimentos — duas testemunhas de acusação (dois policiais) e as de defesa precisam ser ouvidas. Oito pessoas falarão a favor de Leda e oito em defesa de Antonio. O objetivo do advogado Vitor Hugo Gomes, que defende o casal, é comprovar que eles só se conheceram dois anos após o falecimento de Jonathan (leia mais abaixo).
Devido ao número de testemunhas, uma nova audiência deve ser agendada para o interrogatório dos réus. Os dois, segundo a defesa, falarão à Justiça e explicarão como se deram os fatos. Leda continua detida no Presídio Feminino de Torres. Já Antonio está em liberdade e vivendo em Caxias do Sul, na Serra. Os dois continuam casados. Somente após essa etapa e a fase para alegações finais é que a Justiça definirá se eles devem responder pelos crimes. Ainda cabe recurso da sentença de pronúncia.
A defesa ingressou com nova solicitação para que Leda responda em liberdade. Uma das alegações é de que o processo tem andamento moroso. O pedido teve manifestação contrária do Ministério Público e foi negado pela Justiça no início deste mês. A juíza Marilde Goldschimidt entendeu que não há excesso de prazo, em razão da complexidade do caso.
Esposa confessou o crime
Em dezembro de 2016, Jonathan deixou de fazer contato com familiares. Leda relatou que ele havia ido embora para viver com outra mulher. Ainda teria contado ter visto o companheiro embarcar em um Celta verde, que aguardava por ele na esquina da casa. Em janeiro, a mulher foi até a polícia e comunicou abandono de lar — motivo pelo qual foi denunciada por falsidade ideológica.
O fato de Jonathan ter sumido sem levar a motocicleta que ele havia comprado recentemente fez os familiares suspeitarem da versão. Os parentes passaram a espalhar fotos pelas redes sociais e em sites de buscas de pessoas. Uma ocorrência pelo desaparecimento foi registrada. Mas, somente em novembro de 2020, foi localizada a ossada na casa, após a polícia receber informação anônima.
Os restos mortais foram encaminhados para perícia, onde foi realizada comparação genética com base no DNA da mãe de Jonathan, e confirmou que se tratava da vítima. Em depoimento, a mulher confessou o crime à polícia. Leda contou que o homicídio aconteceu em 18 de dezembro de 2016.
A mulher alegou que o companheiro chegou em casa embriagado, com uma garrafa de cerveja. Na versão dela, ele teria quebrado um copo na mesa da sala e ido em sua direção. Neste momento, ela teria atingido a vítima na cabeça com a garrafa, para se defender. Depois disso, teria arrastado o corpo até o pátio e enterrado ali. Mais tarde, um novo cômodo foi construído sobre este mesmo local.
Leda alegou que o companheiro possuía um perfil violento, que teria se intensificado nos dois últimos anos de relacionamento. Mas, para a acusação, a versão dela apresenta incoerências, como o fato de não haver registro ou relato anterior que confirme que a vítima era agressiva. O atual marido dela também foi ouvido, quando ainda estava preso, e alegou que conheceu a mulher em 2018, e que eles se casaram um mês depois. A mesma versão é mantida por Leda.
O que diz a defesa do casal
Responsável por defender o casal, o advogado Vitor Hugo Gomes sustenta que Leda cometeu o crime com intuito de se defender do companheiro e que depois escondeu o corpo dele, sozinha, no pátio da casa, com medo de que o crime fosse descoberto. O advogado tenta, no entanto, que ela responda pelo fato em liberdade. Entre os argumentos apontados, está o de que ela tem mais de 60 anos, é ré primária e possui residência fixa.
— Faz um ano que está presa, cumprindo pena antecipada, sem sequer terem sido ouvidas todas as testemunhas de acusação. Ela não é uma bandida contumaz, que precisasse ser presa de forma preventiva. Poderiam ser adotadas medidas cautelares, alternativas. A prisão preventiva é a cautelar máxima. Se os jurados, que são competentes para julgar a matéria, reconhecerem a tese da legítima defesa, pode ser inclusive absolvida — argumenta o advogado.
Em relação ao réu Antonio, o advogado alega que ele não teve qualquer participação no crime. Segundo a defesa, o casal se conheceu dois anos após o assassinato de Jonathan, em uma igreja que frequentavam.
— A prova já é muito forte, no sentido de que não conhecia a vítima, e não teve qualquer participação. Ele está trabalhando, comparece em todo os atos que a juíza intima. O Antonio deveria ser excluído do júri imediatamente. Mas se os dois forem pronunciados, ainda tenho direito do recurso — diz Gomes.