No dia em que o desaparecimento de Jonathan Martins de Almeida, 33 anos, completaria quatro anos, a família recebeu a confirmação de que ele está morto. O exame de DNA realizado pelo Instituto-Geral de Perícias para verificar se a ossada enterrada debaixo da casa onde o homem residia quando sumiu confirmou a identificação nesta sexta-feira (18). A ex-companheira de Jonathan está presa e confessou o crime à polícia. O atual marido dela também chegou a ser detido, mas teve a prisão revogada.
O laudo da perícia foi obtido a partir da comparação genética com o DNA da mãe de Jonathan. Segundo o delegado Adriano Koehler Pinto, ainda são aguardados outros exames, como a análise da ossada, para tentar obter mais informações sobre como se deu o crime. Depois disso, os restos mortais devem ser liberados para a família, que pretende fazer o enterro em Uruguaiana, na Fronteira Oeste, de onde ele era natural.
— Por ironia do destino, infelizmente em 18 de dezembro, dia em que ele desapareceu, foi confirmada a data da morte dele — diz uma das irmãs de Jonathan, que preferiu não ser identificada na reportagem.
Jonathan deixou a Fronteira Oeste há cerca de 10 anos, após iniciar um relacionamento com Leda Natalina Alves, atualmente com 59 anos, em Caxias do Sul, na Serra. Durante uma viagem para trabalhar com o pai, ele teria conhecido a mulher, que residia na cidade.
Decidiu então se mudar para lá e viver com ela. Nesta época, Jonathan trabalhava com o pai em obras, como pedreiro. O casal posteriormente se mudou para a praia de Arroio do Sal, a cerca de 180 quilômetros de Caxias.
A família suspeitava desde o sumiço de Jonathan de que algo estava errado. Na época, ele residia em Arroio do Sal com Leda. A mulher contou aos parentes dele que o companheiro havia ido embora de casa, deixando para trás a motocicleta que havia comprado recentemente e o salário a receber na empresa de vigilância onde trabalhava.
Os familiares fizeram buscas e registraram o caso na polícia, que investigou o sumiço. Quatro anos depois, uma nova informação apontou o local onde Jonathan estaria enterrado, debaixo da área de serviço na casa onde morava.
A localização da ossada pela polícia, com ajuda de bombeiros e cães farejadores, no local indicado, confirmou a suspeita do crime. Leda foi presa em flagrante por ocultação de cadáver, assim como o atual marido dela, Antonio Leri da Silva.
Naquele momento, os dois optaram por ficar em silêncio. Em depoimento no início deste mês, contudo, Leda confessou à polícia que matou Jonathan, mas alegou ter agido sozinha e durante uma discussão. Ela relatou que atingiu o então companheiro com um golpe na cabeça, usando uma garrafa de cerveja de um litro.
Liberdade
Nesta sexta-feira, a defesa do casal conseguiu obter na Justiça a revogação da prisão preventiva de Antonio. O advogado Victor Hugo Gomes sustenta que o homem não tem nenhuma relação com o crime e que só soube da existência da ossada quando os restos mortais foram encontrados pela polícia. Ele é acusado de ter ajudado a esconder o corpo, construindo a área de serviço.O Ministério Público também se manifestou favorável à soltura.
Leda responde por homicídio duplamente qualificado (por motivo fútil e recurso que dificultou a defesa da vítima), por ocultação de cadáver e por ter registrado uma ocorrência falsa, relatando que Jonathan tinha ido embora de casa. Ela permanece presa de forma preventiva em Torres.
No entendimento da Polícia Civil e do Ministério Público, ela cometeu o crime por ciúmes e porque não aceitava o término do relacionamento. A versão é corroborada por familiares de Jonathan, que relatam que Leda era ciumenta, inclusive nas viagens que os dois faziam para visitar os parentes.
— Ela tinha ciúmes até da minha mãe com ele e de nós que éramos irmãs — diz a irmã.
Quando o crime aconteceu, Jonathan estava mantendo relacionamento com outra mulher, além de Leda.
Antonio responde, agora em liberdade, somente pela ocultação de cadáver. Os dois foram denunciados e se tornaram réus.
— A principal questão no caso dele é que, mesmo em caso de condenação, a pena seria muito menor do que essa prisão que ele estava sofrendo. Além de não estarem presentes os requisitos para uma preventiva — afirma o advogado.
Sobre a versão apresentada por Leda, o advogado afirma que a mulher relata que o relacionamento já estava conturbado. Ao longo de três horas de depoimento, ela relatou que na noite do crime os dois teriam discutido, Jonathan teria quebrado um copo na mão, lhe ameaçado com os cacos de vidro.
— Ela, em legítima defesa, de inopino, pegou a garrafa e deu uma garrafada nele. Ela não queria matar. Nunca imaginou que fosse matar. Ela é confessa. Tenho muito respeito pela família do Jonathan, não se trata disso. Mas ela (Leda) não pode ser condenada antes, tem direito à defesa — diz.
O advogado sustenta, no entanto, que o crime não foi cometido por motivo fútil (ciúmes) e nem com recurso que dificultou a defesa da vítima e que ela agiu num abalo emocional, sob violenta emoção.