
O ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, faleceu nesta terça-feira (13), aos 89 anos, em função de um câncer de esôfago. Político mundialmente conhecido por defender causas populistas, ele via o futebol como uma forma de dialogar com a sociedade e não escondia a paixão pelo esporte.
Torcedor de um time pouco conhecido fora do país, o uruguaio viveu aquele que foi descrito por ele como o maior momento da história do futebol local. Além disso, também criticou a normalização dos altos salários no esporte.
O clube de coração
Mesmo distante das arquibancadas, indo de forma contrária aos fanáticos, Pepe Mujica nunca escondeu o time que torcia. Em um pequeno país, em que Nacional e Peñarol duelam para ver quem é o maior, o ex-presidente escolheu o Cerro.
O clube, assim como os dois gigantes, é de Montevidéu. Entretanto, está em um bairro de menor expressão, chamado Villa del Cerro. Mujica se identificava com o caráter popular do clube, mas não costumava ver o time no estádio, pois se considerava "pé frio".
Em 102 anos de história, o Cerro nunca foi campeão uruguaio e disputou a Libertadores três vezes, em 1995, 2010 e 2017. Em 2010, enfrentou o Inter na fase de grupos. No Beira-Rio, vitória colorada por 2 a 0. No Uruguai, em Rivera, empate em 0 a 0.
Maracanaço na rádio
Aos 15 anos de idade, Mujica viu as ruas de Montevidéu serem tomadas por torcedores após o segundo título mundial do Uruguai. Na final contra o Brasil, no Rio de Janeiro, a seleção celeste virou a partida e venceu por 2 a 1, no episódio conhecido como "Maracanço".
Com um rádio, Mujica ouviu o jogo do início ao fim e saiu a festejar com os uruguaios após o apito final. Em 2015, em entrevista ao Montevideo Portal, chegou a dizer que aquela foi "a maior façanha que poderia ser escrita".
Defensor de Suárez
Como a maioria dos torcedores da seleção uruguaia, Pepe Mujica admirava o estilo de jogo de Luis Suárez, um dos principais nomes da história do futebol local.
No último jogo da fase de grupos da Copa do Mundo de 2014, o atacante mordeu o ombro do zagueiro italiano Chiellini, mas não foi expulso, pois a arbitragem não viu. Depois da partida, Suárez foi punido com noves jogos de suspensão, desfalcando a seleção nas oitavas de final, quando o Uruguai foi eliminado pela Colômbia por 2 a 0.
Em entrevista ao portal La Hora de los Desportes, Mujica criticou a decisão e disse:
— A Fifa é composta por um bando de velhos filhos da ... É justo que punam, mas não que adotem medidas fascistas — disse o uruguaio, que ainda colocou as mãos na boca após a fala e falou:
— Publiquem para mim.
Crítico dos altos salários do futebol
Mujica mostrou mais de uma vez a sua insatisfação com o futebol cada vez mais voltado para o mundo dos negócios. Entre os questionamentos estavam os salários altos, que destoam em comparação à pobreza tão criticada pelo uruguaio.
Ao criticar o momento do esporte, ele reiterava que a crítica não era direcionada aos jogadores, mas sim aos clubes e cartolas que ditam o mercado do futebol. Mesmo assim, não achava justa essa "nova realidade" esportiva.