A Polícia Civil vai indiciar o médico Klaus Wietzke Brodbeck, 54 anos, por estupro e outros cinco crimes que teriam sido cometidos contra 21 mulheres. Com a investigação concluída, os 10 inquéritos sobre o caso serão entregues nesta quinta-feira (12) ao Judiciário.
Além do crime de estupro, Klaus será indiciado por estupro de vulnerável (uma das vítimas era menor de idade na época dos fatos), violação sexual mediante fraude, assédio sexual, importunação sexual e coação no curso do processo.
A companheira do médico, Amanda Vasconcellos, também foi incluída no inquérito e será indiciada por coação no curso do processo e ameaça. Em vídeos em uma rede social, após Klaus ser preso, ela afirmou que a denunciante "vai pagar pelo que fez", e que "vai acabar com a vida" de quem procurou a polícia.
A investigação identificou 127 mulheres: 24 testemunhas e 103 que teriam sofrido abusos. Das vítimas, 47 tinham crimes que já prescreveram. Outras 27 são mulheres que moram fora de Porto Alegre e, portanto, não faziam parte da atribuição de investigação da delegacia.
Além das 21 vítimas nos 10 inquéritos, Klaus foi indiciado por crimes contra outras oito mulheres em outras investigações finalizadas recentemente na delegacia.
O Ministério Público deve se manifestar nos próximos dias sobre o inquérito, podendo denunciar Klaus, pedirá mais investigações ou arquivar o caso.
As provas
Foram usados como provas os relatos das vítimas, os depoimentos de testemunhas e perícias psíquicas feitas em uma força-tarefa do Instituto-Geral de Perícias (IGP). A delegada Jeiselaure Souza afirma que os laudos produzidos reforçam os depoimentos das vítimas:
— As perícias psíquicas são muito ricas em informações e mostram um padrão de conduta. Quase a totalidade das vítimas, por exemplo, afirma que ele introduzia o dedo na boca das vítimas e simulava sexo oral. Fora outros relatos.
A delegada conta ainda que algumas vítimas jamais conseguiram voltar a médicos homens por temor de que novos abusos pudessem ocorrer.
Novo interrogatório
Em novo interrogatório que durou mais de quatro horas e foi realizado na cadeia onde Klaus está o preso, o médico voltou a negar os crimes na manhã desta quinta-feira (12). O advogado dele, Diego da Silveira Cabral, chama de "duvidoso" o relato das vítimas. Confira a nota no final deste texto.
Quando o caso veio à tona, em 13 de julho, havia 12 vítimas. Em cerca de 15 dias, porém, mais de cem mulheres procuraram a polícia por meio dos canais oficiais e até mesmo pelo Instagram da delegada responsável pela investigação.
Conforme documento obtido por GZH, o médico foi alvo de 23 sindicâncias ou processos ético-profissionais abertos no Conselho Regional de Medicina do Estado (Cremers) nos últimos 20 anos. Em pelo menos 15 desses casos, foi absolvido ou teve as denúncias arquivadas. No início de agosto, a entidade suspendeu o registro de Klaus por um ano.
Confira a nota da defesa de Klaus
"Quanto aos indiciamentos, a defesa reforça que o médico ainda não foi denunciado. Sobre o processo de estupro de vulnerável, o inquérito já foi finalizado e o resultado foi negativo, já que o sêmen encontrado na suposta vítima era do companheiro dela.
A defesa ressalta ainda que uma das supostas vítimas é uma pessoa que teve um relacionamento amoroso com o Dr. Klaus, essa mulher teria gravado vídeos e usado para tentar extorquir o médico, com a ajuda de um presidiário. É muito duvidoso que o Dr. Klaus tenha abusado destas mulheres e ela tenham continuado frequentando o consultório para fazer procedimentos.
A maioria das denunciantes fez procedimentos e tiverem problemas de rejeição, saíram insatisfeitas com o procedimento e ingressaram com ações indenizatórias contra o médico, entre 2014 e 2015, mas não mencionaram atos de abuso. Existe um grupo de mulheres no Instagram, onde a defesa acredita que elas tenham conversado e combinado os depoimentos, já que eles seguiram a mesma linha.
O Dr. Klaus nega qualquer delito e hoje a principal preocupação da defesa é que ele possa responder em liberdade, já que possui uma diabetes severa que por duas vezes já lhe causou problemas na visão.
Sobre a Amanda, companheira do médico, sofrendo uma ação, mas a intenção dela era preservar Klaus e agiu na emoção. Ela se exaltou, mas não tinha intenção de ameaçar ou atentar contra a vida de alguém. Teve a intenção de defender Klaus."