Ao amanhecer de quarta-feira (11), agentes paraguaios, acompanhados da Polícia Civil gaúcha, desembarcaram em frente a um condomínio em Pedro Juan Caballero (cidade separada apenas por uma avenida da sul-mato-grossense Ponta Porã). Após romperem a fechadura de um portão de metal, subiram dois lances de escada, até parar em frente às portas que davam acesso a um dos apartamentos. Dentro dele, deitado em um colchão na sala, estava Leonardo Silva de Souza, o Nego Leo, de 25 anos.
Procurado no RS, é apontado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) como única liderança da facção Anti-Bala, em Porto Alegre, que estava solta, até então. Com origem na Vila Jardim, berço do grupo criminoso, ele tinha atualmente dois mandados de prisão preventiva decretados pela Justiça, por casos envolvendo homicídio. Com a prisão, a polícia espera avançar em outras investigações de assassinatos, do qual o preso é suspeito de ter sido mandante. Nego Leo também possui antecedentes, segundo a polícia, por lavagem de dinheiro.
— Era o segundo na hierarquia de uma organização criminosa atuante no Estado do RS, e o único dessa envergadura na estrutura organizacional dessa facção que ainda estava solto. Essas prisões fazem parte da estratégia do DHPP. Acreditamos que, tirando essas lideranças das ruas e isolando o comando da facção, isso contribui sobremaneira para a redução dos homicídios — afirma a diretora do DHPP, delegada Vanessa Pitrez.
Foi justamente durante a apuração de homicídios que a equipe da 5ª DHHP, obteve informações mais precisas sobre o local onde estaria Nego Leo. Com um endereço, na última segunda-feira, o delegado Gabriel Lourenço, acompanhado de cinco policiais, rumou em direção à Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul – a 1,2 mil quilômetros da Capital gaúcha. Do outro lado da fronteira, fica Pedro Juan Caballero, que teria servido de esconderijo nos últimos anos para o procurado gaúcho.
No Paraguai, os agentes fizeram contato com a Polícia Federal, que acionou a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) do Paraguai, para que a prisão de Nego Leo pudesse ser feita por meio da cooperação internacional. O endereço onde ele estava escondido foi monitorado pelas equipes, que fizeram campanas na área, até a operação ao amanhecer de quarta-feira.
— Aquela localidade ali é dominada pelo tráfico. Ele era inclusive vizinho de uma das lideranças daquela localidade. Tinha essa dificuldade, que era a não recepção das nossas equipes — detalhou o delegado Lourenço.
Os policiais ingressaram no imóvel e encontraram Nego Leo dormindo na sala, vestindo de camiseta e calção.
— Tô sozinho. Tô sozinho – disse, enquanto era imobilizado e os agentes abriam as outras portas do apartamento.
— É ele, é ele — confirmou um dos policiais gaúchos aos paraguaios, que só conheciam Nego Leo por fotografia.
Dali, o preso foi levado até a sede da polícia paraguaia, onde foi dado início ao processo para expulsão imediata do país. Ali, um advogado paraguaio se apresentou afirmando que representa o procurado.
— Isso nos fez acreditar que ele tinha olheiros. A operação foi realizada de forma extremamente sigilosa, discreta. E, assim que ele chegou à delegacia de polícia local, já havia um advogado aguardando. Nos faz crer que ele já estava bem inserido no local, e contava com apoio da criminalidade paraguaia — diz a diretora do DHPP.
Na sequência, foi encaminhado à Polícia Federal de Ponta Porã. Nesta quinta-feira, embarcou em voo comercial, escoltado pelos agentes do RS, de volta à Capital, onde chegou no fim da tarde.
Tráfico internacional
Nego Leo é apontado como braço direito de Jackson Peixoto Rodrigues, o Nego Jackson – líder da mesma facção. O grupo, faz frente ao grupo rival, com berço no bairro Bom Jesus, e está no centro de disputas sangrentas pelo tráfico de drogas, marcadas por execuções, decapitações e esquartejamentos entre os anos de 2015 e 2017.
Em janeiro de 2017, considerado o bandido mais procurado do RS na época, Nego Jackson foi preso na mesma cidade paraguaia. Daquela vez, a prisão foi quase um golpe de sorte. A polícia do país vizinho capturou Nego Jackson, com outros três brasileiros, sem saber de quem se tratava. O quarteto foi preso, durante a apuração do assassinato de um casal, numa residência luxuosa e com piscina no bairro Guaraní, um dos principais de Pedro Juan Caballero.
Aos policias, Nego Leo disse que desde 2016 — quando se tornou foragido — vivia frequentemente se deslocando entre cidades. Desde então, esteve alguns períodos no Rio de Janeiro e depois regressou para o Paraguai. Com a prisão de Nego Jackson, teria assumido o controle da organização na rua, fazendo o elo do grupo com o país vizinho.
— Era extensão da liderança nas ruas. Coordenava a logística criminosa, movimentação financeira, distribuição de pontos de droga, tráfico internacional de armas e drogas. A entrada da droga do Paraguai no Brasil, com destino a organização que ele pertence, era ele que fazia essa ponte — detalha a delegada Vanessa.
Em Pedro Juan Caballero, segundo a polícia, uma das funções de Nego Leo seria articular os contatos com outras organizações criminosas, para negociar armas e drogas, incluindo a maior facção do país, o Primeiro Comando da Capital (PCC).
— A facção da qual ele faz parte há indícios fortes de que seja alinhada a esta facção criminosa de São Paulo — diz o delegado Lourenço.
Com o preso, foram apreendidos celulares, que terão o conteúdo submetido à perícia.
Segunda prisão na semana
Esta foi a segunda prisão realizada pelo DHPP fora do Estado nesta semana. Uma investigação da 4ª Delegacia de Homicídios de Porto Alegre, levou na segunda-feira (9) à prisão em Salvador, na Bahia, de um líder de uma facção gaúcha, com base no Vale do Sinos. Luís Rodrigo Abreu Silveira, 37 anos, conhecido como Pepé, é suspeito de ser mandante de tentativa de homicídio contra duas vítimas na Capital, em junho.
— São ações como essa que vêm favorecendo redução de índices de homicídios aqui no RS — afirmou o delegado Eibert Moreira, durante coletiva à imprensa no fim da tarde desta quinta-feira.
Em Porto Alegre, Nego Leo ainda deverá ser ouvido pela polícia e depois encaminhado ao sistema prisional gaúcho.