A Polícia Federal (PF) concluiu o relatório complementar da Operação Lamanai, deflagrada em 17 de outubro de 2019, que apura um esquema criminoso que teria lesado clientes da empresa Unick, do Vale do Sinos, em cerca de R$ 12 bilhões. Em novembro do mesmo ano, o delegado Aldronei Pacheco Rodrigues, da Delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiros da PF, indiciou, com envio de relatório parcial à Justiça Federal, 13 pessoas por organização criminosa e crimes contra o Sistema Financeiro Nacional. Nesta terça-feira (11), o restante da investigação foi concluída com o resultado da análise de documentos, arquivos digitais e dos demais dados apreendidos no cumprimento dos mandados de busca e apreensão.
Além desses 13 indiciados, outras duas pessoas denunciadas pelo Ministério Público Federal (MPF) por suposto envolvimento no esquema já são réus em processo que tramita na 7a Vara Federal de Porto Alegre. Audiências de instrução e julgamento que haviam sido marcadas para junho foram canceladas até que a PF concluísse o inquérito e que as partes tivessem acesso ao conteúdo da investigação.
PF e MPF sustentam que a Unick, empresa de investimentos com sede em São Leopoldo, deve cerca de R$ 12 bilhões a seus clientes. A movimentação financeira contabilizada da empresa nos últimos anos chega a R$ 28 bilhões. O caso é de suposta fraude envolvendo investimentos no mercado de moedas virtuais.
Confira o papel de cada um dos 15 réus no esquema, segundo a PF e o MPF:
Leidimar Bernardo Lopes
Exerceria o comando da suposta organização criminosa, apresentaria-se aos clientes como fundador e CEO da empresa. Os demais denunciados referiam-se a ele como "comandante", "presidente" ou "chefe", dada a sua posição de ascendência sobre eles.
Danter Navar da Silva
Seria o diretor de marketing da Unick Forex e estaria ligado diretamente a Leidimar Lopes. Faria a divulgação, por meio de vídeos corporativos, palestras e produtos da empresa. Atuaria no planejamento e gerenciamento dos negócios da Unick.
Fernando Baum Salomon
Advogado, inicialmente atuaria juntamente a Caren Greff de Oliveira para a suposta organização criminosa a partir do seu escritório de advocacia. Teria cedido contas pessoais e de seu escritório de advocacia Fernando Salomon e Advogados Associados para a organização criminosa manter valores que teria captado dos clientes, e reportaria movimentações nessas contas a Leidimar Lopes. Teria efetuado movimentações de conta bancária do seu escritório de advocacia para empresas que teriam sido indicadas por Leidimar para fins de pagamentos a clientes da Unick Forex.
Caren Cristiani Greff Martins
Advogada, teria atuado, em parte do período dos fatos, juntamente a Fernando Salomon, no mesmo escritório de advocacia, para as atividades da Unick Forex. E, em outra parte, a partir do seu próprio escritório de advocacia. Trabalharia como "prestadora de serviços advocatícios à empresa".
Fernando Marques Lusvarghi
O advogado seria diretor jurídico da Unick Forex. Participaria da administração e gerência da empresa, atuando no planejamento de atividades. A partir da sua empresa SA Capital, prestaria garantia supostamente fictícia aos investidores. Receberia valores captados de clientes, controlaria e efetuaria pagamentos dos investimentos a clientes.
Paulo Sérgio Kroeff
Estaria ligado a Leidimar Lopes, Fernando Salomon e Caren Greff. Seria o responsável pela aquisição e direção de empresas para Leidimar nas atividades que seriam desenvolvidas pela Unick Forex.
Israel Nogueira e Sousa
Seria diretor de comunicação e tecnologia da Unick Forex. Atuaria no desenvolvimento de sistemas para a operacionalização das atividades da empesa. Auxiliaria na abertura de empresa para a suposta organização criminosa em Los Angeles (EUA) e de contas bancárias para suposto recebimento de recursos dos investimentos.
Sebastião Lucas da Silva Gil
Integraria a equipe diretiva da Unick Forex. Movimentaria em sua conta bancária valores da Unick Forex e efetuaria contatos com clientes acerca de seus investimentos na empresa. Atuaria na criação de banco digital (OURBANK) para a suposta organização criminosa.
Euler da Silva Machado
Efetuaria pagamentos a pessoas, segundo a investigação, a mando de Leidimar Lopes. Controlaria pagamentos a clientes da Unick Forex.
Ronaldo Luis Sembranelli
Atuou, conforme a investigação, como "laranja" de Leidimar para a aquisição de ações de um banco com recursos que viriam das atividades da Unick.
Marcos da Silva Kronhardt
Atuaria como trader (profissional responsável por negociar ativos financeiros) e operador da Unick Forex no mercado Forex. O réu agiria como "prestador de serviços" por meio da sua empresa MSK Soluções Financeiras.
Fabiano Alves da Silva
Seria diretor administrativo da Unick Forex, e teria ligação direta com Leidimar Lopes. Seria responsável pela equipe de desenvolvimento, criação e projetos do suporte da empresa. Acompanharia a gestão e teria realizado, em conjunto a Leidimar, negócios da empresa.
Ana Carolina de Oliveira Lopes
Filha de Leidimar Lopes, teria exercido, com o pai, a administração da Unick Forex. Controlaria contas bancárias do grupo, cederia sua conta para supostos recebimentos de valores de investimentos, elaboraria, entre outros, contratos de traders para a Unick.
Itamar Bernardo Lopes
Movimentaria em contas bancárias próprias e de sua empresa valores que seriam captados pela suposta organização criminosa.
Ricardo Ramos Rodrigues
Contador, atuaria na suposta organização criminosa confeccionando documentos fiscais e contábeis do grupo.
O que dizem os réus:
Fernando Salomon
"Temos plena convicção da improcedência da ação em relação ao Fernando Salomon e exerceremos a defesa exclusivamente nos autos", declarou a defesa técnica executada pelos advogados Rafael Canterji, Paulo Monteiro e Guilherme Fontes
GZH busca a posição dos demais réus.