O segundo mês de 2021 fechou com quedas em três importantes indicadores de violência — homicídio, latrocínio e roubo de veículo —, mas o Rio Grande do Sul ainda encontra barreiras para reduzir o principal crime contra a mulher, o feminicídio. O total de vítimas mortas (quatro) por questões de gênero em fevereiro se manteve no segundo mês de 2020, enquanto assassinatos caíram 25,7%, roubo com morte despencou ao menor nível da série histórica e o roubo de veículo baixou quase pela metade — considerando fevereiro de 2021 com o mesmo período do ano passado.
Mesmo com reforço nas ações e na rede de suporte às mulheres, reduzir o número de mulheres assassinadas não depende só do trabalho de prevenção e investigação na leitura da chefe de Polícia, delegada Nadine Anflor:
— É o nosso maior desafio. Estamos fazendo a nossa parte, ampliando nossos serviços, fazendo das Deams (Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher) o ponto central dessa rede de atendimento. Se a rede não funciona, não adiante nada ter porta aberta para denunciar, se a mulher não tiver apoio assistencial, psicológico e social. Talvez esteja faltando uma rede ainda mais organizada, mais integrada e o momento atual dificulta esse atendimento presencial.
Conforme Nadine, a pandemia adiou diversas ações presenciais que estavam previstas ao longo de 2020, como as delegacias itinerantes, que também não podem ser executadas neste momento devido ao agravamento do contágio por covid-19 no Rio Grande do Sul.
O feminicídio exige que se controle todos os quatro cantos do Estado, diferentemente de controlar roubo de veículo, latrocínio e homicídio, que sabemos onde estão as facções, onde tem rivalidade e conseguimos atuar no local.
NADINE ANFLOR
Chefe de Polícia do Rio Grande do Sul
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP), as patrulhas Maria da Penha da Brigada Militar foram ampliadas em 143% nos últimos dois anos e a Polícia Civil inaugurou mais nove salas das Margaridas. Com isso, chegou a 32 o total de espaços de recepção especializada no atendimento de mulheres nas delegacias de Polícia de Pronto Atendimento (DPPAs) do Estado.
— O feminicídio exige que se controle todos os quatro cantos do Estado, diferentemente de controlar roubo de veículo, latrocínio e homicídio, que sabemos onde estão as facções, onde tem rivalidade e conseguimos atuar no local. Quando é violência contra a mulher, sabemos a idade e o dia que pode acontecer, mas não tem classe social nem cor — explica Nadine.
Fevereiro tem menor número de vítimas de homicídios no RS em 14 anos
O percentual de vítimas de homicídios caiu 25,7%: de 179 no segundo mês de 2020 para 133 em igual período deste ano, atingindo o menor total em 14 anos. Dentro dos municípios priorizados pelo RS Seguro, programa de combate a criminalidade do governo do Estado, Bento Gonçalves, Capão da Canoa, Cruz Alta, Esteio, Farroupilha, Ijuí e Tramandaí zeraram os homicídios em fevereiro. Esteio, na Região Metropolitana, está há dois meses consecutivos sem registros de assassinatos.
Porto Alegre tem o menor número de homicídios para fevereiro desde 2010. Os assassinatos caíram 29,6%, com 19 vítimas frente a 27 do segundo mês do ano passado. Em ações conjuntas, Polícia Civil e Brigada Militar conseguiram conter uma onda de assassinatos que aconteceu entre o final de janeiro e o início de fevereiro na Zona Leste, marcando guerra por pontos de tráfico no bairro Jardim Carvalho.
— Identificamos onde estava a tensão e agimos rapidamente. As investigações foram direcionadas para aqueles homicídios, com identificação da autoria, prisão de muitos deles e trabalho integrado com a Susepe dentro das cadeias. Com operação, sufocamos a área e impedimos que eles se matem. A guerra entre eles pode, em seguida, matar qualquer um. Não tenho menor dúvida que homicídio só tem uma forma de diminuir: com inteligência, informação e efetividade na investigação policial qualificada — detalha Nadine.
A guerra entre dois grupos criminosos da Capital resultou em seis homicídios em 48 horas entre o final janeiro e começo de fevereiro. O comandante-geral da BM, coronel Rodrigo Mohr, reconhece que não há como prevenir totalmente as mortes nesses casos, mas afirma que, quando se iniciam os confrontos, o trabalho da polícia pode evitar que as mortes se multipliquem:
— Se inicia uma guerra entre facções, a inteligência começa a funcionar e inicia, dentro da BM, um trabalho para aumentar o efetivo no local onde ocorrem as mortes e na região onde pode ter o revide.
Na medida em que reduz os roubos, reduz o latrocínio. É importante sempre saber o motivo desse crime. O que levou ao latrocínio: se é celular, veículo, estabelecimento comercial. É algo que procuramos estudar e atuar com operações em cima desses fatos.
CORONEL RODRIGO MOHR
Comandante-geral da BM
O indicador que teve redução mais expressiva em fevereiro foi o latrocínio (roubo com morte), que despencou 62,5%: baixou de oito em 2020 para três neste ano. É o menor número para o mês na série histórica da SSP, feita desde 2002.
Registrando reduções expressivas desde 2018, o roubo de veículo caiu quase a metade. Fevereiro teve 470 ocorrências, frente as 905 registradas no mesmo mês do ano passado, decréscimo de 48,1%. Em Porto Alegre, o número de veículos levados por criminosos baixou de 376 casos, no ano passado, para 192 neste ano (-48,9%).
— Na medida em que reduz os roubos, reduz o latrocínio. É importante sempre saber o motivo desse crime. O que levou ao latrocínio: se é celular, veículo, estabelecimento comercial. É algo que procuramos estudar e atuar com operações em cima desses fatos — afirma o coronel Rodrigo Mohr.
Em meio à redução desse indicador, a Delegacia de Roubo de Veículos (DRV) concluiu 740 inquéritos com 962 pessoas indiciadas ao longo de 2020.