Após fechar 2020 com redução de 18,6% no número de assassinatos em Porto Alegre, o registro de seis homicídios no intervalo de 48 horas no último final de semana de janeiro e 1º dia de fevereiro colocou as polícias da Capital em alerta. Todas as mortes aconteceram na Zona Leste e tem como pano de fundo a retomada de ponto de tráfico de drogas na região.
Na madrugada de sábado (31), Jefferson Ricardo da Silva Gomes, 31 anos, e José Adroaldo Menezes, 45, foram mortos com diversos disparos na Travessa Pereira, no Jardim Carvalho. Gomes tinha antecedentes por tráfico e Menezes, por falsidade ideológica, roubo a pedestre, roubo a pedestre com estupro e estupro.
A partir da noite de sábado, a Brigada Militar reforçou o policiamento na região, mas na manhã de domingo (31) mais um corpo com marcas de tiro foi encontrado em um terreno baldio na Avenida da Colina. A vítima é Marcel Freitas Santiago, 24 anos, que não era conhecido dos moradores do bairro.
Por último, por volta das 4h30min de segunda-feira (1º), um triplo homicídio foi registrado também no Jardim Carvalho. Foram assassinados com tiros de fuzil e pistola os irmãos Paulo Gabriel Corrêa Lima, 18 anos, e João Vitor Corrêa de Lima, 16. Outro adolescente de 17 anos, conhecido como Maia e natural de Alvorada, também foi alvo do ataque. A polícia aguarda exame papiloscópico para confirmar a identidade.
No momento do crime, o trio estava em uma casa invadida pelo tráfico, sem móveis e apenas com colchões, na Rua A. O ataque aconteceu pouco depois que a BM havia encerrado policiamento ostensivo no bairro:
— Desde a noite de sábado, estamos em operação nesses locais. Durante toda a noite (de domingo para segunda-feira) estávamos lá e mesmo assim acabou acontecendo. Passamos a madrugada toda de operação, foi num ínterim que isso aconteceu, é um bairro com várias entradas. Às 4h30min não tinha ninguém na rua, terminamos a operação e nos retiramos do local — relata o comandante do Comando de Policiamento da Capital (CPC), tenente-coronel Rogério Stumpf Pereira.
Os irmãos mortos no triplo homicídio desta segunda-feira foram assassinatos em uma casa ao lado da residência onde morava a mãe deles. Cinco dos seis mortos são ligados ao grupo criminoso que hoje controla a comércio de entorpecentes no Jardim Carvalho, facção que tem berço no bairro Bom Jesus. Apenas Santiago, encontrado no domingo, seria ligado a outro grupo criminoso.
O diretor de Investigações do Departamento de Homicídios, Eibert Moreira Neto, afirma que a Polícia Civil tinha informações de que a disputa por pontos de tráfico estava se acirrando na região:
A mesma facção que atacou no sábado, atacou hoje. São antigos moradores, que conhecem o bairro, e estão tentando retomar o espaço que já foi deles.
EIBERT MOREIRA NETO
Diretor de Investigações do Departamento de Homicídios
— Estamos apurando o motivo dessa quantidade de mortos neste final de semana. A mesma facção que atacou no sábado, atacou hoje. São antigos moradores, que conhecem o bairro, e estão tentando retomar o espaço que já foi deles. Temos informações que eles estão transitando pela Cruzeiro. Hoje pela manhã foram certeiros na casa onde estava o trio.
Outro desafio da polícia é evitar que as seis mortes repercutam em revides de novos homicídios em outras regiões da Capital. A polícia apura se os ataques foram coordenados — ou receberam apoio — das lideranças dos grupos criminosos envolvidos que estão no sistema penitenciário, e verifica a possibilidade de solicitar a movimentação desses apenados dentro de casas prisionais gaúchas. O objetivo é desmobilizá-los, acomodando-os em locais onde não tenham influência.
A investigação também trabalha com a possibilidade da guerra entre as facções ter se intensificado com o retorno de um preso do sistema penitenciário federal e a soltura de outras pessoas que têm interesse no comércio de drogas no Jardim Carvalho.
— Também trabalhamos para formar provas que fundamentem pedido de prisão preventiva dos autores — afirma Eibert.
Tenente-coronel Stumpf, que conversou com GZH na manhã desta segunda-feira, enquanto estava no Jardim Carvalho, afirma que a BM está dando prioridade ao policiamento no bairro e monitora ações em outras regiões de Porto Alegre:
— Essa disputa não é de hoje, mas se acirrou agora. Um dos rapazes mortos hoje tinha sido preso por nós com uma arma. Estamos monitorando toda a área e manteremos assim até que se volte a normalidade. Como é disputa de grupos criminosos, pode ter repercussão em outras áreas.
Quem são os mortos
Sábado, 30 de janeiro, na Travessa Pereira, Jardim Carvalho
Jefferson Ricardo da Silva Gomes, 31 anos, e José Adroaldo Menezes, 45 anos
Domingo, 31 de janeiro, na Avenida da Colina, Jardim Carvalho
Marcel Freitas Santiago, 24 anos
Segunda-feira, 1º de fevereiro, em residência na Rua A
Paulo Gabriel Corrêa Lima, 18 anos
João Vitor Corrêa de Lima, 16 anos
Adolescente de 17 anos não identificado