Na manhã do último sábado (20), Eleine Beatriz Santos Pereira, 69 anos, retornava para casa depois de ir ao mercado buscar alguns produtos para o almoço. Quando se aproximava da moradia, na Rua Clara Nunes, na Restinga, foi golpeada no peito por um homem que saiu correndo. Sem entender o que havia acontecido, seguiu caminhando até a entrada da casa, onde o marido se estarreceu ao perceber que ela tinha um ferimento profundo no peito. A idosa havia sido esfaqueada.
O caso de Eleine é um dos que vêm amedrontando moradoras do bairro no extremo sul de Porto Alegre. Além dela, GZH localizou pelo menos mais três idosas que relatam ter sido atacadas de forma semelhante – formalmente, dois deles chegaram ao conhecimento da Brigada Militar e da Polícia Civil. Os casos aconteceram entre os dias 8 e 22 de fevereiro, durante o período da manhã, enquanto as mulheres caminhavam sozinhas pela rua. Em nenhum dos episódios, o criminoso tentou roubar algo das vítimas.
— Ele não falou nada. Não pediu celular, nem as sacolas do mercado. Pensei que ele tinha me dado um soco. A sorte é que estava pertinho de casa — descreve Eleine.
Quando a idosa se aproximou do portão, o marido, José Pereira, 74 anos, ficou apavorado. Questionou a esposa sobre o que havia acontecido e ela não sabia explicar. Acionou o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu), que encaminhou a idosa ao hospital. Dois dias após o episódio, Eleine toma medicação para a dor e mantém curativo no peito, que tem hematomas provocados pelo golpe.
— Vinha caminhando, tranquila, com a minha sacolinha de mercado. Fui surpreendida. Ele me atacou e saiu correndo. No hospital, disseram que foi facada. Mas não vi a faca. Se tivesse pego mais para o lado, no coração, tinha me matado. As mulheres estão com medo de sair para a rua — relata a idosa, que mora no bairro há mais de quatro décadas.
Após atacar Eleine, o criminoso saiu correndo pelo Acesso 1, nas proximidades de onde outras duas idosas relatam ter sido atacadas. Uma delas, Alice Rodrigues, 69 anos, foi ferida no pescoço por um objeto que não conseguiu identificar, mas acredita ter sido uma agulha. A idosa foi atacada no dia 8 de fevereiro, pouco antes das 10h, quando retornava da igreja. Um homem se aproximou e segurou seu braço.
— Ele cravou algo no meu pescoço, tipo uma injeção. Eu disse: “o que é isso?” E ele saiu correndo. Saiu um pouquinho de sangue. Não sei o que leva alguém a fazer isso — diz Alice, que não chegou a precisar de atendimento médico.
Outra idosa, que reside nas proximidades, foi atacada na manhã do dia 13 de fevereiro, quando regressava do mercado para casa. Ainda com a marca do ferimento no pescoço, diz que não quer falar mais sobre o episódio.
— É um trauma. Não consigo dormir direito, nem sair de casa — descreve.
O caso mais recente, que chegou ao conhecimento da polícia, aconteceu na manhã de segunda-feira (22), quando uma idosa de 82 anos retornava para casa após fazer compras em uma fruteira. Por volta das 10h30min, ela caminhava pelo Acesso A, quando um homem passou por ela correndo. Segundo uma sobrinha da vítima, que preferiu não ser identificada, o homem usava uma faca semelhante a um punhal ou estilete.
A idosa foi socorrida por outra moradora que estava nas proximidades e levada até a casa de uma familiar. De lá, foi até o Hospital da Restinga, onde precisou de três pontos no ferimento no pescoço.
— Foi sério. Mais três centímetros e teria pego na veia. Ela não conseguiu dormir nesta noite. Fechava o olho e enxergava o cara. Hoje ela almoçou, está melhorando — descreve a sobrinha.
A idosa foi levada pelos familiares até a Polícia Civil, onde o caso foi registrado.
Investigação e abordagens
Diretora do Departamento de Polícia Metropolitana, a delegada Adriana Regina da Costa afirma que os casos são apurados com prioridade. Somente dois deles tinham sido registrados na polícia até esta terça-feira (23). A investigação busca imagens de câmeras de locais próximos de onde aconteceram os ataques para tentar identificar a autoria. Agentes do setor de inteligência do departamento estão apoiando a 16ª Delegacia de Polícia no caso.
— É cedo para dizer se há relação entre os fatos, mas serão investigados em conjunto — afirma a delegada.
Comandante do 21º Batalhão de Polícia Militar (BPM), localizado perto de onde aconteceram os ataques, o major Fabrício Rocha da Silveira afirma também que somente dois fatos foram comunicados à Brigada Militar, embora mais episódios tenham sido relatados, inclusive pelas redes sociais. Enquanto isso, as abordagens foram reforçadas no entorno de onde aconteceram os casos, segundo o oficial.
— Ainda não sabemos qual a motivação dessa pessoa. As vítimas, em tese, não tinham vínculo nenhum entre elas. Não temos informação de assalto, de subtração de pertences, de nada. A estratégia neste momento é intensificar as abordagens na região. E buscar a identificação dessa pessoa — afirma.
No bairro, os moradores seguem em alerta, com receio de que novos episódios se repitam. Gislaine Ferreira, 38 anos, soube dos casos no sábado, por meio dos vizinhos na rua. Ela foi uma das pessoas que fez postagens de alerta pelas redes sociais.
— Amanhã, pode ser eu ou pode ser outra pessoa próxima. Não sabemos. Todo mundo fica com medo — diz a comerciante.
Denuncie
A orientação da Brigada Militar e da Polícia Civil é comunicar o fato imediatamente aos órgãos policiais para que possam ser localizadas pistas. É possível acionar a BM pelo 190. Caso tenha sido vítima e não tenha registrado, também deve-se comunicar o fato. O registro pode ser feito na 16ª Delegacia de Polícia, localizada na Avenida João Antônio Silveira, 2.145, na Restinga ou pela Delegacia Online (neste link). Informações que ajudem a identificar o autor também podem ser repassadas à polícia pelo 051-984440606.