O motorista de 28 anos preso pelo assassinato da freira Maria Ana Dal Santo, 79 anos, em São João do Polêsine, na Região Central, foi ouvido novamente na tarde desta terça-feira (9). No depoimento, o homem voltou atrás em parte da versão apresentada. Ele negou o motivo que havia detalhado na primeira confissão. A polícia suspeita que o crime tenha sido motivado por um desacerto financeiro. A investigação deverá ser concluída nesta quarta-feira (10).
Quando admitiu ter matado a idosa, o preso apresentou uma versão que não convenceu os investigadores. Nos últimos dias, os policiais se dedicaram a verificar a veracidade do que ele havia descrito. Para isso, ouviram mais testemunhas – no total, foram colhidos 37 depoimentos.
— Nesta tarde, ele foi ouvido novamente e admitiu que aquela primeira versão não era verdadeira. Ele admite a morte, mas nega o motivo que havia relatado. Ele se recusou a responder mais perguntas — afirmou o delegado Sandro Meinerz, que preferiu não detalhar o motivo apresentado inicialmente pelo preso.
Para a polícia, a principal suspeita é de que o crime tenha sido motivado por questões financeiras, envolvendo o conserto de um veículo e uma corrida até o Paraná, onde a vítima residia. A freira morava em Iporã há mais de 40 anos, mas no fim do ano passado retornou para São João do Polêsine para auxiliar uma irmã, que estava adoentada. Quando o crime aconteceu, a religiosa estava na propriedade, herança de família.
Nos dias em que esteve no município, a irmã Ana decidiu fazer alguns reparos e limpeza na casa. O primeiro contato dela com o motorista teria sido no momento em que ele levou pessoas até a propriedade para limpar o imóvel. Depois disso, o homem teria feito algumas corridas para a freira, para buscar medicamentos para o gado e consertar um relógio. Ele também teria levado um Fusca para o conserto, pelo qual recebeu R$ 1 mil. Mas o reparo no veículo não chegou a ser feito e ele não devolveu o valor à freira. A religiosa estaria pressionando o homem para que devolvesse o valor.
Além disso, o motorista teria se oferecido para levar irmã Ana de volta para o Paraná. Ela havia viajado até o Rio Grande do Sul com outro condutor e pretendia regressar na semana seguinte para Iporã. Orientada pelas outras freiras, a religiosa teria recusado a oferta. Irmã Ana acabou acertando a corrida com a mesma pessoa que havia lhe trazido ao Estado. O retorno deveria ter ocorrido na terça-feira, dia 19, mas a idosa foi morta dois dias antes.
— Acreditamos que a motivação esteja relacionada a esses desacertos entre eles. Ela queria o dinheiro de volta, ele não tinha para devolver — explicou Meinerz.
A polícia espera encaminhar o inquérito ao Judiciário nesta quarta-feira. O homem, que segue preso de forma preventiva, deverá ser indiciado pelo crime de homicídio qualificado. Para o delegado, não há indicativos de que tenha ocorrido latrocínio, que seria roubo com morte. Desde o início, intrigava a polícia o fato de que dentro da bolsa da vítima havia a quantia de R$ 6 mil intacta, o que tornava essa possibilidade menos provável.
— Não sumiu nada de dentro da casa, mesmo sendo um local isolado, onde ele teria tempo para roubar — disse.
Após confessar o crime, o homem apontou à polícia uma área de mato onde estava um facão, que teria sido usado no crime. A polícia aguarda o resultado da perícia realizada nesse facão e também no veículo do suspeito. GZH entrou em contato com o advogado Ditmar Strahl, responsável pela defesa do preso, que informou que só irá se manifestar após o término das investigações.
O caso
Irmã Ana foi encontrada morta na propriedade da família em Linha da Glória, na tarde do dia 17 de janeiro, com um corte profundo na parte de trás do pescoço. O golpe foi tão forte, que quase decapitou a vítima. Este foi o terceiro depoimento que o motorista prestou sobre o caso. Quando foi ouvido pela primeira vez sobre a morte da freira, o motorista negou ter visitado a propriedade da religiosa no dia do crime. Alegou que só saiu de casa, em Faxinal do Soturno, pouco depois das 11h, para almoçar.
Seis dias depois, diante de provas que contrariavam a primeira versão,confirmou que foi até a propriedade, matou a idosa e retornou para casa, para ir a um restaurante com a família. Imagens de câmeras de segurança e o relato de uma testemunha ajudaram a polícia a identificar o motorista.
Um vizinho da idosa relatou ter visto um veículo sedan vermelho entrando na propriedade na manhã do crime, por volta de 10h30min, e deixando o local minutos depois. Para descobrir que carro era esse, a polícia começou a ouvir outras pessoas e buscar imagens. Uma dessas câmeras, no distrito de Vale Vêneto, permitiu identificar o modelo do carro: um Prisma sedan vermelho, sem as calotas.
Um dos proprietários de um Prisma vermelho era o motorista, que havia realizado alguns transportes para a religiosa naqueles dias. Na quinta-feira, dia 21, o morador de Faxinal do Soturno foi ouvido e confirmou que esteve na propriedade pelo menos três vezes. Mas, sem saber do relato do vizinho, negou ter estado lá no dia do crime.
No dia seguinte ao depoimento, a polícia obteve novas imagens de câmera de segurança. Elas mostravam o veículo passando por São João do Polêsine em horário compatível com o do crime. Uma delas permitiu confirmar que a placa era a mesma do Prisma do motorista. Isso tornou o condutor um suspeito do crime. A partir disso, a polícia pediu um mandado de busca e apreensão, que foi cumprido na quarta-feira (27) em Faxinal do Soturno.
Na Delegacia de Polícia ele acabou confirmando, segundo o delegado, ter sido o autor do crime. Neste novo relato, o motorista contou que foi até a propriedade com um facão dentro do carro. Lá, teria descido e ido conversar com a freira, que estava sozinha nos fundos da casa. Teria usado como pretexto uma corrida que ele havia se oferecido para fazer para ela até Iporã, para onde ela pretendia retornar em breve. Depois disso, o homem teria dito que ia embora, mas não foi. Na sequência, teria atacado a religiosa de surpresa.
A freira se dedicava à vida religiosa desde a adolescência. Ela morava em uma escola no município de Iporã, onde era bastante querida pela comunidade. A religiosa recebeu diversas homenagens de colegas e alunos após a perda trágica.