Mais de 30 depoimentos já foram ouvidos pela Polícia Civil, na tentativa de entender o que motivou a morte da freira Maria Ana Dal Santo, 79 anos, na Região Central. A irmã Ana, como era conhecida, foi assassinada no dia 17 de janeiro, na propriedade da família na área rural de São João do Polêsine. Na semana passada, um homem de 28 foi preso e confessou o crime. A previsão é de que o inquérito seja concluído até a próxima segunda-feira (8).
Segundo o delegado Sandro Meinerz, que apura o caso, a polícia ainda não está convencida de que a motivação apresentada pelo preso seja verdadeira. Por isso, mesmo após ele ter confessado o crime, os policiais seguiram ouvindo mais depoimentos. Um dos objetivos é entender se há ou não participação de outras pessoas no crime. Também são aguardadas laudos de perícias realizadas no facão, que foi localizado após o preso apontar uma área de mato onde estava o instrumento, no veículo e no celular dele.
— Não estamos por ora divulgando a motivação que ele apresentou porque nem eu me convenci. Uma mentira contada muitas vezes vira uma verdade. Não queremos que isso contamine os relatos que ainda estamos ouvindo — afirma o policial.
O motorista contou que conheceu a freira após levar algumas pessoas para realizarem limpeza na casa. Depois disso, teria feito algumas corridas, para buscar medicamentos para o gado e levar um relógio para o conserto. Além disso, também levou um Fusca, de uma familiar da freira, até uma oficina. A religiosa teria entregue R$ 1 mil para que ele levasse o veículo para o conserto, mas o reparo não chegou a ser feito e ele não devolveu valor. O homem contou em depoimento que ele havia se oferecido para levar a vítima até Iporã, no Paraná, onde ela residia, mas que ela havia recusado a corrida.
Na confissão, o homem, sem antecedentes, alegou que foi até a casa com a intenção de assassinar irmã Ana e que não pretendia roubar nada. Ele teria conversado com a vítima e fingido que iria embora. Após a freira entrar em casa, teria ido até o carro para pegar um facão, com o qual golpeou o pescoço dela. Imagens de câmeras obtidas pela polícia comprovaram que ele realmente esteve no trajeto em direção à propriedade no dia do crime, em horário compatível com a morte. Em um primeiro depoimento, ele havia alegado que só tinha saído de casa naquele dia para ir almoçar com a esposa.
A polícia já descobriu que o preso esteve na propriedade da vítima mais vezes do que havia relatado. O veículo dele foi flagrado seguindo em direção à casa de irmã Ana dias antes do crime. Uma das possibilidades apuradas é de que o motorista possa ter ido ao local mais de uma vez na tentativa de cometer o crime, mas só tenha encontrado a vítima sozinha no domingo no qual ela foi assassinada.
— Independentemente de ter ou não envolvimento de terceiros, o relato dele que coletamos indica que ele esteve na casa da vítima no dia dos fatos, teve contato com a vítima antes de ela ser morta. Isso está claro. Esteve em contato com o instrumento usado, em tese, no crime — afirmou o delegado Meinerz.
O motorista continua preso de forma preventiva. O advogado Ditmar Strahl, responsável pela defesa do suspeito, reafirmou nesta quinta-feira (4) que só pretende se manifestar após a investigação ser finalizada. Ele manteve também a afirmação de que desdobramentos na apuração “poderão alterar profundamente o caso”.
A vítima
A freira residia em Iporã, no Paraná, há mais de 40 anos, mas havia regressado ao Rio Grande do Sul após a irmã, que vive em São João do Polêsine, adoecer. A religiosa estava na casa herdada pela família, quando foi assassinada. Irmã Ana dedicou praticamente toda à vida à Congregação do Imaculado Coração de Maria, da qual fazia parte desde a adolescência. No Paraná, atuou como professora de português e diretora na Escola Nossa Senhora Aparecida. Ela era muito querida pela comunidade.