O condutor de um Voyage branco foi indiciado pela Polícia Civil por sete ataques a ciclistas em Porto Alegre. O inquérito foi concluído nesta segunda-feira (28) pela Coordenadoria de Recursos Especiais (Core). O autônomo de 44 anos foi indiciado por crime de trânsito, crime de perigo para a vida, ameaça e tentativa de lesão corporal. O indiciado não teve o nome divulgado pela polícia.
Os ataques aconteceram entre o fim do ano passado e setembro deste ano – a maior parte dos fatos ocorreu na Avenida Edvaldo Pereira Paiva, a Beira-Rio, na orla do Guaíba. As vítimas relatam que o motorista de um Voyage branco se aproximava delas em alta velocidade e freava próximo. Alguns ciclistas relataram que precisaram sair da frente do veículo para não serem atingidos.
Segundo o delegado Marco Antônio Duarte de Souza, da Core, nesses sete casos a polícia conseguiu obter evidências de que o crime aconteceu. No total, o motorista foi indiciado por seis crimes de trânsito, seis crimes de perigo para vida, sete ameaças e quatro tentativas de lesão corporal.
— Em alguns casos, a conduta dele tipificou mais de um crime. Em todos eles constatamos a ameaça. A atitude dele era no sentido de ameaçar os ciclistas, causar temor — explica o delegado.
Os quatro casos de tentativa de lesão corporal foram aqueles nos quais a polícia identificou que a vítima só não saiu ferida porque conseguiu evitar a colisão. Ciclistas relataram, por exemplo, terem sido perseguidos pelo condutor e disseram que precisaram sair da frente do carro para não serem atingidos.
— Se a vítima não tivesse tirado a bicicleta da frente, teria sido atingida — diz Souza.
Onze casos chegaram a ser informados pelos ciclistas, mas alguns envolviam mais de uma vítima, um deles havia sido registrado na Delegacia de Trânsito, e, por isso, não consta nesse inquérito. Outro caso, envolvendo um entregador de 21 anos, foi descartado após o jovem admitir que havia mentido ao comunicar o crime e que não foi atacado pelo motorista. O entregador é investigado pela fraude.
No entendimento da polícia, o que motivou o condutor a atacar as vítimas foi justamente o intuito de provocar intimidação. Segundo o delegado, a investigação apurou que o motorista teve um desentendimento anterior com ciclistas. A suspeita é de que isso tenha motivado as ações em série.
— A motivação foi esse desentendimento pretérito com um grupo de ciclistas. A partir daquele momento, ele passou a praticar esse tipo de fato, a descontar nos ciclistas — afirma Souza.
Ao longo da investigação, foram obtidas imagens de câmeras que mostram o veículo circulando pelo local em horários compatíveis com os dos ataques. Além disso, conforme o delegado, a perícia realizada no Voyage identificou uma série de avarias. Para a polícia, isso é compatível com uma postura de direção agressiva. A mesma perícia apontou que o automóvel estava em condições de trafegar — o motorista alegou em depoimento que o motor do veículo estaria danificado.
O Voyage já havia sido apreendido pela equipe de investigação no fim de setembro, e o direito de dirigir do condutor foi suspenso. Essas medidas, segundo a polícia, continuam em vigor, sem prazo para serem encerradas. A Polícia Civil chegou a solicitar a prisão do condutor, mas o pedido foi negado. Segundo o Tribunal de Justiça, os delitos dos quais ele é suspeito não justificariam esse tipo de medida — o Ministério Público também se manifestou contra a preventiva.
O que diz a defesa do motorista
Advogado do condutor, Mateus Urruth Alves afirmou que apenas um dos casos relatados a polícia ocorreu, mas de forma diferente da indicada pela investigação. Conforme Alves, no caso, um ciclista que não estava na ciclovia teria cortado a frente do veículo e o condutor freou de forma brusca para evitar um acidente maior. O homem desceu do carro e se iniciou uma discussão. Nesse momento, ele teria sido ameaçado por mais ciclistas e pego a chave inglesa para se defender. Logo depois, o homem teria entrado no carro e ido embora.
De acordo com a defesa, o condutor realiza o trajeto próximo ao Beira-Rio todos os dias porque leva a esposa até uma estação do Trensurb. O motorista trabalha como mecânico e por isso tinha uma chave inglesa no carro.
— É um instrumento de trabalho, não foi algo feito de forma programada para agredir ninguém, e ele usou para se defender.
Segundo o advogado, as outras seis acusações de ciclistas contra o condutor não são verdadeiras.
— Nós não reconhecemos esses outros ataques e nem iremos reconhecer. De repente esses ciclistas até podem ter sido ameaçados por outro veiculo parecido naquele local, e como já tinha o caso do meu cliente, resolveram colocar tudo na conta dele — afirmou Alves.
Conforme a defesa, o homem trabalha em duas oficinas, mas foi demitido de uma delas porque foi reconhecido no local. O condutor afirma que passou a receber ameaças de pessoas nos locais que frequenta e pelas redes sociais.
— As pessoas passaram a divulgar o endereço dele nas redes, dados pessoais, ligar para parentes dele de fora da cidade, incitando violência contra ele. Ele vem sendo ameaçado, recebe mensagens dizendo que irão colocar fogo na casa dele. A vida do meu cliente foi praticamente destruída.