A morte de João Alberto Silveira Freitas, espancado por seguranças no estacionamento do Carrefour do bairro Passo D’Areia, na zona norte de Porto Alegre, lembra uma série de agressões praticadas recentemente contra negros em grandes estabelecimentos do Brasil. A primeira semelhança é a forma como esse tipo de caso chega a público: por meio de imagens gravadas por terceiros que viralizam nas redes sociais.
Em agosto, no Rio de Janeiro, um jovem de 18 anos foi rendido, agredido e ameaçado por dois policiais militares no Shopping Via Plaza, na Ilha do Governador. Entregador de comida por aplicativo, Matheus Fernandes tinha ido a uma loja Renner trocar um relógio que daria de presente ao pai. Em um vídeo divulgado na internet, é possível ver o rapaz no chão enquanto um homem de camisa vermelha o imobiliza.
— Todo dia entro no shopping para trabalhar. Agora, só porque eu sou preto, eu não posso ir lá para me divertir? — desabafou depois de fazer um boletim de ocorrência.
Em fevereiro do ano passado, também no Rio, um homem negro de 19 anos foi morto em uma unidade da rede de supermercados Extra na Barra da Tijuca. O caso gerou comoção popular pois um vídeo gravado com celular mostrou o vigia Davi Ricardo Moreira Amâncio, 32, imobilizando o jovem quando ele já estava desacordado. Pessoas ao redor pedem que ele pare, mas o vigia as ignora e permanece deitado sobre Pedro Henrique por no mínimo um minuto.
Já em um supermercado Extra de São Paulo, meio ano depois, ficou público um outro caso, que não envolveu óbito. Um vídeo de mais de um ano divulgado nas redes sociais levou a Polícia Civil a investigar um caso de tortura de um homem negro suspeito de furtar um pedaço de carne: ele teria levado choques e apanhado de funcionários e segurança.
Nas imagens, aparecem algumas pessoas obrigando a vítima a falar: "galera, não rouba mais no Extra Morumbi" e “eu errei e me ferrei”. Ele também apanhou na mão com uma espécie de cano.
No ano passado, também em São Paulo, um jovem de 17 anos que teria sido flagrado furtando chocolate de um supermercado Ricoy disse ter sido torturado por cerca de 40 minutos. Um vídeo que circulava nas redes mostrava o jovem sendo chicoteado por dois seguranças.