
A bordo de um Gol vermelho, a família Boeira Pena estava dobrando a esquina de casa no bairro São Luiz Gonzaga, em Passo Fundo, no norte do Estado, no final da noite da última sexta-feira (21) quando Robson, 32 anos, ouviu o barulho de tiros. Gritou para a esposa e os dois filhos, todos no banco de trás, se abaixarem. No mesmo instante, a mulher respondeu:
— O nenê está sangrando.
Erick, o caçula com um ano e nove meses – completados no domingo (23) – havia sido atingido com um tiro na testa. A família, que estava a poucos metros de casa, partiu para o Hospital de Clínicas de Passo Fundo. A criança foi submetida a cirurgia e foi transferida para o Hospital São Vicente de Paulo. Segue em estado grave no centro de terapia intensiva (CTI).
— Foi tudo muito rápido, muito pânico, muito medo. Levamos ele chorando até o hospital. Não consigo falar muito, minha dor é muito grande — diz o pai.
De acordo com a polícia, a rua onde o crime aconteceu é tranquila e não tem tráfego intenso. A investigação aponta que os disparos de arma de fogo não eram direcionados a família.
— Não consegui ver. Não deu pra ver nada e, infelizmente, aconteceu essa fatalidade — recorda o pai.
A família saiu para deixar o cunhado de Boeira em casa, no bairro vizinho, a cinco quadras de distância da residência. O jovem de 18 anos havia jantado na casa da irmã e ganhou uma carona no final da noite.
— Estávamos tranquilos, indo para casa, algo que é rotina, um trajeto que faço todos os dias. O bebê estava bem faceiro, alegre e sorridente. Parece que estamos vivendo um pesadelo do qual não consigo acordar. Até agora não entendi o que aconteceu com nosso filho. Ele está sedado, olhamos os exames, mas o cérebro dele está bem inchado. Só um milagre de Deus — descreve Boeira.
Estávamos tranquilos, indo para casa, algo que é rotina, um trajeto que faço todos os dias. O bebê estava bem faceiro, alegre e sorridente. Parece que estamos vivendo um pesadelo do qual não consigo acordar. Até agora não entendi o que aconteceu com nosso filho.
ROBSON BOEIRA PENA
Pai de Erick
Também no banco de trás do carro, a esposa de Boeira e o filho mais velho, um menino de quatro anos, não se feriram. Natural de Porto Alegre, Boeira é gesseiro, mora com a esposa, dona de casa, e os dois filhos pequenos. A família evangélica recorre à fé para manter as esperanças.
— Estou pedindo a Deus para me dar força, mas é muito difícil. Cada vez que vou lá ver ele, eu peço: "volta para o papai, volta para brincar com o mano e brincar com a mamãe" — afirma o pai.
Avô materno da criança, Altair Santos Dias, 52 anos, lembra que a família deixou seu filho caçula em casa, tio do Erick, e cinco minutos depois ligou para contar o que havia acontecido com o bebê:
— Recebi meu filho, eles nem desceram do carro, fizeram a volta e foram. Logo depois ligaram contando do ocorrido. Minha filha está arrasada, só chora. É uma família trabalhadora, não faz nada de errado com ninguém.
Investigação
O autor dos disparos foi identificado durante o final de semana pela Polícia Civil. O suspeito deve se apresentar, com advogado, nesta semana na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Passo Fundo. No momento em que Erick foi atingido, outros disparos foram dados pelo suspeito, sendo que um deles atingiu a cabeça do bebê.
A polícia confirma que a família não era alvo dos tiros, e que a criança só foi atingida pois o carro passou no momento dos disparos:
— O autor não queria acertar o carro e errou na execução. A criança estava de pé, no banco de trás, se mexendo. A família estava na esquina de casa, em uma rua calma do bairro, que não tem tráfego intenso — explica o delegado Fábio Idalgo Peres.
Além do homem já identificado, há suspeita de mais pessoas envolvidas na ação. A polícia busca imagens de câmeras de segurança que possam trazer mais detalhes de como a ação aconteceu. Durante esta semana, novas testemunhas serão ouvidas.