Após quase três meses de investigação, nove mulheres que relatam ter sido vítimas do mesmo terapeuta holístico preso em Canoas, na Região Metropolitana, foram identificadas e ouvidas pela polícia. Todas elas contam que durante as sessões, para as quais buscavam tratamento para problemas pessoais, acabaram sendo abusadas entre 2015 e maio deste ano. O inquérito, que investiga Rogério Pizzato, 35 anos, por violação sexual mediante fraude, deve ser remetido à Justiça na próxima terça-feira (21).
Pizzato era conhecido, inclusive nas redes sociais, como terapeuta holístico — função que ele relata exercer há oito anos. Realizava sessões individuais e cursos para grupos, nos quais a maior parte do público era feminino em Canoas, Porto Alegre e em outros Estados, como Minas Gerais e São Paulo. Em Canoas, mantinha um instituto que levava o nome dele. Em suas publicações nas redes sociais, divulgava suas técnicas, uma delas chamada apometria sistêmica, como forma de alcançar prosperidade e saúde.
No fim do mês de abril, dois casos de mulheres que relatavam ter sido abusadas chegaram à polícia e revelaram um outro lado dessa história. Uma delas foi ouvida por GaúchaZH e contou que frequentou as sessões do terapeuta por mais de um ano, até conseguir se afastar e comunicar o caso à polícia. Desde então, começou a se apurar como o terapeuta agia e foram ouvidas outras mulheres próximas dele, em busca de novas possíveis vítimas.
Dessa forma, acabaram sendo descobertas mais três pacientes, que confirmaram o mesmo que as primeiras. Todas relatavam ter buscado atendimento do terapeuta em busca de soluções para problemas, mas o tratamento teria evoluído para contatos sexuais. Após a prisão do terapeuta, em 29 de junho, outras quatro mulheres foram identificadas, num total de nove. São mulheres com idade entre 24 anos e 40 anos, que pagavam pelas sessões.
Segundo a delegada Clarissa Demartini, da Delegacia da Mulher de Canoas, as vítimas relatam que os atendimentos iniciavam, normalmente, com conversas. Mas, aos poucos, era sugerido que as mulheres começassem a terapia com contato sexual. Para isso, um dos argumentos usados pelo terapeuta era de que a mulher precisava curar o seu lado masculino. Para justificar a terapia, estava a promessa de que a energia sexual seria a mais poderosa e, por isso, traria prosperidade às mulheres e auxiliaria na solução de seus problemas.
— Elas nos referem que ele dizia que seria uma forma de ativar a energia. Que a energia sexual é a mais forte do ser humano. E que isso traria aquilo que as mulheres buscavam na terapia. Elas acreditavam que estavam em tratamento. A vítima não consente com a relação sexual, e sim com a terapia. Se tivesse sido questionada sobre a relação, elas não teriam dito sim — explica a delegada.
Os motivos que levaram as pacientes a buscarem a terapia eram os mais diversos. Uma característica relatada pelas vítimas era a influência em suas decisões. Algumas contaram que ele questionava a escolha dos companheiros e namorados. A polícia acredita que isso tudo favorecia a persuasão e o convencimento para encaminhar a mulher a esse tipo de terapia e para que elas seguissem nas consultas.
Chamou a atenção dos investigadores um caso no qual a paciente começou as sessões em fevereiro e seguiu até o início de maio. Mesmo nesse intervalo mais curto de tempo, a mulher relatou vários contatos sexuais. Um dos desafios, pelo contexto, segundo a delegada, é elas se reconhecerem como vítimas.
— Elas chegavam na terapia com necessidades, problemas íntimos, algumas inclusive com doença física. E uma pessoa depois se aproveita disso para praticar abusos. De certa forma, elas se sentem responsáveis por terem passado por isso, por terem consentido. Notamos o tamanho da dificuldade de reconhecer que aquilo que ele propôs não passava de uma enganação. A vítima nunca é responsável pela violência que sofre — afirma Clarissa.
Indiciamento
O inquérito será encaminhado à Justiça com indiciamento do terapeuta por violação sexual mediante fraude. O aparelho de telefone de Pizzato, apreendido pela polícia, ainda está sendo periciado. No entanto, a perícia deverá ser remetida após a conclusão do inquérito, de forma complementar. Durante o mandado de busca na residência do investigado, foram coletados comprovantes de pagamentos. Uma das vítimas teria pago cerca de R$ 25 mil pelas sessões — cada consulta custava em média R$ 120.
— Ele não nega os contatos sexuais que ele teve, de maneira alguma. Naquele momento, tínhamos identificado cinco vítimas e ele admitiu, mas foi justificando, no sentido de que era uma técnica terapêutica que ele utilizava — afirma a delegada.
Segundo a polícia, não havia registros anteriores contra o terapeuta. No dia 29 de junho, o advogado Hamilton Rodrigues de Oliveira, que inicialmente se apresentou como responsável pela defesa do terapeuta, informou que não estava mais no caso e que um novo profissional estava sendo escolhido pela família de Pizzato. Até o momento, GaúchaZH não conseguiu contato com familiares do investigado.
Como denunciar
- Delegacia da Mulher de Canoas - (051) 3462-6700
- Disque-Denúncia - (051) 98459-0259