Ao visitar o local em que Rafael Mateus Winques, 11 anos, foi morto, em Planalto, no norte do Estado, a chefe de Polícia, Nadine Anflor, e a diretora-geral do Instituto-Geral de Perícias (IGP), Heloísa Helena Kuser, defiram detalhes de como será a reconstituição do crime, tecnicamente chamada de reprodução simulada dos fatos. A simulação deve ocorrer nos próximos 15 dias — ainda não há uma data marcada.
Os trabalhos serão feitos durante a madrugada, em horário aproximado que o menino foi assassinado. Até as 22h do dia 14 de maio, Rafael teve comunicação com os amigos por telefone.
O garoto morava com a mãe, Alexandra Dougokenski, 32 anos, que confessou participação no crime, e com o irmão de 17 anos. A polícia ainda não descarta a participação de outras pessoas no crime.
O menino desapareceu no dia 15 de maio e 10 dias depois a mãe admitiu ter exagerado na dosagem de medicamento mas alega que não teve a intenção de matar o filho. O laudo do IGP aponta que Rafael foi morto por asfixia.
— São vários fatores que interferem, como a luminosidade, a lua, a questão do frio. A mãe vai participar porque ela é uma peça fundamental. Trabalhamos com a hipótese do irmão participar também. Eram três pessoas naquela noite: a vítima e duas pessoas dentro da casa — explica a chefe de Polícia.
De acordo com Nadine, nos próximos sete dias, o trabalho será concentrado exclusivamente em executar a reconstituição. A divulgação de informações sobre o caso ficará a cargo da chefia de polícia:
— Em uma semana, a polícia e o IGP irão se preparar para a reprodução. Queremos dar tempo para os colegas analisarem o que falta. O inquérito está bem robusto. E aí, nos próximos 15 dias, já com resultado dos laudos do IGP, vamos voltar a Planalto, em uma madrugada, quando o clima estiver mais parecido com o daquela noite, para reproduzir os fatos.
Outra decisão tomada nesta terça-feira, em reunião com os quatro delegados responsáveis pelo caso, é de que "não há hipótese", nas palavras de Nadine, de não utilizar o prazo de 30 dias para concluir o inquérito. Até 25 de maio, a Polícia Civil investigava o caso como desaparecimento, a partir da confissão da mãe, foi aberto um inquérito para apurar o homicídio.
— Vamos ouvir quem já ouvimos quantas vezes for necessário. Se tiver que ouvir a mãe depois da reprodução, vamos ouvir de novo. A população quer uma resposta para amanhã, mas na reunião com a equipe, assegurei que vamos dar essas respostas mas elas não precisam ser precipitadas por pressão. A técnica policial diz que temos de dar tempo ao tempo. A polícia está trabalhando há exatamente uma semana, temos um quebra-cabeça quase formado — disse.
Os investigadores também trabalham para avaliar os pontos divergentes entre os relatos da mãe e do irmão de Rafael. O adolescente afirmou na escuta, realizada na última sexta-feira (29), que estava dormindo, mas alguns pontos apresentam divergência com o relato da mãe, segundo a investigação. A polícia não dá detalhes dos pontos contraditórios. O relatório da escuta especializada foi recebido na segunda-feira (1º):
— Há contradições e estamos analisando ponto por ponto. Temos que analisar toda a fala dela, que é extensa, para poder dar um norte a estas divergências e discrepâncias. Estamos avaliando a fala dela com a fala de diversas outras pessoas que foram ouvidas no inquérito. É uma analise geral de todos — afirma o delegado Ercílio Carletti.
Integrantes da administração superior do Ministério Público do Estado do RS também estiveram em Planalto nesta terça-feira. Além do subprocurador-geral institucional, Marcelo Dornelles, integram o grupo o coordenador do Núcleo do Inteligência do MP, Marcelo Tubino, e o coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal, Luciano Vaccaro.
Os três se reuniram com a promotora do caso, Michele Kufner, e visitaram o local onde o corpo do menino foi encontrado. O objetivo da visita foi apoiar o trabalho da promotora e disponibilizar a "expertise" dos profissionais para o caso:
— Foi importante vir aqui e ver de perto. Nivelamos informações com a Polícia Civil e colocamos nossas preocupações. A impressão que temos é que as coisas estão se encaminhando bem. O que será decisivo são as perícias que devem ficar prontas nos próximos sete dias, que é o vai nos dar um norte. Este material deve confirmar ou ampliar possibilidades — afirma Dornelles.
Paralelo ao trabalho da polícia, a direção do Instituto Estadual de Educação Pedro Vitório, onde Rafael estudava, se reuniu na manhã desta terça-feira com representantes da prefeitura e da 20º Coordenadoria Regional de Educação (CRE) para traçar estratégias de acolhimento aos alunos do 6º ano quando houver o retorno para a sala de aula.
— Fizemos uma primeira visita para nos inteirarmos da situação. Vamos conversar muito com os professores e fortalecer o psicológicos deles. Estamos todos lutando pela vida no meio de uma pandemia e de repente acontece uma tragédia dessas que tira a vida de uma criança. O momento é de fortalecer a escola — explica o titular da 20º CRE, Marcos Hivan.
Novas reuniões irão detalhar ações pedagógicas. A Secretaria Municipal de Saúde de Planalto ofereceu apoio psicológico aos professores e estudantes.