Após ouvir o irmão de Rafael Mateus Winques, 11 anos, a Polícia Civil agora está comparando a versão apresentada pela mãe Alexandra Dougokenski, 32 anos, com a do filho de 17 anos. A mulher confessou na semana passada ter matado o menino no dia 15 de maio e escondido o corpo, mas alega que não teve intenção e que a morte aconteceu por ingestão de medicamentos. O adolescente afirmou na escuta, realizada na última sexta-feira (29), que estava dormindo, mas alguns pontos apresentam divergência com o relato da mãe, segundo a investigação. O relatório da escuta especializada foi recebido nesta segunda-feira (1º).
O delegado Ercílio Carletti, que conduz a investigação da morte de Rafael, confirmou que neste momento os policiais estão comparando o relatório da escuta — entregue no fim desta manhã — com a confissão da mulher. O delegado confirmou que há pontos divergentes nos relatos, mas evitou dar detalhes.
— Existem intercorrências, pontos divergentes, que estão sendo analisados. É um material muito extenso, que ainda estamos verificando. O profissional que fez a escuta faz esse relatório, que chegou para nós há pouco — afirmou Carletti.
Alexandra foi ouvida novamente no sábado em Porto Alegre, no Palácio da Polícia. Por cerca de sete horas, ela detalhou à polícia como, em sua versão, aconteceu o homicídio. A mãe diz que o garoto estava agitado e não queria dormir. E que, por isso, ela deu a ele dois comprimidos de Diazepam — que teriam provocado a morte. A perícia inicial apontou, no entanto, que o menino foi morto por estrangulamento.
— Existem contradições entre as versões apresentadas que foram abordadas no interrogatório, mas ainda não foram esclarecidas, por isso não posso detalhar ainda — disse o delegado Eibert Moreita Neto, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que também participa da investigação em Planalto desde a semana passada.
O diretor do Departamento de Polícia do Interior (DPI), delegado Joerberth Nunes, relatou que o adolescente confirmou que estava dormindo na noite do crime. Alexandra relata que o filho adolescente não presenciou nada. E que ela retirou o corpo de Rafael sozinha de dentro de casa. O cadáver foi localizado 10 dias depois, dentro de uma caixa de papelão, na garagem da casa vizinha.
— Ele só ratificou o que já havia dito. Que estava dormindo e não viu nada. Só ouviu alguns barulhos. Não sabe nada do fato. Mas estamos cruzando com o outro depoimento — afirmou Nunes, que nesta terça-feira viajará para Planalto, assim como a chefe da Polícia Civil, delegada Nadine Anflor.
A escuta especializada do adolescente foi realizada por uma policial de Passo Fundo, que possui treinamento, por se tratar de um menor de 18 anos. O procedimento ocorreu em uma sala da Delegacia de Polícia de Planalto, adaptada para isso. Após ser ouvido, o jovem foi levado pelo Conselho Tutelar de volta para a casa de familiares, onde permanece em outro município.
— Esse procedimento especial tem como objetivo não revitimizar o adolescente, que já passou por uma situação traumática. Por isso, tentamos manter sigilo — afirma o delegado Carletti.
A Polícia Civil ainda pedirá a reconstituição do crime, tecnicamente chamada de reprodução simulada dos fatos. Esse pedido, no entanto, só será realizado após o recebimento dos laudos das outras perícias solicitadas.
O que diz a defesa
Segundo o advogado Jean Severo, Alexandra relata que o filho adolescente estava dormindo quando aconteceu a morte do irmão.
— Um dos motivos que ela tirou o corpo de lá e não revelou tudo foi porque ela ficou com vergonha (do filho adolescente). É um guri muito correto, trabalhador. Foi isso. Ele não sabia de nada, estava dormindo — afirmou o advogado.