A juíza Valéria Willhelm, da 1ª Vara Criminal de Gravataí, marcou para o dia 30 deste mês a primeira audiência do caso do angolano ferido e da costureira morta durante perseguição realizada pela Brigada Militar (BM) no mês passado. Devido ao distanciamento social, o procedimento será por videoconferência. O objetivo é que Gilberto Casta Almeida, 26 anos, participe como testemunha, e que um dos réus, que está no sistema prisional, seja interrogado.
A Justiça quer começar a esclarecer os fatos apurados pela polícia. Segundo a investigação, o angolano e a costureira Dorildes Laurindo, 56 anos, voltavam do litoral dia 17 de maio em um veículo que também era usado para transporte por aplicativo e dirigido pelo réu Luiz Carlos Pail Júnior, 31 anos. Ele, que usou nome falso para se cadastrar em uma plataforma e não realizava a viagem pelo app, estava na condição de foragido.
No trajeto, o veículo começou a ser perseguido por uma viatura da BM, e houve 35 disparos de arma de fogo. O motorista, que será ouvido pelo Poder Judiciário como réu no dia 30 deste mês, foi preso após estacionar o carro.
O angolano e a costureira foram baleados. Ela, em estado grave, morreu no hospital dias depois, e Almeida, que também foi preso, acabou sendo solto 12 dias depois. Na ocasião, foi comprovada sua inocência.
Durante a investigação, os PMs que participaram do fato alegaram que atiraram porque foram recebidos a tiros durante a abordagem, e que o angolano foi preso porque teria ajudado a atirar contra eles. O inquérito policial, porém, concluiu que Almeida não tinha arma e que não revidou à abordagem, além de apontar que houve imprudência por parte dos brigadianos.
GaúchaZH apurou que um dos agentes envolvidos foi condenado à prisão por agressão a um adolescente e respondia a outros dois processos.
No dia seguinte ao fato, já no início deste mês, a investigação militar saiu do batalhão de Gravataí e passou para a Corregedoria da corporação. Na semana passada, a perícia sugeriu que o motorista Pail não atirou contra os três PMs que participaram da perseguição.
Relembre o caso
- Gilberto Casta Almeida e Dorildes Laurindo foram ao litoral gaúcho usando o aplicativo Blablacar. O veículo era conduzido por Luiz Carlos Pail Júnior, foragido, que usava nome falso para dirigir pela plataforma.
- Na volta, em 17 de maio, com corrida fora do app, o motorista passou a fugir da polícia. Houve perseguição até Gravataí. Os PMs atiraram 35 vezes contra o carro, segundo a BM. Os agentes alegaram que foram recebidos a tiros.
- Luiz Carlos foi preso. Gilberto foi baleado e também detido, sob alegação de que teria ajudado a atirar contra a polícia. Ferida, Dorildes foi socorrida para um hospital em estado gravíssimo.
- Dez dias depois, em 27 de maio, a Polícia Civil conclui a investigação sobre o caso dizendo que Gilberto não tinha arma e não revidou à abordagem. A Polícia Civil ainda disse que havia indícios de que os PMs agiram com imprudência. A BM abriu uma investigação contra seus agentes.
- Em 29 de maio, após ficar 12 dias preso em Canoas, Gilberto recebe o alvará de soltura e deixa a cadeia.
- Em 2 de junho, Dorildes não resiste aos ferimentos e morre no hospital.
- Em 4 de junho, GaúchaZH revela que um dos policiais envolvidos na perseguição estava condenado à prisão por agressão a um adolescente e respondia a outros dois processos. A informação não havia sido confirmada pela BM, apesar dos questionamentos. No dia seguinte, a investigação sai do batalhão de Gravataí e passa para a Corregedoria-Geral, em Porto Alegre.
- Justiça marca para o dia 30 de junho a primeira audiência sobre o caso.
Contrapontos
Em nota, a BlaBlaCar disse que "lamenta profundamente o ocorrido e reforça o compromisso com a criação de um ambiente de viagem seguro e confiável para os mais de 5 milhões de usuários da plataforma no país".
Em nota, a BM informou:
"A Brigada Militar aguarda conclusão do IPM, após o conjunto de todas as provas para se manifestar".
A reportagem tenta contato com a defesa dos policiais — os três estão afastados de suas funções.