Canais digitais têm sido aliados na denúncia de violência contra mulher no período de distanciamento social provocado pela pandemia de coronavírus. A Polícia Civil oferece um número de WhatsApp (51) 98444-0606 onde não apenas vítimas podem se manifestar, mas também amigos, familiares e vizinhos que estejam testemunhando agressões em todo o RS. Pelo aplicativo é possível enviar vídeos, áudios e mensagens de texto. As mensagens são recebidos pelo gabinete de inteligência da polícia, na Capital, e encaminhadas para as delegacias que investigarão o material.
— O telefone é 51 mas se vier alguma denúncia de Uruguaiana, é linha direta. O gabinete de inteligência envia imediatamente para lá. Não é como uma ocorrência, é mais ágil. Fizemos algo para realmente agilizar — explica a chefe da Polícia Civil, delegada Nadine Anflor.
Os feminicídios tiveram crescimento de 66% em abril de 2020, comparado com o mesmo período de 2019. A redução deste indicador depende do aumento de denúncias — e não só por parte das vítimas, ressalta Nadine. Desde o início da pandemia, familiares e vizinhos têm utilizado o WhatsApp para fazer denúncias, um meio mais discreto e que evita a ida à delegacia. A diretora da Divisão de Contrainteligência Policial, do gabinete de Inteligência e Assuntos Estratégicos, delegada Simone Viana Chaves Moreira, explica que há casos recentes em que a própria vítima faz o relato, inclusive com envio de fotos:
— Isso demonstra uma conscientização coletiva de que é um crime. Não é normal. As pessoas devem interferir nisso. E é uma denúncia muito válida, é passada adiante de forma imediata.
A partir do primeiro contato pelo aplicativo, o policial consegue orientar a vítima ou quem estiver testemunhando a agressão, para em seguida encaminhar o material à investigação na delegacia responsável. Simone reforça que o WhatsApp não deve ser usado em caso de emergências. Para estas situações, deve-se chamar a Brigada Militar, pelo 190, ou a Polícia Civil, pelo 197.
— Ao tornar esse número mais acessível, damos oportunidade para o familiar que quer denunciar, mas está constrangido de ir até uma DP ou tem medo que o agressor ou a vítima se volte contra ele. Muitas vezes, a mulher que é agredida não consegue fazer nada naquele momento, por isso, é importante ter essa rede de proteção, de pessoas que possam colaborar, que sabem que ela sofre.
Na avaliação de Simone, o canal, que também aceita qualquer outra denúncia, aumenta a acessibilidade e oferece outras formas de a população chegar à Polícia Civil:
— Com o isolamento, as pessoas estão denunciando mais violência doméstica pelo WhatsApp, mas também recebemos denúncias de tráfico de drogas, por exemplo. É um canal discreto, de denúncia anônima e que traz informações relevantes para investigações. O policial que atende é orientado a solicitar autorização para repassar o telefone do informante à delegacia, caso seja necessário — afirma.
"Tem salvado vidas", afirma delegada
A titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Porto Alegre, Tatiana Bastos, ressalta que neste período, por estarem em isolamento com seus agressores, as mulheres estão mais vulneráveis. Por isso, reforça a importância de vizinhos utilizarem o aplicativo para revelar a violência. A informação do crime precisa chegar à Polícia Civil:
— Todos do entorno dessa mulher devem colaborar. Isso tem salvado vidas. Geralmente em comunidades mais populosas ou em condomínios, com todo mundo em casa, é possível ouvir o barulho da violência, objetos quebrando, a violência acontecendo. É extremamente importante que todos assumam esse compromisso. E mesmo que a BM não consiga ir na hora, para interferir naquele momento, é importante que isso chegue até nós, porque após o fato é que começa nosso trabalho.
Todos do entorno dessa mulher devem colaborar. Isso tem salvado vidas. Geralmente em comunidades mais populosas ou em condomínios, com todo mundo em casa, é possível ouvir o barulho da violência, objetos quebrando, a violência acontecendo. É extremamente importante que todos assumam esse compromisso.
TATIANA BASTOS
Delegada
O contato da delegacia com a vítima é feito de forma que não a exponha a mais riscos. E se necessário, medidas protetivas estão sendo solicitadas por telefone e encaminhadas ao Judiciário por e-mail.
— É uma busca ativa, não dá para ficar parado. A gente entra em contato com o meio que esta mulher dispuser: por áudio, telefone, vídeo. Ou chegamos de forma discreta. Temos inúmeras situações em que estas denúncias já salvaram mulheres. Há duas semanas pegamos uma que estava em cárcere privado após ser agredida em Porto Alegre — relata Tatiana.
COMO USAR
- Em caso de denúncias, envie texto, fotos ou vídeos para WhatsApp (51) 98444-0606
- O canal não deve ser usados em caso de emergência. Para estas situações, ligue para o 190 ou 197.
- Ao enviar a denúncia, receberá uma mensagem automática com algumas orientações de como fazer a denúncia.
- Policial irá responder sua demanda.
- A denúncia é anônima, caso seja necessário ficar com seu contato, o policial pedirá autorização.